terça-feira, dezembro 27, 2005

Arremedilhos e temperilhos

José da Silva Pinto faleceu ainda na década de 60 e quem conta o que se segue é o seu filho António. Noutros tempos, José punha em campo, por esta quadra, uma sabedoria antiga sobre o modo de lidar com o tempo. Eram os Arremedilhos. Começavam a 13 de Dezembro, festa de Santa Luzia (julgo que a padroeira dos olhos). E durante 12 dias consecutivos, que terminavam na Consoada de Natal, a cada dia que passava correspondia um mês do ano seguinte: conforme o tempo que dominasse nesse dia, assim seria o tempo que predominaria no correspondente mês.
A contra-prova ou confirmação repetia-se nos 12 primeiros dias de Janeiro: eram os Temperilhos (pronúncia: Temp'rilhos"). Aqueles que, como José, estavam atentos e registavam (na memória) tais antevisões eram, depois, consultados. Conta António:
"Por meados de Janeiro, apareciam-lhe um e outro no campo e perguntavam: 'Então, Zé, que marcam os Arremedilhos?"
Doze dias que antecediam, na cultura popular, as doze noites em que o mundo se invertia, em que os bobos podiam ser reis, tempos de festas de rapazes, entregues a si próprios, como em diversas terras transmontanas. Doze dias que antecediam as doze badaladas da meia noite da missa do galo ou das doze badaladas da mudança do ano. Tempos solsticiais, de transição, de recomeço. Tempos de reverso do fulgor do sol. Tempos, como o solstício de Junho, de folgas e folguedos, como no S. João de Sobrado.
(Ler, sobre este tema, "Os Filhos de Cronos").

1 comentário:

zazie disse...

que curiosa a terminologia! estas trocas ainda são o melhor da blogosfera

bjs