terça-feira, dezembro 26, 2006

A Mourisca também em Trás-os-Montes

Do ponto de vista do estudo das festas tradicionais, não parece abusivo estabelecer um paralelo entre as festas solsticiais de Verão e as de Inverno. O dia de hoje - 26, de Santo Estêvão, o jovem que, segundo a lenda, foi o primeiro mártir do cristianismo - é um dia maior deste ciclo de Inverno, especialmente com as Festas de Rapazes, em Trás-os-Montes (Cf. uma lista aqui).
Uma das localidades em que tive já oportunidade de participar foi na Torre de Dona Chama e a sua Festa dos Caretos. É um caso interessante porque nela tem lugar, entre várias outras manifestações, o "Correr da Mourisca".
Esta tradição é assim descrita no site "Torre de Dona Chama":

"As «Mouriscas» e os «Caçadores», os reis «Mouros» e os «Cristãos», já estiveram presentes na missa de Santo Estevão. As «Mouriscas» usam por cima da roupa um lenço ou fita vermelhos traçados sobre o peito e na cabeça um lenço apertado em jeito de turbante.Ainda há poucos anos era um papel só reservado aos rapazes. Hoje também raparigas o desempenham. Os caçadores não usam roupa especial, mas sim uma caçadeira.Os reis têm roupagem própria: o «Mouro» manto vermelho, coroa e um pau ou espeto de ferro com uma laranja espetada na ponta; o «Cristão» um manto branco, coroa e pau espeto de ferro com uma maçã espetada na ponta. O objectivo das diversas acções é que a «Mourisca»arda; que mais uma vez os caçadores «Cristãos» vençam e que a tradição se mantenha e passe de geração em geração...Já ao anoitecer do dia 26 de Dezembro, os caçadores em grupos de dois ou três dão a volta ao povo e com um tiro junto de cada portal afugentam alguma «Mourisca» que tenha ficado escondida."

domingo, dezembro 17, 2006

A componente carnavalesca da Festa de S. João

São várias as manifestações presentes na Festa de S. João de Sobrado que podem ser inscritas nas tradições de cunho carnavalesco. É o caso das cenas de crítica social que aparecem desde manhã cedo e até ao fim das Danças de Entrada; é, ainda o caso de alguns pormenores relacionados com os trajes e os rituais (da Lavra, por exemplo), que ocorrem da parte da tarde do dia 24.
Isto não é específico de Sobrado. Como escreve João Ferreira Duarte, Professor da Universidade de Lisboa, que alude, neste contexto, expressamente às Bugiadas de Sobrado, num curto artigo intitulado "carnavalização", publicado no e-Dicionário de Termos Literários:

"Carnaval não se refere aqui apenas ao período antes da Quaresma e centrado no Mardi gras ou Fastnacht, que continua a ser celebrado nas sociedades contemporâneas, mas compreende determinadas festividades que, durante a Idade Média e o Renascimento, decorriam também noutros momentos do ano associados a comemorações sagradas, como o Corpus Christi, e chegavam a totalizar cerca de três meses. As suas origens remontam certamente aos cultos dos mortos e rituais propiciatórios e celebratórios de comunidades agrícolas primitivas que ocorriam durante o tempo das sementeiras e das colheitas, a figuras há muito estudadas pelos antropólogos, como o bode expiatório e o rei sacrificial, e em particular às festas em honra do deus Saturno, que na Roma antiga tinham lugar em Dezembro e eram conhecidas como as Saturnalia. À semelhança do "mundo às avessas" do Carnaval, no tempo em que duravam as Saturnalia vivia-se quotidianamente a inversão da ordem social normal: os escravos tomavam o lugar dos senhores e entregavam-se a toda a espécie de prazeres habitualmente proibidos, numa imitação simbólica do reinado de Saturno, a Idade de Ouro da felicidade e abundância reproduzida na utopia medieval e renascentista do País de Cocanha ou Schlaraffenland."
O autor refere três aspectos do universo do Carnaval dignos de nota:

1) A representação carnavalesca do corpo, a que Bakhtine chama realismo grotesco, é centrada nas imagens deformadas e exageradas do "baixo corporal": a boca, a barriga, os órgãos genitais. (...) 2) O uso da máscara simboliza uma das características mais marcantes do Carnaval: a confusão e dissolução das identidades pessoais e sociais, o triunfo da alteridade durante aquele tempo convencionalmente reservado à transgressão. 3) A relativização da verdade e do poder dominantes constitui um dos sentidos profundos do riso carnavalesco nas suas multímodas manifestações; ao ridicularizar tudo o que se arroga de uma condição imutável, transcendente, definitiva, o Carnaval celebra a mudança e a renovação do mundo."
Qualquer destes aspectos se apresenta como especialmente pertinente em Sobrado.

sábado, dezembro 09, 2006

Ramificações e rastos da nossa tradição


No seu artigo "Moros y cristianos y Los comanches.Dos muestras del teatro hispano en el sudoeste de los Estados Unidos", afirma a autora, Marisa García-Verdugo (Purdue University, Calumet, EUA):
" (...) Las fiestas de Moros y Cristianos en la Península Ibérica, se dividen en tres grupos según las características de las representaciones. Las fiestas del Levante por ejemplo, son fastuosas y multitudinarias. Hay un gran despliegue de color y movimiento. Los bandos hacen embajadas y presentaciones de colectivos específicos, las llamadas filas. El objetivo es reconquistar el castillo. En Andalucía son más modestas, menos ruidosas. Los moros roban la imagen del patrón del pueblo y los cristianos deben rescatarla. Los dos bandos se provocan mutuamente y arengan a sus seguidores. Finalmente los moros se rinden y se convierten. En Aragón los parlamentos entre moros y cristianos son parte de una fiesta que incluye otros elementos folclóricos. La imagen del moro es diferente y presenta matices históricos que incluyen al morisco como parte de la sociedad del Alto Aragón. Según M. Soledad Carrasco Urgoiti, "en Levante y en
Andalucía el moro es ante todo el invasor. En cambio, en el Alto Aragón aunque el motivo histórico sea secundario, parece sobrevivir el recuerdo del morisco subyugado, cuya presencia se sentía como posible causa de perturbación y motivo de constante recelo.(...)"


Por sua vez, em "Algunas observaciones sobre los textos de «Moros y Cristianos» en México y Centroamérica", escreve-se o seguinte:

Las actuales danzas de «Moros y Cristianos» son bailes dramatizados que se representan por los campesinos mestizos en los días del Santo Patrón, u otras fiestas sagradas o profanas. Dos grupos de danzantes (de seis a veinticuatro), jerárquicamente ordenados, realizan una acción dramática, cuya característica es el esquema fijo de tres partes: desafíos (o embajadas) —gran batalla (en que la parte pagana es vencida)— desenlace, el cual comprende el bautismo o la muerte de los vencidos, y a veces, el destino de su «leader», el rey moro4. Variantes del esquema pueden ser: una emboscada (trazada por los moros) o el cautiverio de algunos cristianos que más tarde serán liberados. También pueden ocurrir el combate por un castillo y el robo de una santa imagen. Las alusiones históricas en las danzas están diluidas y pueden referirse sólo a los nombres de los protagonistas. Los paganos son «moros» «turcos» o «africanos»; los cristianos: «castellanos» o «romanos».(..."


Na recensão do livro "Moros y Cristianos : representaciones del otro en las fiestas del Mediterráneo occidental", org. Marlène Albert-Llorca e José Antonio González Alcantud,)Granada, 2003), escreve Bernard Juillerat, na revista l'Homme (nº 170, 2004):

"(...)Les combats entre maures et chrétiens apparaissent au XVe siècle dans les fêtes de cour pour se populariser dès le XVIIIe siècle, alors que le XXe voit de nombreuses fêtes renaître de l’oubli. Simultanément, sous le double effet de l’héritage d’une tradition lettrée et, surtout, du travail des érudits locaux, les textes furent remaniés et fixés par écrit ; aujourd’hui la plupart sont disponibles, voire publiés. La dualité est évidemment centrale dans ce thème scénique où les batailles sont précédées d’embajadas, c’est-à-dire d’échanges diplomatiques, bien que les pièces ne réactualisent pas, à quelques exceptions près, un événement historique particulier. Les maures sont plutôt l’incarnation d’une altérité assimilée aussi bien aux Indiens dans les versions d’Amérique latine qu’aux Français de la conquête napoléonienne en Espagne, ou même aux républicains de la guerre civile. L’opposition sous-jacente est celle du Bien et du Mal, et la référence absolue reste le catholicisme auquel les moros de la scène populaire, d’abord triomphants puis vaincus, finissent par se convertir sous les auspices du saint patron ou de la Vierge locale. Quoique l’ambivalence de la figure du maure trouve son origine dans le second romancero, les représentations de Moros y Cristianos relèvent davantage du «bricolage culturel» que d’une tradition ancienne fidèlement transmise.(...)"

(neste ponto, foi corrigida a autoria da recensão que se encontrava erradamente atribuída)

Finalmente, no artigo "Charlemagne Roi du Congo - Notes sur la Présence Caroligienne dans la Culture Populaire Brésilienne", anota a autora, Marlyse Meyer:


"(...) Le jeu "Chrétiens-Maures" dont j'ai esquissé un modèle brésilien s’étend à toute l'Amérique ibérique : "Il n'y a pas de divertissement populaire qui témoigne le mieux de l'unité fondamentale de la culture hispanique que les fêtes de Moros y Cristianos, car on les retrouve, avec beaucoup d'éléments communs, autant au Portugal qu'au Mexique, qu’en Andalousie, qu'en Galice, qu'au Brésil, ou au Pérou" (Ricard 1958 : 875). R. Ricard (ibid.) distingue deux types de jeux : "le type 'croisade' ou 'reconquête', qui est la lutte autour d'un château-fort dressé au milieu d'une place et finira par être pris d'assaut. Et le type 'Maures sur le rivage', où le château ne figure pas : les Chrétiens s'unissent pour repousser un débarquement, évocation des attaques barbaresques sur les côtes espagnoles". Les antécédents historiques du jeu sont nombreux. R. Ricard rappelle les croisades, la conquête et l'occupation de la péninsule Ibérique par les Maures, les razzia barbaresques. Ajoutons la bataille de Lépante, évoquée par Teofilo Braga (1886) et Mario de Andrade (1959) (...)".

[Crédito da gravura: um dos "Die Moriskentänzer", de Erasmus Grasser)

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Danças mouriscas

As danças mouriscas e de espadas existem em várias partes do mundo, desde a Europa à Nova Zelândia, passando pelos Estados Unidos.
Eis algumas dessas manifestações, através de vídeos disponibilizados pelo YouTube [clicar no centro de cada imagem para ver o vídeo da dança]:





Sarrabulhada

A Comissão da Festa de S. João de Sobrado de 2007 organiza amanhã, sábado, ao fim do dia, uma sarrabulhada. A iniciativa tem lugar na Casa do Bugio e destina-se ao convívio entre sobradenses e a angariar fundos para a festa.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Comissão de Festas de 2007

É a seguinte a constituição da Comissão de Festas de 2007:
  • ANTÓNIO RIBEIRO BENTO
  • JOSÉ RIBEIRO DE OLIVEIRA
  • JOSÉ FERNANDO FERREIRA SANTOS
  • GUILHERMINO FERREIRA ALMEIDA SILVA
  • JOSÉ FERNANDO MARTINS PEREIRA
  • FERNANDO LEAL FERREIRA MARUJO
  • ANTÓNIO DA COSTA NUNES
  • ALBERTINO RIBEIRO FERREIRA
  • ALBERTO DA ROCHA NEVES
  • ALBERTO SANTOS FEREIRA MARUJO
  • JOSÉ FERNANDO MOREIRA DE SOUSA
  • JOAQUIM ROCHA BRITO
  • ALBERTO MOREIRA DA SILVA
  • JOSÉ FERNADO ALVES MOREIRA
  • FERNANDO COSTA SILVA
  • MANUEL SILVA ALVES
  • HERNÂNI FERREIRA DEVESAS
  • ÂNGELO SILVA PEREIRA
  • EDUARDO JORGE NUNES MATOS
  • SERAFIM RIBEIRO PEREIRA
  • FERNANDO ALMEIDA MOREIRA
  • MANUEL AUGUSTO MARTINS PEREIRA
  • AMÉRICO RIBEIRO VALE
  • JOAUIM MOREIRA GONÇALVES LEAL
  • AUGUSTO SILVA DIAS
  • JOSÉ DA COSTA NUNES
  • BELMIRO COSTA NUNES
  • ANTÓNIO ÁGUEDA DOS SANTOS GANDRA
  • JOSÉ FERNANDO FEREIRA TORRES
  • JOSÉ AUGUSTO MOREIRA BENTO
  • MANUEL ALVES NOGUEIRA.

Ainda sobre a Comissão

O facto de ter surgido um grupo de pessoas que se propõe organizar a festa de São João de Sobrado deste ano é, certamente, um dado positivo. Que a iniciativa tenha surgido de um grupo que se identifica por ter nascido no mesmo ano - 1957 - e costumar já organizar iniciativas em conjunto também é interessante. Afinal, 50 anos de vida merecem ficar assinalados por um gesto em prol da colectividade.
O único senão, do meu ponto de vista, é ficarem de fora as mulheres sobradenses nascidas nesse mesmo ano. De certeza que também tinham - e têm - muito a dar à festa. Mas, devagar, as coisas vão mudando.

domingo, outubro 22, 2006

Surge Comissão para a Festa de 2007


Como é sabido, nos anos em que não se consegue formar uma Comissão de Festas, a responsabilidade da tarefa cabe à Casa do Bugio. Foi o que aconteceu este ano e era o que se deenhava para o ano que vem. Mas eis que surge a novidade:há um grupo de sobradenses disposto a organizar a festa. E tem uma particulariade curiosa: é constituída por indivíduos nascidos no ano de 1957.
Segundo soubemos, é um grupo que tem já o hábito de se reunir para conviver. Desta vez, no ano do 50 aniversário, entenderam que o facto merecia comemoração de mais vulto e, vai daí, meteram-se na organização da Festa de S. João de 2007. E já têm agendada a primeira iniciativa: uma sarrabulhada que terá lugar em 9 de Dezembro próximo, precisamente na Casa do Bugio.

quinta-feira, outubro 19, 2006

"Máscara Ibérica" no Ferreira Borges (Porto)

Até 5 de Novembro, está patente no Mercado Ferreira Borges, no Porto, a exposição "Máscara Ibérica", uma iniciativa da Progestur. O programa envolveu já o lançamento de um livro sobre o mesmo tema, da autoria de Helder Ferreira e animação cultural em torno das regiões representadas no certame. Neste fim de semana de 21 e 22 de Outubro, o destaque vai para o Norte de Portugal, em especial as zonas de Vinhais e Lamego.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Um documento para a História de Sobrado

A Vila de Sobrado. Os mais velhos rir-se-iam da ideia de Sobrado poder vir a ser vila, se esta lhes fosse apresentada há 30 ou 40 anos atrás. Os sinais da "modernidade" constam do projecto legal que fundou a decisão da Assembleia da República. Mas nele constam também outros motivos - e, como não podia deixar de ser - a Festa de S. João. Aqui fica o texto desse diploma.

"PROJECTO DE LEI N.º 49/VIII

ELEVAÇÃO DE SOBRADO, NO MUNICÍPIO DE VALONGO, A VILA

Exposição de motivos

Sobrado é a maior freguesia do concelho de Valongo. Atravessada pelo rio Ferreira, situa-se no extremo nordeste de Valongo, dele distando cerca de 5 km. Tem cerca de 5000 eleitores numa população que ronda 8000 mil habitantes.
A meio do caminho entre a cidade de Valongo e Paços de Ferreira, a freguesia de Sobrado tem conhecido uma senda de progresso.
Denominada Santo André de Sobrado, a freguesia pertenceu até cerca de 1836 - data da formação do concelho de Valongo - ao julgado de Aguiar de Sousa. Sabe-se que a freguesia era então atravessada por uma estrada que ligava o Porto a Guimarães. O milho, o trigo e o vinho constituíam as principais produções dos vários casais que repartiam a terra na freguesia.
De origem antiga, onde ainda hoje se encontram vestígios testemunhos da presença de romanos e mouros, os primeiros registos paroquiais desta freguesia remontam ao ano de 1558.
A festa das Bugiadas em Sobrado, com base numa das mais antigas lendas, é hoje um cartão de visita da freguesia. No dia escolhido para a sua realização - o dia de S. João - acorrem a Sobrado milhares de cidadãos que fazem desta tradição uma das mais peculiares e originais do País.
Uma parte significativa da população hoje ainda se dedica à agricultura. Contudo, a progressiva industrialização da freguesia, nomeadamente com a instalação e desenvolvimento de fábricas de mobiliário e outros, tem contribuído para que a freguesia conheça hoje um surto de desenvolvimento.
Foi este surto de desenvolvimento que possibilitou a integração no mercado de trabalho de centenas de trabalhadores, a maioria com residência na freguesia de Sobrado e no concelho de Valongo que haviam ficado sem o seu posto de trabalho devido ao encerramento de grandes unidades de produção.
O desenvolvimento e o progresso da freguesia aumentarão seguramente com a construção a curto prazo do IC24, que ligará por via rápida o litoral e o interior. Novas unidades industriais se preparam para se instalar na freguesia, que a tornarão mais rica e possibilitarão a criação de mais empregos.
Sobrado caminha a passos largos para um desenvolvimento económico e social, que se traduzirá na maior importância para o concelho e na afirmação de uma nova centralidade na Área Metropolitana do Porto.
Sobrado possui os seguintes equipamentos:
Na área administrativa:
— Sede da junta de freguesia;
— Posto da GNR;
— Posto dos CTT.
Na área de apoio à saúde:
— Uma unidade de saúde que funciona como extensão do Centro de Saúde de Valongo;
— Uma farmácia;
— Consultórios médicos;
Na área da educação e cultura:
— Escola EB 2.3;
— Cinco escolas do ensino básico;
— Uma piscina coberta;
— Creche, jardim de infância e centro de dia.
Na área associativa:
— Associação «A casa do bugio»;
— Casa do Povo de Sobrado;
— Rancho folclórico de Santo André de Sobrado;
— Rancho folclórico da Casa do Povo de Sobrado;
— Clube desportivo de Sobrado;
— União desportiva da Gandra;
— Clube desportivo de Vilar;
— Sociedade columbófila de Sobrado.
Na área de comércio e serviços:
— Uma agência bancária;
— Uma feira semanal;
— Diversos estabelecimentos comerciais, incluindo cafés e restaurantes.
Nestes termos, e nos da Lei n.º 11/82 de 2 de Junho, a freguesia de Sobrado, no município de Valongo, reúne todas as condições para ser elevada à categoria de vila.
Assim, ao abrigo das disposições constitucionais e regimentos aplicáveis, os Deputados abaixo assinados, do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, apresentam o seguinte projecto de lei:

Artigo único
É elevada à categoria de Vila a povoação de Sobrado, situada na área do município de Valongo.

Palácio de São Bento, de Dezembro de 1999.— Os Deputados do PS: Afonso Lobão — Artur Penedos — Barbosa Ribeiro — Eduarda Castro — Fernando Jesus — Luís Pedro Martins — Manuel dos Santos e mais duas assinaturas ilegíveis".

terça-feira, agosto 22, 2006

Uma foto para recuperar a memória da festa

Correspondendo a apelos recentes, publicamos aqui uma foto que deve ter pelo menos 30 anos, da "orquestra" que acompanha a Bugiada, no dia de S. João. A foto foi emprestada pela família Espinheira (do lugar de Ferreira), à qual pertenceu o exímio tocador, o sr. José Ferreira dos Santos, que surge, na foto, à esquerda. Os restantes tocadores foram igualmente figuras conhecidas de Sobrado, que deram o seu melhor à festa.
Fica a expectativa de que outros, sobradenses ou não, possuidores de fotografias antigas sobre a festa as disponibilizem para poderem constituir um acervo documental sobre a festa de S. João de Sobrado.

sábado, agosto 19, 2006

Corpos gerentes da Associação da Casa do Bugio

Na Assembleia Geral eleitoral, realizada em 27 de Julho, foram eleitos os corpos gerentes da Associação da Casa do Bugio, fazendo restabelecer a normalidade nesta estrutura associativa promotora da manifestação cultural popular conhecida por Festa da Bugiada e da Mouriscada.
São os seguintes os titulares dos vários órgãos:

Mesa de Assembleia-geral

Presidente: Francisco Jorge Rocha Mesquita
Vice Presidente: António César Ribeiro Ferreira
Secretário: Fernando Manuel Moreira Dias

Direcção

Presidente: Manuel António da Silva Pinto Suzano
1º Vice-presidente: António José Dias dos Santos
2º Vice – presidente: Maria Fernanda Fernandes Costa
1º secretário : Maria Conceição Azevedo Lindo
2º secretário: Manuel Fernando Almeida Coelho
Tesoureiro: Elisabete Moreira Leão

Vogais :
Nuno Filipe Pereira Silva
Domingos Soares Moreira
Manuel Joaquim Silva Pinto
Sérgio Nuno Sousa Silva
José Manuel Dias Ribeiro
Suplente: Pedro Manuel Gaspar Moreira

Conselho fiscal

Presidente: Joaquim Fernando Carneiro Soares
Secretário: António Fernando Moreira Gaspar
Relator: Nuno Miguel Sousa Monteiro

terça-feira, julho 18, 2006

A festa de 2006


segunda-feira, julho 17, 2006

Morreu o sr. José Marujo

Realizou-se hoje o funeral de um ilustre sobradense, o sr. José António Ferreira Marujo. Além de ter sido presidente da Junta, ainda antes do 25 de Abril de 1974, foi igualmente uma figura durante muitos anos ligada à Festa de S. João, como ainda no mês passado se viu, no filme de Ângelo Peres projectado no Centro Social e Cultural. Na verdade, no momento da Prisão do Velho, era ele que, agarrado ao microfone, e em toada apologética, narrava a lenda que dá origem às lutas entre Bugios e Mourisqueiros. Jogando com a verdade histórica e com interpretações sui generis, criava um ambiente de emoção em torno do enredo que se desenrolava no palanque dos Bugios. Muita gente gostava.

quarta-feira, julho 05, 2006

Imagens das "estardalhadas" de 2006

A gripe das aves foi a grande "vedeta" das críticas deste ano na Festa de Sobrado.


















segunda-feira, junho 26, 2006

Referências noutros blogues

Varias são as referências à Festa de S. João noutros blogues. Destaco, pelo seu valor, o post publicado por TsiWari, um leitor atento deste espaço, que tem no seu blogue 4thefun, umas fotos muito interessantes e um trecho da marcha da Dança de Entrada, executada pela Banda de S. Martinho de Campo (Valongo, a qual, com a devida vénia, aqui tomo de empréstimo (clicar no quadradinho da esquerda da imagem para ouvir):


sexta-feira, junho 23, 2006

Mouros e cristãos: quase 300 festas identificadas

No colóquio que decorreu no passado dia 16, em Sobrado, sobre a festa de S. João, voltou a ser suscitada a questão da origem e antiguidade desta tradição. Sobre este assunto, a documentação é de uma exiguidade confrangedora. Por isso, uma das vias para chegarmos a alguma conclusão é conhecermos a génese de outras festas idênticas.
Já quando escrevi o livrinho publicado em 1982, ao ler "Fiestas de Moros y Cristianos y su Problematica", de G.G. Gallent, me apercebi que em Espanha poderia residir uma pista importante para compreender melhor a Bugiada e Mouriscada de Sobrado. Um artigo relativamente recente, de Demetrio E. Brisset Martín, professor da Universidad de Málaga ("Fiestas hispanas de moros y cristianos. Historia y significados", in Gazeta de Antroplogia, nº 17, de 2001) fornece importantes achegas para o estudo que se impõe.
Por aí ficamos a saber que muitas destas festas apresentam uma estrtura narrativa que evoca a conquista ou reconquista (de terras, castelos, etc) aos muçulmanos. Como sabemos, em Sobrado, a evocação centra-se na disputa de uma imagem milagrosa de S. João, o que pode denotar apenas uma variante de um modelo festivo-ritual mais amplo. Escreve Brisset Martin:

"Estos enfrentamientos rituales, impregnados de una ostensible exaltación de la religión católica, son un fogoso y rejuvenecido rescoldo de una de las modalidades de diversión popular más profusamente implantadas en la Península y transportada por los españoles a todas las áreas por las que extendieron su cultura. Y este fenómeno abarca por lo menos ocho siglos."

O mesmo autor atribui aos aragoneses a difusão de "espectáculos baseados no combate fictício entre um grupo mouro e outro cristão". Contudo, acrescenta:

"Fue el rey Felipe II quien los convirtió en emblema de las diversiones que quería para sus súbditos. Y a su muerte, cuando el imperio español todavía parecía gozar del máximo esplendor, se habían convertido en la más popular de las fiestas hispánicas. Durante el Siglo de Oro llegaron a implantarse desde Ceuta hasta Manila, teniendo su réplica en la propia Estambul, invertido aquí el bando victorioso. Y los más preclaros ingenios, muchos de ellos clérigos, compusieron textos de Moros y Cristianos para ser representados en corrales y en procesiones del Corpus".

Encontramos aqui muitas pistas para o estudo da festa de Sobrado. Não podemos esquecer que Filipe II foi o "nosso" Filipe I, da dinastia chamada filipina, quando os espanhois dominaram em Portugal, entre 1580 e 1640. Mas a relação entre a Festa da Bugiada e a do Corpo de Deus parece-me outro filão a explorar.

Afinal, o que é a Festa da Bugiada?

Para todos aqueles que, nestes dias, vêm aqui pela primeira vez e pretendem saber em que consiste a Festa da Bugiada e da Mouriscada de Sobrado, recordo dois sítios que podem ser úteis.

- Para uma breve apresentação, ver Festa da Bugiada, na Wikipedia
- Para uma leitura mais extensa, consultar o meu texto sobre a Festa, na Biblioteca Online de Ciências da Comunicação.

quinta-feira, junho 22, 2006

Uma sessão memorável

Mais de uma centena de pessoas viveram ontem à noite, em Sobrado, um momento memorável, com a projecção do filme "Bugiadas", do realizador Ângelo Peres. Com a duração de 37 minutos, o filme mostra a festa de S. João de Sobrado de 1977, dando-nos a ver, no ecrã, além dos que já desapareceram, os que eram, então, jovens protagonistas e são agora cinquentões, e crianças que hoje são adultos maduros.
Foi uma experiência do melhor que o cinema pode dar, que é quando as pessoas se vêem e se sentem naquilo que vêem; tomam consciência da passagem do tempo (do pouco que se vê, dá para perceber como a freguesia mudou, entretanto); e, na experiência feita, reavivam a memória, condição absolutamente vital da construção do futuro.
No final, foi prestada uma singela homenagem ao realizador, actualmente professor na Universidade do Minho, o qual teve o gesto de oferecer à Casa do Bugio a lata com o filme original ontem visto (entretanto digitalizado na Tóbis, na última semana).

Bugiada já está a "mexer"

Sob o título "Bugiada já está a 'mexer'", escreve o jornalista Nuno Silva, no Jornal de Notícias de hoje, na secção de Grande Porto:

"Mouros e cristãos voltam a confrontar-se, depois de amanhã, em Sobrado, Valongo. A eterna batalha entre os também conhecidos por mourisqueiros e bugios pela posse da imagem milagrosa de S. João "ressuscita" a lenda que todos os anos traz milhares de pessoas às ruas da vila. Os preparativos para a Festa da Bugiada estão em marcha e a tradição, claro, será religiosamente cumprida.
António Pinto, um dos organizadores, adiantou ao JN que, este ano, serão cerca de 600 os figurantes que darão corpo às encenações (danças e lutas) que marcam as festividades. A animação arranca às 8 horas e prolongar-se-á até cerca das 21 horas, passando por diversos pontos da freguesia valonguense, com destaque para o Passal, em frente à igreja matriz.
A "guerra " pela imagem do S. João, o ponto alto do dia, está marcada para as 19 horas. Bugios e mourisqueiros medem forças. Os primeiros usam máscaras, penachos e castanholas e têm espírito folião. Os adversários trajam fatos coloridos, barretinas e usam espadas. Representam a vertente "militar", mas acabam por ser batidos. Além da batalha, não vão faltar várias encenações de crítica social, a Dança de Entrada, os rituais da lavra da praça (em que as operações são feitas na ordem inversa) e as habituais Sapateirada, Dança do Cego e Prisão do Velho.
Na contagem decrescente para uma festa popular que se tornou uma das imagens de marca de Sobrado, os preparativos seguem a bom ritmo. António Pinto deu conta de que os palanques já estão montados desde sábado e que já têm decorrido outras iniciativas culturais relacionadas com a festa.
(Foto de José Carmo/Arquivo JN, representando a sementeira)

domingo, junho 18, 2006

Afirmar a identidade da Bugiada

O colóquio sobre a Festa de S. João de Sobrado, que decorreu na passada sexta-feira à noite, na sede da Junta de Freguesia, além de ter sido, tanto quanto me lembro, a primeira iniciativa do género promovida em terra sobradense, foi também excelente ocasião para debater alguns pontos importantes sobre a festa.
O contributo do Dr. Helder Pacheco, que tem prestado um serviço importante na divulgaçao da festa através dos seus livros, incidiu particularmente em dois pontos:
- o carácter único das Bugiadas e Mouriscadas de Sobrado no panorama das festas tradicionais portuguesas e mesmo europeias;
- o dilema entre manter a Bugiada na sua autenticidade e procurar conferir-lhe projecção e visibilidade aquém e além-fronteiras.
Para este especialista da história e da cultura popular do Porto, o caminho, em qualquer caso, não pode ser outro que manter "fidelidade às raízes" e apostar na conservação da memória e no que esta festa tem de distinto e diverso. Não afirmar esta diferença e esta identidade própria seria absolutamente fatal, no contexto de uma Europa cinzenta e carente de côr.
(Outros aspectos deste colóquio serão, a seu tempo, registados aqui).

sexta-feira, junho 16, 2006

Mais uma história

Não têm fim as histórias que se contam em Sobrado, demonstrativas da paixão pela Bugiada e pela Mouriscada
Esta passou-se com uma família dos Senande e é contada por um dos filhos:
O pai estava emigrado na Venezuela. Sempre que podia, vinha a Sobrado para ir de Bugio. Aconteceu alguns anos vir directo para a festa e os familiares saberem que ele cá estava quando já estava a dançar.
Num certo ano, veio munido de uma máquina de filmar e fez um filme sobre a Bugiada que levou para o país em que vivia e trabalhava. Nos anos em que não podia vir a Sobrado ao S. João, projectava o filme numa parede e punha os filhos a dançar a Bugiada.

A foto mais antiga?
















Segundo declarações de Maria Margarida de Sousa Fernandes, a 15 de Junho de 2000, ao Museu da Pessoa, a foto junta refere-se ao almoço dos Mourisqueiros na Festa da Bugiada em 1913. Ao topo da mesa encontrar-se-ia o Reimoeiro Alberto Martins Fernandes, pai da entrevistada. A ser assim, esta seria a foto mais antiga que se conhece da festa de Sobrado.

segunda-feira, junho 12, 2006

Programa da Festa de S. João 2006

A festa de S. João de Sobrado deste ano inclui, no cartaz, e para além dos aspectos que já são tradicionais, um vasto conjunto de manifestações culturais e recreativas. Sublinhando apenas aquilo que se relaciona directamente com a Bugiada e Mouriscada, destaca-se:

Dia 16 - Às 21.30h, na sede da Junta de Freguesia de Sobrado, conferência sobre a Bugiada e o seu contexto local e global, por Helder Pacheco e Manuel Pinto.

Dia 17 - De manhã, construção dos palanques de Bugios e Mourisqueiros.

Dia 18 - Às 17.30h, ultimo ensaio no Passal e os tradicionais Tremoços com beberete, na Casa do Bugio

Dia 21 - Às 21.30h, no Centro Social e Cultural de Sobrado, Projecção do filme de cinema sobre a festa de S. João em 1977 (realizador: Ângelo Peres e cooperativa Moviola). (esta data foi corrigida; encontrava-se referido o dia 22).

Dia 24 - A partir das 8h e até cerca das 21h, Danças e lutas de Bugios e Mourisqueiros (incluem a Dança de Entrada, pelas 13h, Rituais da Lavra da praça, pelas 15h, Sapateirada e Dança do Cego pelas 17 horas e Prisão do Velho, pelas 19.30h).

Além de tudo quanto fica referido, o programa inclui ainda
- Um concerto de música sacra pelo grupo "Capella Antiqua" na Igreja Matriz (dia 17, às 21.30);
- Sarau das Associações de Sobrado (dia 20, às 21.30h)
- Sobradito Futebol de Praia (final do torneio dia 25, às 11h)
- Noite de folclore (dia 21, às 22 horas)
- Animação a cargo da C.M. Valongo (dia 22, às 22h)
- Actuação do grupo "Rumos Nordeste" (dia 23, às 22h, seguido da sessão de fogo de artifício);
- Actuação do grupo UHF (dia 24, às 00.15h)
- Actuação do grupo de dança "Jovens Santo André" (22.30h), "Instintos Radicais" (23h), Tony Knofler e Sua Banda (24.00h) e banda Rock "Squid" (00.45), no dia 24.

segunda-feira, maio 01, 2006

Fim de semana de mota pelo S. João

No próximo fim de semana vão-se ouvir as motas de duas e quatro rodas em Sobrado. É mais uma iniciativa da Comissão de Festas de S. João para promover o convívio e angariar fundos para a festa, que está a menos de dois meses.
No sábado, a partir das 8h, iniciam-se na Casa do Bugio as inscrições para o "raid" todo o terreno de duas e quatro rodas. Os percursos situam-se nos montes envolventes da vila e far-se-ão de manhã e de tarde. Há almoço e jantar servido pela organização. No caso do jantar, outros convivas que não os do raid poderão também inscrever-se. Na noite deste primeiro dia haverá ainda um concerto ao vivo da banda Tony Knofler.
No domingo, a partir das 14, no Alto de Vilar, acontecerá o Raid S. João 2006 - 1º Prova Quad "kabadas Park", com prémios para os primeiros classificados.

domingo, abril 02, 2006

Mega-Churrascada de S. João 2006

IMAG0127É já no próximo sábado, a partir das 19 horas, que se realiza a mega-churrascada de S. João 2006, uma proposta da Comissão de Festas de S. João de Sobrado que visa proporcionar mais uma ocasião de convívio e que constitui uma via de angariação de fundos para a festa deste ano. A iniciativa será animada por dois grupos de dança sobradenses: o Instintos Radicais e o Grupo de Dança da Associação Social e Cultural de Sobrado. Por dez euros (metade, no caso de crianças com menos de 12 anos), os participantes poderão saborear cricoulos, chouriço na brasa, azeitonas, porco na brasa, acompanhado com arroz de feijão malandro e caldo verde. À sobre-mesa, as tradicionais sopas secas, café e digestivo. Uma noite de convívio e de alegria

NB - Corrigido o nome do Grupo de Dança da Associação Social e Cultural de Sobrado, que tem, naturalmente, todo o direito ao seu verdadeiro nome. Obrigado pela correcção ao autor (anónimo) do comentário.

domingo, março 12, 2006

São João e Salomé

A Festa de S. João de Sobrado celebra e invoca S. João Batista. Nâo é seguro que as danças da Bugiada e da Mouriscada sempre tenham sido feitas a 24 de Junho. Há autores que levantam a possibilidade de haver uma festa anterior de S. João, que terá acolhido Bugios e Mourisqueiros, quando a Igreja se ocupou, a partir do século XVIII, a depurar as procissões de Corpus Christi. Se assim foi não o sabemos.
Em todo o caso, o S. João de Sobrado está intimamente ligado a S. João e a devoção é forte: em anos recentes, o "pagamento" de promessas à imagem do Santo terá ultrapassado os 5.000 euros num só dia. Curiosamente, são os Mourisqueiros quem leva o andor do Santo, na procissão ao fim da manhã, e não, como seria de esperar, os Bugios, que representam os cristãos.
E quem foi este S. João Batista?
Os elementos de que dispomos ligam-no intimamente a Jesus. A revista Pública, pela pena de Maria Luísa Paiva Boléo, trouxe, em 23 de Junho de há dez anos, uma biografia que se encontra disponível na web. Daí respigamos alguns elementos:

"João era conhecido por João Baptista, porque baptizava nas águas do Jordão todos aqueles que acreditavam que um dia a lei dos homens seria alterada com a chegada de um "messias". Como sabemos, foi S. João quem baptizou Cristo, quando este iniciou a sua vida de pregador. João Baptista é uma das figuras mais respeitadas da história judaico-cristã e a sua vida é também admirada pelos muçulmanos. Tem um culto assinalável na Turquia, bem como em várias zonas do Oriente. Envolve-o uma aura de homem bom, num sentido universal e muito mais vasto que o da santidade da Igreja Católica.João era filho de Zacarias e Isabel, primo de Jesus de Nazaré, que ainda não iniciara a sua vida pública. Isabel concebera-o em idade avançada e João, desde o seu nascimento, tinha a missão de anunciar a chegada do Salvador - de Jesus Cristo. Mas as profecias, mesmo para Herodes Antipas, eram para respeitar e João Baptista tinha o condão de o perturbar. Herodes era um homem pouco culto, medroso, ignorante, pouco mais do que um nómada, e tinha medo do profeta. O tetrarca mandou que o trouxessem à sua presença, pois queria ouvi-lo. João repetiu-lhe o que já dissera antes, que o casamento dele com a cunhada era "sacrilégio" segundo as leis. E mais, disse-lhe que a repudiasse e que voltasse para a mulher legítima, que expulsara injustamente, e que, se não o fizesse, cairia a maldição sobre Israel. Herodes, sob pressão de Herodias, mandou-o encarcerar numa prisão-cisterna". (...)
"Herodes Antipas quis esquecer que as palavras de João o torturavam e não o deixavam dormir. Era o seu aniversário e quis festejá-Io com toda a pompa. Os seus territórios eram vastos, chegavam bem para lá do rio Jordão e a festa deveria ser falada por toda a parte. Foram convidados todos os príncipes, que acorreram da Judeia e da Galileia e trouxeram os seus séquitos. Bailarinas de longes paragens vieram com a sua graça animar o banquete. Foram preparadas as melhores iguarias.Entre cada prato servido, tocava-se música e as bailarinas núbias e egípcias, ao som de alaúdes e flautas esvoaçavam entre os convivas. Os vinhos de Chipre e da Grécia enchiam taças de metais preciosos e reinava a alegria. Na sala do banquete só era permitida a entrada a elementos do sexo masculino. Bailarinas e escravas, não eram consideradas pessoas. Estavam ali para o prazer dos convidados. Era o costume do tempo.De repente, reza a lenda, a orquestra faz silêncio e, para surpresa de todos, aparece uma bailarina desconhecida acompanhada de escravas. Todos esquecem a refeição e não tiram os olhos daquela beleza sem rival - era Salomé. Ela vai dançar. As escravas passam-lhe pelo corpo perfumes, sândalo e outras essências. Colocam-Ihe nos braços e tornozelos pulseiras. Salomé está descalça e as suas vestes são tules e finas musselines transparentes, a fazerem adivinhar um corpo perfeito... e então Salomé começa a dançar. Eugénio de Castro, no seu poema lírico, descreve-a assim:"Radioso véu, mais leve que um perfume,Cinge-a, deixando ver sua nudez morena,Dos seus dedos flameja o precioso lumeE em cada mão traz uma pálida açucena.E a infanta avança. ao som dos burcelins...Como sonâmbula perdidaEm encantos, místicos jardins,Dir-se-ia que dança desmaiandoAo perfume das flores que estão em roda...Dir-se-ia que dança e está sonhando...Dir-se-ia que a estão beijando toda..." Salomé termina a dança. Os aplausos são entusiastas. Os convidados de Herodes querem mais. E Herodes, louco de desejo, pede: "Salomé, dança mais uma vez!" Ela recusa, esquiva, mas de novo o tetrarca seu tio insiste: "Dança para mim outra vez! Se o fizeres, pede-me o que quiseres que te darei, nem que seja metade dos meus reinos. Tudo será teu!" Salomé hesita, mas depois, num relance, percebe que tem, naquele momento um poder imenso e vai usá-lo. Como? Caprichosa, e sem pestanejar, como quem tira um fruto maduro de uma taça, diz: "Quero a cabeça de João Baptista numa bandeja de prata." Herodes Antlpas fica branco, quase petrificado, não acredita no que ouve e diz-lhe para escolher algo diferente. Que peça jóias, tecidos caros mandados vir de longínquas paragens, os luxos mais inatingíveis, mas a cabeça do profeta não. Herodes tem medo, não é a bondade que o faz agir assim, ou talvez, lá no fundo, pense que aquele homem não merece a morte, porque não é um criminoso, não atentou contra a vida de ninguém, embora nesse tempo mandar matar fosse quase uma banalidade.Imperturbável, Salomé repete, sem hesitar: "Danço outra vez para ti, se me trouxerem a cabeça de João Baptista." E Herodes cede. Tem de cumprir a palavra dada perante tantas testemunhas e manda que as suas ordens se cumpram. Entrega ao chefe da guarda pessoal o seu anel, para que este o mostre ao carrasco e para que este execute, sem demora, a sentença. A prisão onde estava João Baptista distava ainda alguns quilómetros do palácio. Terá havido um silêncio arrepiante? Ou a música e o festim prosseguiram?Um pouco mais tarde, a cabeça de João Baptlsta é trazida à presença de Salomé. Esta olha-a, ainda ensanguentada. A partir daquele momento, João Baptista é um mártir, é o santo que tantos séculos depois a humanidade não esqueceu. É evocado no dia do seu nascimento - 24 de Junho" (...).

domingo, março 05, 2006

Alguém ouviu falar
na "Dança da Jaquina"?

Esta nota é apenas para os sobradenses ou a eles ligados. Desculpem, pois, os leitores que se sintam fora do alcance da pergunta. Mas ela é muito importante para a memória da Festa de S. João de Sobrado.
Há pessoas já de alguma idade que referem que, quando eram crianças, se fazia a "Dança da Jaquina". Teria lugar ao princípio da tarde, do dia de S. João, antes da "Cobrança dos d'reitos".
Aqui fica o desafio aos sobradenses que porventura lerem este post: procurem interrogar familiares e conhecidos; perguntem-lhes se ouviram falar na Dança da Jaquina; tentem saber se alguém a presenciou; ou mesmo se alguém nela participou e em que consistia. Todas as informações sobre o assunto interessam. Porque nos podem dar a conhecer algo que há muito desapareceu.
Todas as informações podem ser enviadas por mail ou podem ser colocadas clicando nos comentários.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Noite de Carnaval e Churrascada
- duas festas para preparar a Festa

Para promover o encontro e o convívio entre os sobradenses, e também como forma de conseguir alguns fundos para a Festa de S. João de Sobrado, vão realizar-se as seguintes iniciativas, para as quais todos estão convidados:

  • 27 para 28 de Fevereiro - Noite de Carnaval, festa de máscaras, com comes-e-bebes, na Casa do Bugio.
  • 8 de Abril, às 19 horas - Churrascada. Igualmente na Casa do Bugio.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Já há Reimoeiro e Velho da Bugiada

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Há fumo branco quanto às designações do Reimoeiro e do Velho da Bugiada para a festa de 2006:

Reimoeiro: Pedro Vale, do lugar do Terreiro
Velho da Bugiada: Lindoro Cavadas, do lugar de Vilar.

O primeiro estava definido já há algum tempo e a designação foi óbvia e pacífica. Já para Velho havia nada menos de quatro aspirantes. Após um processo difícil, a escolha acabou por ser efectuada por votação secreta dos membros da Comissão de Festas, no decurso de uma reunião efectuada na passada sexta-feira.
Ao Velho cabe um vasto conjunto de tarefas preparatórias da Bugiada, muito superiores àquelas que cabem ao Reimoeiro.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Entrudo de Lazarim

LazarimDe comum com a Bugiada têm a máscara diversas festas tradicionais. Uma dessas festas é a que tem lugar anualmente em Lazarim (Lamego), sob a designação de Entrudo de Lazarim. A festividade tem início no sábado, dia 25, com animação de rua e gastronomia própria da época (ex.: Patuscada de Porco), mas é no dia de Carnaval propriamente dito que os mascarados saem à rua. A partir das 15 horas, é feita a leitura do Testamento dos Compadres e das Comadres (ver exemplo aqui), seguindo-se um concurso de máscaras e a Queima dos Compadres. Termina a função com a gastronomia: feijoada e caldo de farinha.
Este Entrudo foi proibido pelo regime de Salazar, nos anos 50, mas votou a ganhar vida já nos anos 80 do século findo. As máscaras de Lazarim são por tradição confeccionadas em madeira de amieiro (um trabalho jornalístico sobre esta tradição pode encontrar-se no mais recente número da revista Tempo Livre, editada pelo INATEL).
Para ir a Lazarim: Uma vez na cidade de Lamego, seguir a estrada nacional EN226 na direcção de Tarouca. Poucos minutos depois, há um desvio assinalado para aquela vila.

domingo, fevereiro 12, 2006

Comissão de Festas de S. João 2006
  • Agostinho Manuel Jorge Ferreira
  • Albino Veloso
  • Alcino Jose Cruz Santos Pinto
  • António César Ribeiro Ferreira
  • António Fernando Moreira Gaspar
  • António Jose Dias Santos
  • António Manuel Moreira Marques do Vale
  • Augusto Lindo
  • Bruno Sousa
  • Carlos Manuel Pinheiro Andrade
  • Celeste Silva Machado
  • Celia Leão
  • Clemência Alves Martins Ferreira
  • Conceição Lindo
  • Domingos Soares Moreira
  • Elisabete Leão
  • Fábio Manuel Silva Rebelo
  • Fernando Manuel Moreira Dias
  • Filipe Eduardo Martins Barros
  • Flávio Vale
  • Francisco Mesquita
  • Joaquim Fernando Carneiro Soares
  • Joel Filipe Pereira Antas
  • José Artur Dias da Silva Santos
  • José da Silva Machado
  • José Domingos Pereira Soares
  • José Manuel Pinto
  • José Manuel Dias Ribeiro
  • José Manuel Ruas Moreira
  • José Maria Veloso Delgado
  • Leonel Alves Carneiro
  • Lindoro Moreira dos Santos
  • Luís Costa Nunes
  • Luís Manuel Fernandes da Silva
  • Manuel António Silva Pinto Suzano
  • Manuel Fernando Almeida Coelho
  • Manuel Fernando Almeida Silva
  • Manuel Joaquim Silva Pinto
  • Marco Aurélio Cruz
  • Marco Joel Carneiro Ramalho
  • Maria Fernanda Fernandes Costas
  • Nuno Filipe Ferreira Mesquita
  • Nuno Filipe Pereira Silva
  • Paulo Manuel Silva Pereira
  • Pedro Manuel Gaspar Moreira
  • Pedro Miguel Ferreira Do Vale
  • Serafim Manuel Dos Santos Rocha
  • Sérgio Nuno Sousa Silva.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

A Festa de 2006 começa a rolar

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Estão a animar-se os preparativos da Festa de S. João de 2006, mais conhecida por Bugiada de Sobrado. Em reunião há dias verificada, juntaram-se mais de três dezenas de voluntários - homens e mulheres - para fazer a festa, convidados pela Comissão Administrativa que dirige actualmente a Casa do Bugio. Elegeu-se um executivo e começou-se a colocar sobre a mesa algumas ideias de iniciativas a levar a cabo. O essencial vai ser definido numa nova reunião a realizar na próxima sexta-feira.
Entretanto, aconteceu algo que é inovador. É, por tradição, à Comissão de Festas que cabe decidir quem irá ocupar os cargos de Velho da Bugiada e de Reimoeiro. Se relativamente a este último, as coisas parecem à partida definidas, no caso do Velho, há pelo menos quatro candidatos que se perfilam para o lugar. Em vez de decidir por um deles, a Comissão decidiu adoptar uma metodologia diferente: convidou os quatro a reunir-se e, se assim entendessem, a acertarem por consenso o nome daquele que seria o Velho deste ano. A reunião fez-se, mas dela não saiu fumo branco. Os quatro entenderam voltar a passar para a Comissão o encargo dessa decisão.
Como é evidente, uma tal escolha não se faz pelos "lindos olhos" dos candidatos. Há critérios que, tradicionalmente são, ou devem ser, tidos em conta. Não apenas a antiguidade e experiência, mas também a dedicação à "causa" dos Bugios, a arte de dançar, etc. É em função desses pressupostos que, muito em breve, uma decisão terá de ser tomada. E dessa decisão dependem muitas outras decisões. Como iremos vendo, nos próximos tempos.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

"Máscaras em Portugal": evento em V. P. Aguiar

Mascaras_thumb A Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar promove, de domingo até 12 de Fevereiro, um evento designado "Máscaras em Portugal".
A iniciativanto abre às 17 horas de domingo com a inauguração de uma exposição sobre o mesmo tema e com a apresentação do livro "Inverno Mágico - Ritos e Mistérios Transmontanos". Nos dias 4 e 11 de Fevereiro, será feita uma demonstração sobre a construção de máscaras em madeira. No dia 11 do mesmo mês, depois de um almoço de Entrudo, terá lugar, às 14.30, um debate sobre "As máscaras em Portugal", após o que sairá um desfile de caretos e bombos. Segue-se um baile de máscaras e, finalmente, uma ceia de Entrudo.
(Contactos para mais informações: 259119100)

sábado, janeiro 21, 2006

Vai arrancar a preparação da Festa de 2006

Realiza-se no próximo dia 27, às 21.30, na Casa do Bugio, a reunião que marca o arranque dos preparativos da Festa de S. João de Sobrado de 2006.
Como ninguém se propôs para juiz da festa, cabe à Associação da Casa do Bugio a iniciativa de a organizar, conforme consta dos Estatutos da Associação.
Segundo soubemos, a Comissão Administrativa conseguiu já reunir um grupo alargado de pessoas que se dispôs a colaborar nas inúmeras tarefas a que é necessário dar andamento.
A reunião da próxima sexta-feira servirá para traçar um plano de trabalho e atribuir responsabilidades e definir prioridades, quanto aos preparativos.
Segundo reza a tradição, mesmo nos anos em que não havia juiz ou Comissão, nunca a festa deixou de se fazer. Mesmo quando às portas da freguesia liberais e absolutistas se digladiavam, na primeira metade do século XIX.
Pode haver crise associativa; não há, seguramente, crise da festa.

terça-feira, janeiro 03, 2006

Constituição da Comissão Administrativa da Casa do Bugio

Na sequência da última Assembleia Geral, e perante a inexistência de lista candidata aos corpos gerentes, foi decidido manter at´re ao S. João uma Comissão Administrativa com a seguinte composição:

- Presidente: Manuel António da Silva Pinto Suzano
- Secretário: António José Dias dos Santos
- Tesoureiro: Fernando Almeida Coelho
- Vogais:
  • António Manuel Moreira do Vale
  • Nuno Filipe Pereira da Silva
  • Joaquim Fernando Carneiro Soares
  • António Fernando Moreira Gaspar
  • Manuel Fernando Dias Moreira