domingo, junho 21, 2009

Gabriel, os pinheiros dos castelos e as bagadas do Velho


Desde ontem que já se encontram levantados, no Passal, os dois castelos que servirão, na quarta-feira, de palco das lutas entre Mourisqueiros e Bugios. Como é de tradição, são construídos no sábado anterior à festa e véspera do derradeiro ensaio.
Acontece que os castelos deste ano têm uma pequena história por detrás, que vale a pena ser contada para se aquilatar da importância que esta festa pode revestir para gente de todas as idades.
O protagonista desta história é o Gabriel. Traquinas como ele não há. Este ano vai de Bugio. É, portanto, um ano grande para ele. Melhor do que isso, era mesmo ir de Velho. Esse é que era o seu sonho. E talvez não desse mau Velho, a avaliar pelos dotes que revela, quando, sozinho ou com colegas, se põe a dançar a Bugiada. Mas este ano jogou uma cartada forte. Coberto pela retaguarda familiar, fez, digamos assim, um negócio: ele [leia-se: os pais] daria os pinheiros para os palanques e, em contrapartida, deixá-lo-iam ir limpar as bagadas* ao Velho, na altura da Prisão. Negócio fechado, a primeira parte, a dele, está cumprida: os pinheiros aí estão a dar suporte aos castelos. No dia 24, cumpre-se a segunda parte: uma vez o Velho preso, descidos que forem os Bugios, será a vez de Gabriel subir e abraçar o chefe da tribo, puxando do lenço branco e suscitando uma lágrima furtiva em alguns circunstantes.
Aspecto importante desta história: Gabriel ainda não foi à tropa. Tropa? Qual quê? Como assim, se o Gabriel tem apenas seis anos? Com tal idade pode dizer-se que é obra.


(Fotos: Fábia Pinto)
(*Bagadas - Palavra portuguesa, ainda de uso entre os sobradenses mais antigos, para significar "lágrimas")

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