terça-feira, junho 10, 2014

Para um dicionário da Festa da Bugiada e Mouriscada (3)

Casa do Bugio - Associação criada em Sobrado em 1993, com a finalidade de preservar e promover a Festa de S. João de Sobrado e tudo o que com ela se relacione. Cabe-lhe realizar a Festa, sempre que não surgir uma Comissão com Juíz e Mordomos, e, por norma, de cinco em cinco anos. No âmbito das suas atribuições, a Associação é detentora do bem patrimonial imaterial da Festa, em nome dos Sobradenses, cabendo-lhe igualmente os direitos de imagem, devidamente registados. A designação Casa do Bugio refere-se igualmente ao edifício que foi construído fora da povoação, na estrada municipal que liga Sobrado a Alfena. De dimensões avultadas, destina-se, entre outras funções, a acolher os Mourisqueiros e os Bugios no 'jantar' do dia 24 de Junho.

Castanholas - Instrumento de percussão normalmente de madeira constituído por duas partes côncavas
e ligadas entre si, é usado na Festa de S. João de Sobrado por cada um dos Bugios, com exceção do Velho da Bugiada, como forma de expressão e para marcar o ritmo de algumas danças. Muitas das castanholas usadas em Sobrado continuam a ser executadas localmente. Em muitos casos as castanholas são ornadas com motivos diversos, nomeadamente rabos de coelho.

Castelos - Também conhecidos por palanques.  São estruturas de madeira construídas ad hoc no sábado anterior à Festa, e constituídas por um esqueleto de toros de pinho cortados na ocasião, encimados por um estrado à altura de uns 2,5 metros. O estrado é rodeado de um corrimão igualmente de toros de pinho em três dos lados, ficando desguarnecido o quarto. São instalados no Passal, perto do coreto: o dos Bugios junto à estrada principal e, na direção da igreja, a cerca de 50 metros, o dos Mourisqueiros. É nestes castelos que decorre a Prisão do Velho, altura em que o castelo Bugio acolhe igualmente a Serpe, por debaixo do estrado, por entre a folhagem.

Colher os Dreitos - É o primeiro acto dos rituais agrícolas que decorrem após a hora de almoço, cerca das 15 horas. Um Bugio montado ao contrário num burro e rodeado por múltiplos Bugios, percorre o Passal, recolhendo as contribuições ou impostos (os 'dreitos') junto dos feirantes. À medida que recebe esses direitos (uma bebida, um doce ... ou apenas umas trocas de palavras jocosas), o que monta o jumento vai 'descarregando' o encargo num grosso livro, usando um pau como caneta e o cu do burro como tinteiro.

Comedeira (farda) - Diz-se de uma 'farda' ou traje de Bugio já poída de tanto ter sido usada. O nome advém, segundo se diz na Vila, dos "tempos da fome": os mais pobres, que nem dinheiro tinham para um almoço melhorado no dia de S. João, usavam essas fardas velhas como passe de entrada no jantar servido aos Bugios e Mourisqueiros logo no começo do dia. E assim, além de matarem a Paixão na dança, enchiam a barriga de canja e de um cozido à portuguesa. 

Comissão da Festa - É constituída por um juíz e por diversos mordomos, provenientes de diferentes lugares da Vila. É de livre iniciativa do Juíz, o qual, em alguns casos, assume a função por promessa. Até há alguns anos, com um número de Bugios manifestamente inferior ao atual, cabia ao Juiz nomear o Velho da Bugiada desse ano, algo que já não acontece hoje em dia. Compete, no entanto, à Comissão, superintender numa série de tarefas relacionadas sobretudo com gestão do arraial, a contratação dos grupos que o animam, arruamentos e fogo de artifício, contratação da Banda e da GNR, organização de peditórios e outras iniciativas de angariação e fundos, etc. No passado, a pertença às Comissões era sobretudo tarefa masculina, mas nas últimas décadas, as mulheres passaram também a integrá-las e, em 2012, aconteceu mesmo que houve não apenas uma Juíza, mas toda a Comissão foi constituída por mulheres.

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