sexta-feira, junho 07, 2013

(1) Que é que nesta festa a torna singular?


O que a festa não é:
- Mera festa de arraial; reconstituição ou recriação histórica
- Festa do santo padroeiro; festa de devoção religiosa a S. João
- Não é mera festa de arraial; não é, em todo o caso, uma festa vulgar.

É uma festa que representa e atualiza uma lenda. Esta lenda é uma narrativa sobre as relações conflituosas entre dois grupos – um grande e um pequeno; um sério e outro folião; um da terra e outro de fora; um diverso e outro homogéneo. Como objecto imediato desse conflito está a disputa da imagem de poderes milagrosos de S. João. Frente a frente, em diálogo tenso e denso, encontra-se uma comunidade e a sua cultura e um grupo que exprime a diferença, a alteridade – o que pode ser em tanto uma ameaça como um enriquecimento. Através da evocação de um facto histórico que certamente marcou esta região, toda a Península Ibérica e, em geral a Europa do Sul, é esse diálogo entre nós e os outros, o mesmo e o diferente que aqui se busca e se faz. E esse encontro é hoje um dos grandes desafios, numa sociedade globalizada..

Esta festa ora se designava por Festa da Bugiada ora, em menor grau, por festa da Mouriscada. Mas, como é bom de ver, a Bugiada não existe sem a Mouriscada e vice-versa. Mas esta festa é bem mais do que a Bugiada e a Mouriscada, já que nos interstícios, nos tempos de pausas das danças, se repetem, desde tempos imemoriais, as cenas de mascarados que compreendem pelo menos quatro performances diferentes: as entrajadas de crítica social, e sabor carnavalesco; a cobrança dos direitos; a lavra da praça; e a sapateirada ou dança do cego.
E não nos podemos esquecer de que se trata de uma festa realizada sob a invocação de S. João, um dos maiores do trio dos chamados “santos populares”. Daí que a componente religiosa – cerimonial e devocional – não possa ser esquecida. De resto, nunca poderemos esquecer que são os Mouriscos que transportam os andores na procissão e que existe todo um tabu em torno do território da igreja e em redor da igreja, até ao fim das danças de entrada. Os Mourisqueiros, para acederem à igreja, no final da missa de festa, têm de o fazer por fora do terreno do Passal.

Fazem parte da festa os ensaios, por tradição públicos, e que são bem mais do que meros ensaios, já que durante eles decorre o processo de designação dos titulares de funções específicas nos rituais da tarde. Acresce que o ensaio final, o do dia dos tremoços, se tornou num convívio entre todos os participantes e a própria população. Além disso há uma série de tarefas preparatórias, que seria longo enumerar aqui, muitas das quais dependentes do Velho da Bugiada e seus Guias e também do Reimoeiro.

A festa envolve direta ou indirectamente a comunidade não só num dia, mas todo o ano: os ajuntamentos, como são as sarrabulhadas, para conviver e angariar fundos para a festa; os peditórios e rifas; a preparação dos trajes e a preparação física são exemplos disso mesmo.

Na era dos novos media e das redes sociais, a festa é também o acompanhamento, ao longo do ano, do que se publica no blog e nas páginas da festa no Facebook.

Sem comentários: