- - Em muitas outras terras, festeja-se o S. João de noite; em Sobrado é de dia - todo o dia, da alva até depois do sol-pôr.
- - Toda a gente janta ao fim do dia ou princípio da noite; em Sobrado, o jantar da festa é de manhã, pelas 10 horas.
- - Nas outras terras (e, nesta, nos outros dias) ninguém gosta de fazer o, digamos assim, "trabalho sujo"; pois em Sobrado não falta quem goste de ir semear, lavrar ou gradar todo mal-vestido e terminar com a roupa desfeita ou quase sem roupa; não falta quem goste - como acontece com o sapateiro e o cego - de chafurdar na lama, em cenas de primitivismo que deixam estarrecidos e com ar de enojado muitos forasteiros;
- - Em outras terras, em que há tradições festivas que metem mouros, turcos, etc, estes são geralmente os 'maus da fita', os derrotados. Em Sobrado, são os Mourisqueiros os únicos com dignidade para ir na procissão e a pegar nos andores, incluindo o de S. João. E depois de vencerem pela força os cristãos, só são derrotados pelo terror da Serpe; e, ainda assim, como que ressuscitam para a Dança do Santo.
- - Nas terras onde ainda se pratica a agricultura, todos começam por lavrar a terra, se querem colher algum "samiguel"; só depois gradam e semeiam. Pois em Sobrado, em dia de S. João, primeiro semeia-se e só depois é que se lavra.
- - Por fim, é difícil encontrar no país (e alguns dizem que mesmo na Europa) muitas festas com um carácter mais espectacular do que esta. Pois tanto Bugios como Mourisqueiros antes de darem um espectáculo aos que vão à festa, dão um espectáculo a si mesmos: dançam e lutam porque a festa ainda é qualquer coisa que, se não existisse, deixaria um vazio enorme na vida deles e não poderiam "matar a paixão". Em 1974, houve cheias por altura do S. João e choveu que Deus a dava no dia 24. Quase ninguém se atreveu a ir à festa. Mas nem por isso as danças se deixaram de fazer. Porque o S. João de Sobrado não é um mero espectáculo, mas algo que dá sentido à vida - individual e colectiva.
Não acham, ó conterrâneos sobradenses?
4 comentários:
Não sou conterrânea mas subscrevo inteiramente o que é referido no post.Sou uma forasteira que vibra com esta festa! Já agora aproveito para dar conhecimento que nas escolas de Sobrado a "Bugiada" também é valorizada. Pelo menos na Escola de Paço, isso acontece. Visitem http://escoladepacoapasso.blogspot.com/
Cara Raquel,obrigado pelas suas palavras.
Coincidência interessante: enquanto escrevia o seu comentário eu preparava precisamente um post sobre o que vem no blog da Escola de Paço. Será publicado daqui a pouco.
Claro que sim.
No ano na biodiversidade, a culturodiversidade impõe-se.
Aliás, a diversidade é sempre acréscimo...
Cumprimentos
E é este paradoxo que nos caracteriza e nos faz tão diferentes na nossa igualdade. Apenas quem ama a festa consegue compreender e viver este paradoxo.
Uma sinopse muito bem feita do que melhor nos caracteriza. Parabéns.
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