quinta-feira, junho 03, 2010

Para lá das danças e das lutas






A festa de S. João de Sobrado é conhecida sobre tudo pelas danças e lutas entre Bugios e Mourisqueiros. É isso que lhe dá colorido, espectáculo e dinamismo. Contudo a festa é bem mais densa e rica, porque alberga pelo menos mais três tipos de manifestações:

a) As Entrajadas ou Estardalhadas , que representam cenas de crítica social a acontecimentos ou situações da terra, do país ou até mesmo do mundo. Surgem de manhã, nas redondezas do 'jantar', passam, depois, para a estrada em que decorrerá a Dança de Entrada e seguem atrás desta, após a passagem dos Bugios. Se esta festa permanece relativamente imutável, esta é a única parte em que quase tudo muda de ano para ano. Por isso tanta gente aprecia esta faceta da Festa de Sobrado.

b) Os Rituais Agrícolas, que acontecem no recinto do Passal, a partir do início da tarde (as horas não são seguras, mas, digamos, 15 horas). A particularidade desta tradição reside no facto de as operações serem executadas em ordem inversa: todos os que semeiam começam por lavrar. Em Sobrado, não: semeia-se, grada-se e, no fim é que se lavra. Mas a terra dá na mesma, porque a festa ainda não morreu ! Associadas a estas manifestações parecem estar práticas mágico-sagradas traduzidas numa espécie de disfarçada confissão de incompetência humana, propiciatória da bênção divina. Mas foi aqui que os de fora da terra foram buscar a ideia propagandeada de que os de Sobrado não devem regular bem, porque semeiam antes de lavrar.

c) A Dança do Cego ou Sapateirada - a natureza desta parte é teatral. Representa cenas do quotidiano: um sapateiro, a sua mulher e o moço, com vida rotineira e tranquila; um cego e o seu guia, que chega de fora, factor de perturbação da ordem existente - na medida em que o moço do cego rouba a mulher ao sapateiro. Contudo este é um teatro especial, dado que os assistentes, em muitos momentos, também são participantes; e até vítimas, sobretudo quando apanham com farrapos ou spatos velhos molhados de lama pela cabeça abaixo. Mas, lá está: só apanha quem quer. E a verdade é que há sempre quem queira.

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