sábado, abril 05, 2014

E agora, o que fazer?

JN online, 3 abril 2014
A notícia apareceu nestes dias em vários meios de comunicação social, mas foi dada na quarta-feira, numa reunião realizada na Casa do Bugio: a Câmara de Valongo diz que a candidatura da Bugiada e Mouriscada a património da UNESCO apenas avançará em 2015. Porquê? Porque, segundo a mesma entidade, este ano, a Comissão Nacional da UNESCO terá dado prioridade a candidaturas de património imaterial em risco, o que obviamente não se verifica com a festa de Sobrado.
Esta notícia surgiu depois de o presidente da Câmara ter anunciado aos quatro ventos que a candidatura iria ser antecipada relativamente ao prazo oficial e culminou um período que primou pela ausência de informação. Estes factos não podiam deixar a Casa do Bugio e muitos sobradenses algo frustrados, porque não lhes tinha sido dito que havia estas dificuldades e constrangimentos.
Ao contrário do que estão a dizer alguns meios de comunicação social, não é à Câmara que compete decidir se a candidatura vai ser apresentada amanhã, daqui a seis meses ou daqui a dois anos. Essa decisão compete ao consórcio, digamos assim, que se constituiu para avançar com este processo. As decisões sobre a candidatura, por muito acertadas e razoáveis que se apresentem, nunca poderiam ser tomadas apenas por uma das partes, antes devem ser presentes ao consórcio e tomadas em conjunto.
Na reunião da passada quarta-feira, perante a direção da Casa do Bugio e vários vereadores de diferentes partidos, o presidente José Manuel Ribeiro comprometeu-se a manter doravante todas as partes devidamente informadas. E foi marcada uma nova reunião para o princípio de Maio.
Entendo que, nessa reunião, devem ser tomadas algumas decisões importantes, para assegurar uma melhoria do funcionamento do processo de candidatura.
Salvaguardando que aquilo que exprimo a seguir apenas me compromete a mim, deixo aqui algumas ideias e sugestões para serem consideradas oportunamente.
Em primeiro lugar, se ao nível do Município se pretende consagrar a Bugiada como uma prioridade, não apenas por causa da candidatura, mas para fazer dela verdadeiramente um bem patrimonial concelhio, deve-se encontrar formas de envolver ativamente todas as entidades e setores que possam concorrer para a valorização da festa - estruturas e associações culturais, entidades políticas, empresas e associações empresariais, as instituições educativas e os diferentes agrupamentos de escolas, as igrejas, movimentos de jovens, etc.
É fundamental apostar em que todos os munícipes - a começar pelos mais jovens - conheçam a Festa de S. João de Sobrado e as outras tradições relevantes do património cultural do concelho. Isso poderá ser conseguido através da criação de um programa multidisciplinar que envolva de forma direta e ativa nomeadamente os diferentes serviços relevantes do Município - educação, cultura, juventude, turismo...
Num plano mais operacional, julgo ser vantajoso que a candidatura passe a ser conduzida por uma Comissão Executiva constituída pelas entidades diretamente envolvidas no processo, com objetivos e metas previamente definidos, com reuniões regulares e um calendário de actividades rigorosamente estabelecido. O Dr. Paulo Lima, que é um perito cujo trabalho é imprescindível, deverá articular a sua atividade com esta Comissão Executiva.
Para dar expressão e visibilidade ao envolvimento das instituições do âmbito do Município, a que me referi atrás, proponho que seja criado um Conselho da candidatura, com o papel de acompanhar de perto, dar sugestões, divulgar e, eventualmente, promover iniciativas e de articular esforços.
Parece-me igualmente fazer sentido a criação de uma Comissão de Honra e de uma Comissão Científica da Candidatura da Bugiada e Mouriscada a património da UNESCO. A primeira reuniria personalidades de distintos setores locais, regionais e nacionais e de prestígio. A segunda seria constituída por académicos, cientistas sociais e estudiosos da festa e do património, os quais teriam o papel de acompanhar, aconselhar e apoiar os passos da candidatura.
Dito isto, julgo ser necessário evitar a todo o custo que este processo de candidatura se converta em bandeira de luta política. O que se tem passado até agora revela que esta preocupação é partilhada pelas forças políticas representadas nos órgãos municipais. Isto exige que a informação circule e que todos se sintam empenhados em promover a Festa e, por essa via, a valorizar o património do Concelho.
Por fim, entendo que estes percalços e dificuldades, não de todo inesperados, podem constituir uma excelente oportunidade para melhorar as formas de comunicação e de coordenação entre todas as partes e para reforçar e dar outro horizonte à candidatura em que todos estamos apostados.


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