quarta-feira, julho 04, 2012

Assembleia Municipal unânime no reconhecimento da Bugiada e Mouriscada

A reunião da Assembleia Municipal de Valongo da passada semana, dia 27, aprovou por unanimidade a proposta de reconhecimento da Festa da Bugiada e Mouriscada de Sobrado como património imaterial de interesse municipal, assim reforçando idêntica deliberação recentemente assumida, também por unanimidade,pelo Executivo da Câmara.
Segundo relata A Voz de Ermesinde, a proposta, além de unanimemente aprovada,
mereceu os parabéns à Câmara por parte de José Manuel Pereira (Coragem de Mudar) e uma declaração de Carlos Mota, presidente da Junta de Freguesia de Sobrado, que agradeceu a mesma aprovação. Um e outro apontaram a necessidade de estudar esta manifestação cultural, dotando-a de um corpus documental que ainda lhe falta, para que o seu reconhecimento possa atingir o grau mais elevado

terça-feira, julho 03, 2012

Sete notas sobre a festa de 2012


É sempre muito o que observo e aprendo com cada edição da festa. Este ano não foi exceção, ainda que tivesse tido de prestar mais atenção ao acompanhamento de alguns visitantes do que ao modo como decorreram algumas partes e às vivências em torno da festa.  Aqui vão algumas notas:

1.
- Bugios: São sempre impressionantes pelo número, pela cor, pela algazarra. Os 'sardões' estão a desaparecer, não estão? Alguém me dizia que os Bugios agora já não saltam com antigamente. Será? Será do calor? Costumamos dizer que são sempre para cima de 600. As aparências enganam. Pus-me a contá-los à entrada do 'jantar' e não chegavam a 400. Supondo que não falhei por muitos, mesmo assim é muita pessoa. Já agora: porque é que não pôde ir uma menina Bugia limpar as lágrimas ao Velho, como era desejo deste? Se elas vão de Bugio (que não é tradição antiga), porque não podem subir ao castelo?

2.
- Mourisqueiros: uma grande Mouriscada quanto ao número, não haja dúvida. Contei 44 mais o Rei. Alguns com ar de muito novos o que abre perspetivas para o futuro. Em algumas partes do dia, o cansaço era bem visível até nos postos cimeiros do 'exército'. Na Prisão do Velho houve algumas falhas, mas ninguém é perfeito. Não sou daqueles que exigem atuações sem falhas, embora estas possam servir de lição e estímulo para os que vierem a seguir.

3.
- Nas Entrajadas, para mim (e julgo que não só), se houvesse um prémio coletivo, ia diretinho para os Supermercados Pito Doce. Notável pelo trabalho, pela apresentação e pela criatividade. Em termos individuais, o observador da UNESCO, devidamente 'credenciado', foi também uma figura que se destacou.  Esta parte é sempre interessante. É uma parte constituinte da Festa, que importa não perder nem abandalhar. Mas faz parte ser crítico, ser criativo e ser polémico. Quanto à água, este ano 'provei' a valer, mas como estava calor soube bem. Não sou radicalmente contra, mas acho que se isto começar a descambar, grande parte das pessoas ir-se-á embora mal acabem as danças de entrada, o que jogaria contra os próprios grupos que investem nas Entrajadas. Fica aqui o apelo.

4.
- O arranque da festa na casa do Reimoeiro e do Velho é sempre um indicador precioso do carinho com que familiares e vizinhos recebem a honra de ter, por um dia, um tão saliente destaque na Festa de S. João. O arruamento do Caminho Novo tinha a abrir, a foto engalanada do Reimoeiro, como que a dizer que estávamos a entrar no seu território. O Velho tinha igualmente a casa engalanada, mas preferiram aproveitar para homenagear o S. João. E está bem. Foi aqui - ou seja, na Balsa - que ouvi um sobradense já com mais de 60 anos comentar, ao ver a Dança dos Bugios: "Sabes, fico doente a ver isto. Foram muitos anos a dançar. Mal cheguei aqui, comecei a vê-los, fiquei logo mal". Estranha doença esta que tem quem venha ao seu encontro, não é? (digo eu).

5.
- Fotografias e vídeos: este ano foram aprovadas algumas normas para que os fotógrafos não atropelem nem estraguem as danças. Já correu melhor do que em anos passados. Mas há ainda um longo caminho a percorrer. Alguns, às tantas, não sabiam do regulamento. Mas outros fizeram-se de 'alonso' e lá andavam feitos Bugios e Mourisqueiros sem farda. Os próprios Bugios e Mourisqueiros e, desde logo, o Velho e o Reimoeiro, devem ser os primeiros a impor ordem nesse aspeto. Quem quiser fotografar faz isso de fora do espaço da dança, sobretudo nos momentos mais importantes.

6.
- Comissão de Festas: em Sobrado não era novidade haver comissões constituídas só por mulheres. Creio que pelo menos já houve na Festa da Sª das Necessidades. Mas na Festa de S. João, que é território ainda muito masculino, foi a primeira vez, o que merece registo. A imagem que passou para o exterior foi de que formaram equipa e trabalharam equipa. E, como era de esperar, deram conta do recado. Entre outras iniciativas, a Comissão apoiou a edição de um livro ilustrado, da autoria de Francisco Costa, que só tive ocasião de encontrar alguns dias depois da Festa.

7.
- Câmara de Valongo: este ano investiu na Festa como creio nunca ter acontecido no passado. Algumas das iniciativas já foram aqui noticiadas. O (novo) Presidente da Câmara convidou homólogos seus (vi o Presidente da Câmara de Paredes, de Felgueiras, de S. João da Madeira, pelo menos). Estiveram também na Festa Presidentes da Junta do Município. Houve quadros superiores da Câmara que estiveram nos ensaios e durante todo o dia da Festa. Para os sobradenses e os munícipes em geral, é bom e salutar sentir esse interesse e esse investimento.Até porque no dia 24 à noite, começou a contagem decrescente para a Festa de 2013. E o ano que vem aí promete trazer novidades.

segunda-feira, julho 02, 2012

Não permitir a 'domesticação' da Festa



Foi um serão agradável aquele que reuniu há dias em Braga algumas pessoas ligadas à Universidade do Minho (mas não só) e alguns sobradenses, dois dos quais residindo há largos anos na cidade dos Arcebispos, e tendo como motivo o filme "Bugiadas", realizado por Ângelo Peres, em 1977.
A sessão teve início com o visionamento do vídeo promocional da Festa de S. João de Sobrado que esteve até este fim de semana no espaço do Turismo Porto-Norte, no aeroporto Sá Carneiro, em Pedras Rubras. Foi a forma de "abrir o apetite", por assim dizer. Seguiu-se uma sumária apresentação da festa e uma igualmente sumária apresentação do filme, feita pelo realizador, presente na sessão.
Após a projeção do filme, seguiu-se um período de comentários e debate. Deste é de realçar uma pergunta sobre se os reconhecimentos e registos a que a festa está a ser submetida e que poderão culminar com a candidatura a património imaterial da UNESCO não correrão o risco de rigidificar, domesticar e "turistizar" uma tradição com o seu lado irreverente, subversivo e crítico. A conversa foi no sentido de reconhecer que esse risco existe e existirá, mas que há também, em Sobrado, a consciência dele e a vontade de não se deixar domesticar ou tornar num produto para turista ver. Para tal, é importante continuar a apostar numa festa que é, antes de mais dos e para os sobradenses, o que não significa que não se cuide de acolher e tratar bem quem se interessa pela tradição e visita a vila de Sobrado.
É esse o desafio que fica desta sessão bracarense.
(Crédito das fotos: Ângelo Peres)