domingo, junho 17, 2012

As escolas concelhias e o património imaterial da Festa

Esta é uma mensagem que dirijo em particular aos professores, dirigentes de agrupamentos, associações de pais das escolas do concelho de Valongo em geral e da vila de Sobrado, em particular:
As escolas estão a terminar um ano letivo e já a pensar naquele que aí vem. Como pode a tradição-mor de Sobrado fazer parte dos planos de atividades e da própria lecionação das matérias, nos vários ciclos de estudo, no âmbito do Concelho, mas particularmente no agrupamento da Vila de Sobrado?
Eu sei que alguma coisa já se vai fazendo. Ainda há dias ouvia a mãe de um aluno a falar de uma manifestação de fim de ano escolar relacionada com a Bugiada, e que exigia o uso de trajes.
Mas, tanto quanto julgo saber, nunca, até hoje, as escolas fizeram um trabalho em profundidade, pluridimensional, sistemático e envolvente de todos os parceiros educativos, tendo a Festa de S. João como motivo e como foco.
É verdade que ainda há pais (e provavelmente também professores e pais que são professores) que entenderão que a escola é para assuntos sérios, para estudar, para ensinar e para aprender e que era o que faltava gastar o pouco tempo que há com festas e folganças.


Nada mais errado, em minha opinião.  Esta Festa é um assunto sério.
Acham que é possível e correto, em Valongo e em Sobrado, falar em História das invasões árabes sem trazer para cima da mesa a festa da Mouriscada? Tratar a história e a geografia, sem aludir à Serra de Cucamacuca, à exploração do ouro, aos fojos, à lenda que está na base da festa?, ou, ainda, às indumentárias e vestígios históricos a elas associados?
É possível tratar trabalhar assuntos ligados às artes sem trabalhar as cores dos trajes, a natureza das músicas e dos ritmos da festa?
É possível abordar a educação física, o movimento e o corpo à revelia das danças, das coreografias, da resistência física?
Seria compreensível Sobrado sem a Festa da Bugiada e Mouriscada? Que importância tem a festa na vila, do ponto de vista da memória, da identidade, mas também do turismo, da economia, das relações sociais?
A resposta a todas estas perguntas- e muitas mais se poderiam fazer - é simples: possível é. Mas é desejável? É vantajoso?
Colocando a questão de outra maneira: será que, partindo, sempre que possível e adequado, da cultura local, dos conhecimentos dos alunos, dos contributos dos pais e avós, sob o comando dos docentes (claro está!) seria possível um ensino e uma aprendizagem mais motivadores e com mais sucesso, mais gratificante para os alunos e para os próprios docentes?
No momento em que, no plano concelhio, se está a preparar o registo nacional da Festa como património imaterial, condição para a eventual submissão ao reconhecimento como património imaterial da UNESCO, não seria compreensível que o Agrupamento de Escolas de S João não estivesse no coração deste processo, não apenas a apoiar, mas a participar ativamente, aquilo que lhe cabe e sabe fazer: ensinar, aprender, animar. Pelos sinais que já tenho visto, estou convencido de que vai estar e que vai ser um parceiro fundamental.
No momento em que se começa a programar o próximo ano letivo, é boa altura para pensar o que seria possível fazer, não apenas no âmbito extra-letivo, mas nas próprias aulas. Um bom projeto neste setor, além das vantagens que pode ter na escola e na comunidade, será um sinal de enorme importância na projeção externa da Festa. O modo como a festa se entrosa com a comunidade é um critério que é valorizado.
Seria necessário começar, desde já, a inventariar os recursos, iniciativas e apoios necessários, para viabilizar um tal desiderato.
(Foto: R. Roque)

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