domingo, junho 26, 2005

Textos publicados sobre a Festa de S. João de Sobrado

Dia de S. João celebrado com Festa da Bugiada

A vila de Sobrado, em Valongo, é hoje palco da tradicional Festa da Bugiada, considerada como uma das mais importantes tradições populares portuguesas.Esta comemoração resulta de uma lenda que foi transmitida de geração em geração, em que uma imagem milagrosa de S. João deu origem a uma luta entre mouros e cristãos, designados localmente por mourisqueiros e bugios, respectivamente.Tendo como mote esta história, a vila de Sobrado relembra todos os anos, ao longo do dia de S. João, esta tradição que mobiliza grande parte da população local.As festividades iniciam-se logo pelas 8 horas com a concentração e danças dos intervenientes da festa, na casa do velho da bugiada e do reimoeiro. Mas depois de uma manhã de danças, a hora do almoço é acompanhada por alguns sketches de crítica à vida local e nacional.A folia continua e às 15 horas um novo momento de animação se inicia com a chamada "Cobrança de Direitos" e, posteriormente, o ritual da "Lavra da Praça".Finalmente, às 17 horas, é feito aquele que é considerado um dos momentos mais espectaculares, uma cena de teatro popular designada "Dança do Cego" ou "Sapateirada".Já a tarde se encaminha para o fim quando é atingido o ponto alto da comemoração, desencadeando-se a guerra das duas formações. E é assim, com esta manifestação espontânea pelas ruas da vila, que a tradição é recordada por todos e mantém viva a lenda.
Cristina Riboira Jornal de Notícias, 24.6.2005

Batalha pela posse do santo

Mais de 700 populares participaram este ano na festa da Bugiada, inspirada numa lenda antiga. Ritual popular, ilustrado pela luta entre mourisqueiros e bugios, durou o dia todo.

"Não há nenhuma festa de S. João como esta", assegura Paula Ferreira, que reside em Valongo há 12 anos, e aprendeu a valorizar a Festa da Bugiada que, anualmente, é celebrada na vila de Sobrado, no dia 24, mobilizando a esmagadora maioria da população local.
Este ano, serão mais de 700 as pessoas que fizeram questão de integrar, como actores e foliões, o evento. O público existe em número maior multiplica-se e espalha-se, efusivo, por todos os lugares da vila.
Longe de nutrir pelo cumprimento do ritual, ilustrado pela batalha dos Mourisqueiros contra os Bugios, a mesma "devoção" que o marido, Joaquim Lobo, Paula destaca o que mais a impressiona "Isto é a verdadeira festa do povo. Todos os anos tem mais gente. E a juventude que, geralmente não adere às tradições, é a primeira a não deixar morrer a festa".
Tiago, 13 anos, é a prova. Mascarado e vestido com o rigor do veludo colorido, castanholas na mão, prepara-se para combater os mouros. "Andamos aqui, porque eles roubaram o S. João e querem prender o rei, que está inocente. Nós temos que o defender e recuperar o santo, pedindo-lhe que faça um milagre", conta, fazendo referência à lenda, sobre a qual não existe qualquer documento escrito, mas que foi passando de geração em geração, e dá o mote à festa.
"A Bugiada existe desde que eu me conheço", sublinha, eufórico, Amaro Leal, 68 anos, que noutros tempos também integrou "a luta das nações", mas hoje prefere ser, apenas, espectador. "Estar aqui, também é uma forma de participar".
Além da guerra dos mouros contra os cristãos, três outros momentos marcam a festa o teatro que traduz uma sátira à vida local, o ritual inverso da lavra da praça, a dança do cego.

Verdadeiro milagre de S. João
De cinco em cinco anos, faz questão de ser o juiz da festa da Bugiada, patrocinando-a. Generoso Ferreira das Neves, 76 anos, natural de Valongo emigrado no Brasil, regressa a casa a cada S. João para lhe agradecer o milagre concedido em 1992. "O meu filho Cassiano tinha sido sequestrado no Brasil. Eu estava em Paris quando recebi a notícia. Fiquei desesperado e pedi muito ao S. João para que o meu filho fosse devolvido são e salvo, como acabou por suceder", relata no . A partir daí, Generoso nunca mais deixou de estar presente no S. João de Sobrado. "Há 20 anos que faço questão de estar presente nos festejos, mas desde 1992 a minha devoção aumentou", confessa.
in Jornal de Notícias, 25 de Junho de 2005

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