quarta-feira, junho 04, 2008

Danças mouriscas no Norte de Portugal: tese de doutoramento de Bárbara Alge

Uma tese de doutoramento sobre a Festa de S. João de Sobrado e mais duas festas tradicionais do Norte de Portugal foi defendida em 31 de Janeiro deste ano por Barbara Alge na Universidade de Viena, Áustria.
Intitulada "O Mouro na Imaginação de Comunidades Rurais do Norte de Portugal - Um Estudo de Danças Dramáticas em Contextos Religiosos", a dissertação, de perto de 500 páginas (acompanhada de dezenas de fotos e de um DVD) encontra-se escrita em alemão e vai ser em breve publicada. Uma cópia para a Associação da Casa do Bugio foi já prometida pela autora.
Fica aqui o resumo da tese de Bárbara Alge:

Baseada em pesquisas de campo levadas a cabo pela autora entre 2004 e 2007, esta dissertação, escrita ema alemão, estuda performances de cristãos e mouros em festas religiosas no Norte de Portugal: a festa do São João Baptista chamada “Bugiada” em Sobrado a 24 de Junho de 2005, a Festa dos Caretos, em Torre de Dona Chama, a 26 de Dezembro de 2005 e o Auto da Floripes, em Neves, a 5 de Agosto de 2006.
Apesar de se distinguir no que respeita à forma, – porque se trata duma dança, dum drama de luta e dum teatro popular –, estas performances podem ser atribuídas ao género performativo da “mourisca”. A autora usa o termo “dança dramática” para todas as formas estudadas.
A “mourisca” é uma dança dramática, por vezes ritual, muitas vezes processional, de carácter exótico, e em parte com elementos guerreiros. Também pode ser uma representação teatral duma luta entre cristãos e mouros. Nas suas diferentes formas, as mouriscas são encontradas na Europa e noutros continentes devido a processos de colonização. Em Portugal, a mourisca, na sua variante duma batalha entre cristãos e mouros, é hoje encontrada sobretudo no Norte do país. A dissertação concentra-se nesta variante.
Diferentes autores deduzem a mourisca duma dança dos mouros. Uma análise da literatura sobre este fenómeno cultural demonstra que danças dramáticas com alguma relação com os mouros são associadas ao termo “mourisca”.
No entanto, o termo “mouro”, em Portugal, não designa apenas os mouros históricos da Península Ibérica, mas é um termo complexo, cujas significações são explicadas nesta tese.
A dissertação parte da hipótese que o “mouro” como lembrança duma figura da história de Portugal (o mouro histórico), assim como mito (“o tempo dos mouros”) e como figura projectiva (imaginário local, lendas) ainda se encontra no imaginário de comunidades rurais no Norte de Portugal, e que este facto também se manifesta nas danças dramáticas de mourisca.
A introdução da tese de doutoramento apresenta a história dos mouros na Península Ibérica e a política cultural em Portugal e explica o processo de composição desta obra.
A parte principal da tese divide-se numa parte etnográfica em que os resultados do trabalho de campo são apresentados, numa parte com uma análise crítica da literatura, e numa parte em que os termos “mouro” e “mourisca” são analisados com base na primeira e segunda parte.
As conclusões são deduzidas duma análise da parte principal e discutem-se as seguintes questões: 1) Porque é que a mourisca é associada ao mouro?, 2) O mouro pode ser utilizado como unidade significante numa comparação de mouriscas?, e 3) Porque é que o imaginário do mouro e performances de mourisca se encontram no Norte de Portugal actualmente?
No contexto da questão 2 é demonstrado que o mouro das variantes de mourisca estudadas apresenta características formais e semânticas apesar de diferentes contextos de realização. Estas características correspondem em parte a observações feitas por outros autores em Espanha e no México. A questão 3 discute o Como e o Porquê da transmissão dos fenómenos culturais estudados. Pontos importantes são a liderança com o passado histórico e a criação da identidade nacional e local.
Os anexos contêm um glossário de palavras portuguesas, transcrições musicais e coreográficas, o texto do Auto da Floripes, correspondência pessoal com informantes, a agenda das pesquisas de campo da autora, uma bibliografia com obras referidas e consultadas, uma lista das ilustrações e a descrição do DVD de acompanhamento.
O manuscrito da dissertação contem 490 páginas (1,5 espaço entre linhas), 48 fotografias e outras ilustrações, assim como um DVD de acompanhamento ilustrando as performances.

Sem comentários: