sexta-feira, dezembro 24, 2004

Cristãos-e-Mouros

A Festa de S. João de Sobrado inscreve-se nas festas que têm por temática as lutas entre cristãos e mouros. Mais uma achega, de um site brasileiro sobre cultura tradicional:

"Cristãos-e-Mouros: Luta simulada entre Cristãos e Mouros, representada por ocasião de festas religiosas ou acontecimento social de relevo. No Brasil eram vistas a cavalo as duas alas inimigas, como Saint-Hilaire assistiu em Minas Gerais, ou de pé, armados os castelos à beira-mar, como Henry Koster presenciou na ilha de Itamaracá. Em Portugal há menção desde o séc. XV, com incontáveis variantes, aparecendo as figuras de Carlos Magno, Oliveiros, Ferrabrás, o Almirante Balão, a princesa moura Floripes, etc. Mouriscada em Portugal. A velha mourisca portuguesa, como Bluteau registrou, não a tivemos no Brasil. “Compunha-se de muitos moços vestidos à mourisca, com seus broqueis e varas a modos de lanças, com o seu rei de alfanje na mão, e este dando o sinal se começava a travar, ao som do tambor, uma espécie de batalha”. Os mouros só intervêm no Brasil para enfrentar e perder ante os cristãos. Essa mourisca vinha das obrigações devidas pelos mouros forros em ocasião de festa e concorria em todas as solenidades, como se lê na Jornada de Nicolau Lanckmann, representante de Frederico III, nas núpcias com Dona Leonor, irmã de D. Afonso V de Portugal. (Monarquia Lusitana, tom. 6, fol. 16, col. ; Luciano Cordeiro, Uma Sobrinha do Infante, Lisboa, 1894). "

quinta-feira, dezembro 23, 2004

A Bugiada e a evolução do número de habitantes de Sobrado

Os mais idosos de Sobrado ainda se lembram, certamente, de uma Bugiada com 100 Bugios ser uma festa grande. Poucos, se compararmos com a actualidade, em que esse número tem superado largamente o meio milhar.
Os documentso existentes permitem ter uma ideia da evolução da população da freguesia ao longo dos últimos 300 anos:

1623 - --- 349 habitantes
1706 - --- N/D (134 fogos)
1758 ---- 637
1862 ---- 1104
1890 ---- 1616
1911 ---- 1983
1930 ---- 2272
1950 ---- 3428
1970 ---- 4743
2001 ---- 6687

A fábrica da Balsa e, sobretudo, a da CIFA foram certamente factores de atracção e crescimento populacional.
(Dados apurados nas seguintes fontes: Catálogo do Bispado do Porto; Dicionário Coreográfico de Portugal, de Américo Costa, vol. XI, 1948; Estatísticas Parochiaes; Censos INE).

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Lutas entre mouros e cristãos

Estas lutas, que definem a parte mais saliente da festa de S. João de Sobrado, têm antecedentes antigos e surgiam (e ainda surgem, em algumas partes) em diversas festas peninsulares e, por arrastamento, nas ex-colónias portuguesas e castelhanas. Veja-se esta resenha de um site brasileiro, em que surgem menções à Bugiada:

"Luta simulada entre cristãos e mouros, representada por ocasião de festas religiosas ou acontecimento social de relevo. No Brasil eram vistas a cavalo as duas alas inimigas, como Saint-Hillaire assistiu em Minas Gerais, ou de pé, armados os castelos à beira-mar, como Henry Koster presenciou na ilha de Itamaracá. Não conheço registo brasileiro anterior ao século XVIII. Em Portugal há menção desde o século XV, com incontáveis variantes, aparecendo as figuras de Carlos Magno, Oliveiros, Ferrabrás, o almirante Balão, a princesa moura Floripes, etc. "
Continuação aqui.
Documentos escassos

Sobrado é uma freguesia elevada a vila em anos recentes. Viveu até há umas décadas atrás de uma agricultura produzida nas margens férteis do rio Ferreira que corre ali numa vasta agra plana, coberta de milharais na época do estio.
A festa que põe em cena a luta de entre Bugios e Mouriscos é tão antiga que muitos sobradenses crêem remontar ao tempo em que os mouros invadiram a Península. Os documentos conhecidos são escassos e não permitem recuar para além da segunda metade do século XIX. No entanto, a tradição é seguramente muito mais remota.
Uma das mais curiosas descrições que dela foram feitas deve-se ao diplomata Rodney Gallop que, no nício dos anos 30, esteve em Sobrado e escreveu um retrato pitoresco do que viu, na notável obra Portugal – a Book of Folk Ways, que consultei na Biblioteca Pública Municipal do Porto.
Uma das tarefas urgentes relacionadas com a Bugiada é a recolha sistemática e o tratamento cuidadoso da documentação existente, nos vários suportes em que se encontrar (impresso, áudio, audiovisual, fotográfico, etc).

sábado, novembro 27, 2004

Sarrabulhada na Casa do Bugio em 4 de Dezembro

A Comissão das Festas de S. João de Sobrado de 2005 organiza, no próximo dia 4 de Dezembro, às 19 horas, uma sarrabulhada que deverá juntar largas centenas de sobradenses e amigos da festa de bugios e mourisqueiros. A iniciativa terá lugar na Casa do Bugio e destina-se a proporcionar o convívio entre sobradenses e, ao mesmo tempo, angariar fundos para a festa. As marcações devem ser feitas junto dos elementos da Comissão (os maiores de 12 anos contribuem com 12,50 euros; abaixo disso o valor é de 5 euros).

segunda-feira, novembro 22, 2004

Entrevista ao "Alô Sobrado"

É o seguinte o teor da entrevista que a Direcção da Casa do Bugio concedeu ao mensário "Alô Sobrado" de Novembro:

P - Quais as principais razões que estiveram na origem da constituição desta lista?

R - Foi uma razão muito simples: a vontade de colaborar na dinamização da vida da Associação. Ao fazê-lo, o grupo de sobradenses que constituiu a lista tem consciência de que isso pode ser uma forma de contribuir para a valorização e projecção da Festa de S. João, que, no seu género, não tem paralelo em Portugal.

P - Há quem considere que todo este processo não foi o mais correcto e há quem fale mesmo numa "tomada de assalto". Que comentários lhes merecem?

Só haveria "tomada de assalto" se o processo não tivesse respeitado as regras democráticas e os estatutos da Associação. Foi a coisa mais natural que há: numa assembleia geral em que o assunto estava na agenda, houve uma lista que se apresentou e ganhou. Tão simples quanto isso. De resto, é importante que se diga que não faz parte da filosofia da Direcção eleita tomar o que quer que seja de assalto nem sequer manter-se à frente da Associação contra a vontade dos associados.

P - Como avaliam todo o processo que está para trás e que se arrasta há muitos anos sem grandes desenvolvimentos?

Os corpos gerentes que estiveram à frente da Associação tiveram o mérito de lançar as bases de um trabalho de que Sobrado precisava. Ninguém lhes pode retirar esse mérito. A Associação constituiu-se e arrancou-se com a construção do edifício da Casa do Bugio. Mas é sabido que, nos últimos anos, aconteceu a estagnação. Sentimos que era chegada a hora de um novo fôlego.

P - Em que situação se encontra a Casa do Bugio (edifício)? E que verba será necessária para terminar a obra?

Deve ser do conhecimento de muita gente que existem sérias deficiências no que respeita ao isolamento da cobertura da Casa do Bugio, o que faz com que o imóvel, que ainda não está pronto, já se esteja a degradar. Mas existem igualmente sinais de que a própria estrutura do edifício poderá estar com problemas. Por isso, a Direcção tomou a iniciativa de solicitar peritagens técnicas, cujas conclusões se aguardam. Se for necessário intervir a este nível, essa obra terá prioridade e só depois se tratará do isolamento da cobertura. Ao mesmo tempo, está nos planos da Direcção, há dias sufragados pela Assembleia Geral, o propósito de recolocar as janelas que foram há tempos vandalizadas, bem como dotar a cozinha de melhores condições de funcionamento, para apoio às realizações previstas para a Casa do Bugio.

P- Que iniciativas pretendem levar a efeito com o intuito de angariarem verbas para as obras?

Como é sabido, os actuais corpos gerentes assumiram também a responsabilidade de organizar a festa de 2005. As iniciativas com vista à angariação de fundos começarão pela festa. Neste momento está já em organização uma sarrabulhada-convívio, a ter lugar precisamente na Casa do Bugio, no dia 4 de Dezembro próximo. Antes disso, no dia 7 de Novembro, tem lugar um Raid BTT, com a mesma finalidade. E estão já a correr os tradicionais sorteios, que são outra forma de financiar a festa.
Entretanto, e especificamente sobre a Casa do Bugio, serão feitas diligências com vista a encontrar novos apoios e mecenas dispostos a contribuir para os projectos em curso e, nomeadamente, para dotar a Casa do Bugio de condições dignas e seguras de funcionamento. As entidades oficiais - autárquicas e outras - serão igualmente contactadas com o mesmo fim.
Srteios

P - O Que vai ser, concretamente, a Casa do Bugio?

A Casa do Bugio foi pensada para promover a Festa de S. João e contribuir, dessse modo, para a promoção sócio-cultural da freguesia de Sobrado. Para isso, torna-se necesário completar as obras, começando por impedir que as instalaçõees existentes se degradem e possam dispor de um sistema de segurança. Feito isso, a Casa poderá albergar iniciativas ligadas à festa, ser um espaço de encontro e reunião, e vir a dispor de um núcleo museológico ligado à festa, com uma componente de fardas e apetrechos, uma parte de imagem e memória da festa, documentos escritos e audiovisuais, etc. Ou seja, torna-se necessário fazer daquela Casa um centro de animação sócio-cultural e até educativa, centrada na Festa de S. João.


P - Em que âmbito vai recair, para além das obras, a actividade da Associação?

Outras iniciativas em perspectiva para os próximos tempos podem sintetizar-se nos seguintes pontos, todos eles já aprovados: a) criação do site oficial da Casa do Bugio na Internet; b) organização de um inventário com a memória de quem foi de Velho da Bugiada e de Reimoeiro, em cada ano, recuando tão longe no tempo quanto possível; c) estabelecimento de uma parceria com o Agrupamento de Escolas de Sobrado, com o tema da Festa de S. João como pretexto; d) recolha de imagens mais ou menos antigas da festa, para reprodução e reconstituição de um espólio fotográfico e videográfico; e) estudo da possibilidade de publicação de um livro alusivo à festa com um preço acessível.
Em primeira mão, a Direcção pode anuniciar que o Dr Ângelo Peres, que foi durante muitos anos realizador da RTP e que é actualmente professor de Comunicação Social na Universidade do Minho, decidiu doar à Associação uma fita de cinema contendo a gravação da festa da bugiada de 1976. A Direcção está a considerar a possibilidade de organizar em breve uma sessão pública para visionamento desse filme. Recorde-se que o original desse trabalho, feito pela cooperativa Moviola, se encontra depositado no Arquivo Nacional da Imagem em Movimento, em Lisboa.

P - Que medidas pretendem levar a efeito para disciplinar a festa da Bugiada?

Sabemos que há quem se preocupe em "disciplinar" a festa da Bugiada. O entendimento da Direcção é que a festa não necessita tanto de ser disciplinada como de ser preservada no seu caracer genuino. Para tal, a Direcção propõe-se realizar reuniões com bugios e mourisqueiros mais velhos, com vista a debater este assunto e a acertar algumas regras, no sentido de a festa não perder aquilo que a distingue e a faz única.

(...)
A Direcção entende que é importante reunir o máximo de energias e de esforços de todos os associados, pertençam eles aos corpos gerentes ou não. Para isso gostaria de poder contar com a participação em grupos de trabalho para projectos específicos. Por outro lado, faz parte dos planos dos actuais corpos gerentes apostar muito mais na informação sobre o que está ou vai acontecer, relacionado com a Casa do Bugio. Sem essa informação, os sobradenses dificilmente se sentirão motivados. E o Alô Sobrado pode ter neste âmbto um papel decisivo que desde já agradecemos.

segunda-feira, novembro 15, 2004

Boas vindas

Este é um sítio onde poderá encontrar informação o mais actualizada possível sobre uma das mais extraordinárias manifestações etnográficas portuguesas da actualidade: a festa de S. João que se realiza na vila de Sobrado, município de Valongo, no dia 24 de Junho.
A iniciativa é da Associação Cultural da Casa do Bugio, cujos actuais corpos directivos iniciaram o mandato no Verão passado. Uma das apostas assumidas epla Direcção foi justamente a da informação. Este espaço é ainda provisório. Mas permitirá acompanhar os passos que estão a ser dados para dar um novo vigor e dignidade à festa. Bem-vindo, pois!