
Será correcto interromper um ponto alto da festa, por razões que, ainda que a ela ligadas, são estranhas à 'solenidade' do momento?
O assunto deste apontamento prende-se com o que se passou na Prisão do Velho deste ano e que deveria fazer pensar todos os sobradenses que apreciam a festa de S. João. Não há memória de algo semelhante ter ocorrido no passado. Recordemos:
Como é hábito, quando Mourisqueiros e Bugios subiram aos respectivos castelos, um locutor pegou no microfone e começou a relatar a lenda que está por detrás da festa, através da instalação sonora instalada no Passal.
Até aqui, nada de especial. A dada altura, os 'canhões' começaram a troar de um lado e do outro, enquanto o cavaleiro 'corria as embaixadas'. Quando se acabou a pólvora no palanque dos Bugios, os Mouros atacaram e, à terceira tentativa, o Reimoeiro penetrou no reduto cristão, de ar duro e espada em riste. Como é de praxe, arrancou as bandeiras adversárias e passou-as aos seus guias.

Para quem sabia que, na manhã do próprio dia de S. João, tinha ido a enterrar um prestigiado bugio sobradense - o Lindoro da Ribeira - não era difícil imaginar que a pretendida interrupção se destinava a homenageá-lo (isto apesar de já lhe ter sido prestada homenagem por Bugios e Mourisqueiros, no começo do 'jantar', a meio da manhã).
Ouviram-se pessoas a protestar por considerarem que aquele apelo era ali deslocado e até 'obsceno'. Alguém que me comentou esse caso comparou a situação com um desafio de futebol, em que, no momento em que um avançado corresse isolado para a baliza adversária, o árbitro tentasse parar o jogo para homenagear um jogador que tivesse falecido. É uma comparação discutível, mas que levanta um problema importante: num momento que poderíamos considerar sagrado, será legítimo alguém de 'fora da representação' ousar impor a suspensão do acto, mesmo em nome de um motivo nobre?
Deixo o assunto à consideração dos leitores.