quinta-feira, dezembro 22, 2011

Rodney Gallop (1) - A Dança dos Mourisqueiros em 1932

Setenta e cinco anos depois de Rodney Gallup ter publicado a descrição antiga mais completa sobre a Festa de S. João de Sobrado, inicia-se aqui a publicação da parte respeitante a esta tradição, que vem no seu livro "Portugal, a Book of Folk Ways". Depois de apresentar danças mouriscas, danças de espadas e, em geral, danças rituais de diversas partes de Portugal, incluindo a Dança dos Pauliteiros, Rodney Gallop inicia a apresentação da Festa de S. João de Sobrado. Desta forma:
"Mais marcial na aparência é a extraordinária performance, que, sobre o nome promissor de Mouriscada, sobrevive ainda em Sobrado, perto de Valongo, e que mantém dois dos elementos que já desapareceram da procissão de S. João em Braga. Chegamos à aldeia de Sobrado pelas 6 horas da tarde do dia de S. João de 1932. Um largo relvado descia ligeiramente da estrada principal em direcção à igreja branca que se destacava de uma colina arborizada ao fundo, fulgurando sob os oblíquos raios de sol. Algumas tendas alinhavam-se a um canto, dominando uma atmosfera geral de rústica folia. Caminhando na direcção da igreja demo-nos conta de que a performance já tinha começado. Com espadas em riste, no punho das quais lenços brancos haviam sido atados, os Mouriscos estavam a dançar no quinteiro da casa do padre. Usavam fatos de algodão de cor clara com botões dourados e cintos vermelhos e faixas. Traziam na cabeça barretinas de cartão de cerca de 30 centímetros de altura, das quais pendiam pequenos espelhos, galões dourados e encimado por plumas vermelhas. Organizados em duas linhas compridas, de rostos graves e sérios, dançavam nos seus lugares, enquanto o seu rei, que se distinguia pelo uso de correntes douradas e dragonas, saltava de uma ponta para a outra da linha, dançando à vez com cada um dos pares dos seus homens. Uma figura cómica vestida de fato-macaco azul e com uma máscara feita de cortiça seguia-o pelo lado de fora imitando todos e cada um dos seus movimentos. A certa altura as duas linhas [de Mourisqueiros] desfazem-se, enrolam-se uma na outra como em espiral e disparam em direcções opostas. A única música consistia no monótono rufar do tambor que combinava com o silêncio e ar decidido dos dançarinos, a emprestar ao seu desempenho uma qualidade estranhamente sinistra, como que a pressagiar uma explosão de selvageria primitiva.(...)".
Rodney Gallop (1936/1961), Portugal a Book of Folk Ways. Cambridge University Press, pp. 171-172 [Continua]

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