
Uma vivência desta natureza decorre também, necessariamente, do facto de a Festa de Sobrado ser pautada por valores profundos e antropologicamente ricos. Permito-me sublinhar os seguintes:
- a capacidade de rir de si próprio e de inverter ou subverter a ordem do quotidiano;
- valorizar a memória e actualização de um tempo que não volta, mas que nos trouxe aqui;
- dar a manifestações antigas um novo sentido atualizado nas condições da vida de hoje;
- pôr em sã (ainda que tensa) convivência os mouros e os cristãos ("nós" e os "outros");
- dizer a vida e os seus sonhos recorrendo mais à dança, ao gesto, à música do que à palavra;
- superar a lógica primária dos bons e dos maus (afinal, aqui, quem são os bons e quem são os maus?).
Cada vez mais temos relatos de como decorre esta festa, o que se faz e como se faz. Mas faltam-nos os "porquês" e os "para quês". O estudo e a investigação podem dar um contributo importante. Mas esse contributo não pode prescindir ou menosprezar o que cada um vive, as motivações que tem para participar, o sentido que dá ou descobre na festa, o que aprende e testemunha. Cada bugio, cada mourisqueiro, cada intérprete das restantes manifestações desta festa é que pode responder a esse desafio. Nâo basta responder que "é a paixão" ou "sempre foi assim" ou, ainda" que é para "cumprir a tradição". É mais do que isso. Cada um é que,pensando a sério na vivência que faz, pode ajudar a dar respostas a esses "porquês" e "para quês".
Uma sugestão a cada um ou a cada uma: porque não escrever uma carta ou um e-mail a um amigo que vive longe (ou mesmo a um amigo imaginário) e procurar responder, muito a sério, a estas perguntas: porque é que vou de bugio, de mourisqueiro, de cego, de lavrador, etc? Porque quero ser rei ou velho? Que aspetos importantes é que tenho descoberto e pensado, participando na festa?
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