quinta-feira, maio 30, 2013

Conferência de Sobrado sobre património imaterial: cinco notas



Já lá vai quase uma semana sobre um acontecimento que teve Sobrado por palco e que, com aquela dimensão, só a Festa de S. João poderia motivar. Estou a referir-me à Conferência sobre Património Imaterial. Foi uma oportunidade de alargar o debate que já tinha começado na sessão de esclarecimento realizada no mês passado no Centro Cultural de Sobrado e que também foi bastante participado.
Ainda que seja parte interessada, não queria deixar de anotar aqui alguns aspetos surgidos nesse evento e que me parecem relevantes.
  1. A ideia de um Museu ou Núcleo Museológico relacionado com a Festa da Bugiada e Mouriscada e, mais amplamente com a Rede da Máscara Ibérica e com as tradições festivas populares, a instalar em Sobrado, é um projeto que merece consenso, incluindo aqui o consenso político, quer de quem governa o Município e a Junta de Freguesia, quer da oposição.  Neste sentido, reveste-se de particular significado a intenção anunciada no final da conferência pelo Presidente da Câmara de Valongo de libertar as instalações do Centro Cultural para esse fim, mal estejam concluídas as obras que vão ser efetuadas no edifício da antiga Casa do Povo. Convém, no entanto, pensar nas instalações mas também no projeto de museu e nas formas de o implementar, manter e dinamizar.
  2. Um ponto que é decisivo para uma eventual candidatura à lista do património cultural imaterial da UNESCO é o apoio das autoridades portuguesas. Nesse sentido, o comprometimento claro, oficial e público do secretário de Estado da Cultura com essa candidatura deve ser registado. Veremos que passos dará este governante para que esse compromisso seja claramente assumido também pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, que pode ter em tudo isto um papel importante.

  3. A inauguração e abertura do site da Festa na Internet é um marco muito importante. Não só porque e um veículo de informação e divulgação, sobretudo quando estiver disponibilizado noutras línguas que não apenas o Português, mas também porque se propõe ser um espaço aberto aos contributos da comunidade. Os relatos, as ideias, as imagens - todos podem contribuir com eles e tudo isso enriquecerá o património do site.

  4. O formato da conferência não permitiu alargar o debate para além dos oradores convidados. Como é evidente, a festa junta os sobradenses, mas a ideia da candidatura suscita, naturalmente, sentimentos diversos. É necessário criar espaços e oportunidades em que outras vozes se exprimam, se possam esclarecer dúvidas e receios, ouvir todos os contributos e assegurar sempre que a festa preserve a sua vida e dinâmica própria, conduzida pelos sobradenses, especialmente aqueles que mais direta e indiretamente estão envolvidos na festa.

  5. Um ponto (last but not the least) que me apraz especialmente salientar é o que se refere ao papel das escolas da vila e do agrupamento. Fiquei sensibilizado com o facto de, entre os participantes, haver um bom número de professoras e professores. Quer em função de reptos lançados da mesa, quer de conversas que foram acontecendo nos intervalos e no final, ficou a ideia de que a festa pode vir de alguma forma a inscrever-se nas atividades futuras de algumas escolas e eventualmente do próprio agrupamento. Algumas já o fazem há muito, mas é possível dar a essa dimensão um âmbito mais largo. E as potencialidades a explorar são grandes, disso não tenho dúvida. Assim como a gratificação que um tal projeto pode trazer, para os alunos, para os docentes e para a comunidade local.
[Créditos da imagem: Mouriscada, provavelmente nos inícios do séc.XX. Foto recuperada e divulgada pelo Arquivo Municipal de Valongo, a partir de um negativo em suporte de vidro, que foi propriedade da casa do 2º Visconde Paço, de Campo]

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