terça-feira, dezembro 26, 2006

A Mourisca também em Trás-os-Montes

Do ponto de vista do estudo das festas tradicionais, não parece abusivo estabelecer um paralelo entre as festas solsticiais de Verão e as de Inverno. O dia de hoje - 26, de Santo Estêvão, o jovem que, segundo a lenda, foi o primeiro mártir do cristianismo - é um dia maior deste ciclo de Inverno, especialmente com as Festas de Rapazes, em Trás-os-Montes (Cf. uma lista aqui).
Uma das localidades em que tive já oportunidade de participar foi na Torre de Dona Chama e a sua Festa dos Caretos. É um caso interessante porque nela tem lugar, entre várias outras manifestações, o "Correr da Mourisca".
Esta tradição é assim descrita no site "Torre de Dona Chama":

"As «Mouriscas» e os «Caçadores», os reis «Mouros» e os «Cristãos», já estiveram presentes na missa de Santo Estevão. As «Mouriscas» usam por cima da roupa um lenço ou fita vermelhos traçados sobre o peito e na cabeça um lenço apertado em jeito de turbante.Ainda há poucos anos era um papel só reservado aos rapazes. Hoje também raparigas o desempenham. Os caçadores não usam roupa especial, mas sim uma caçadeira.Os reis têm roupagem própria: o «Mouro» manto vermelho, coroa e um pau ou espeto de ferro com uma laranja espetada na ponta; o «Cristão» um manto branco, coroa e pau espeto de ferro com uma maçã espetada na ponta. O objectivo das diversas acções é que a «Mourisca»arda; que mais uma vez os caçadores «Cristãos» vençam e que a tradição se mantenha e passe de geração em geração...Já ao anoitecer do dia 26 de Dezembro, os caçadores em grupos de dois ou três dão a volta ao povo e com um tiro junto de cada portal afugentam alguma «Mourisca» que tenha ficado escondida."

domingo, dezembro 17, 2006

A componente carnavalesca da Festa de S. João

São várias as manifestações presentes na Festa de S. João de Sobrado que podem ser inscritas nas tradições de cunho carnavalesco. É o caso das cenas de crítica social que aparecem desde manhã cedo e até ao fim das Danças de Entrada; é, ainda o caso de alguns pormenores relacionados com os trajes e os rituais (da Lavra, por exemplo), que ocorrem da parte da tarde do dia 24.
Isto não é específico de Sobrado. Como escreve João Ferreira Duarte, Professor da Universidade de Lisboa, que alude, neste contexto, expressamente às Bugiadas de Sobrado, num curto artigo intitulado "carnavalização", publicado no e-Dicionário de Termos Literários:

"Carnaval não se refere aqui apenas ao período antes da Quaresma e centrado no Mardi gras ou Fastnacht, que continua a ser celebrado nas sociedades contemporâneas, mas compreende determinadas festividades que, durante a Idade Média e o Renascimento, decorriam também noutros momentos do ano associados a comemorações sagradas, como o Corpus Christi, e chegavam a totalizar cerca de três meses. As suas origens remontam certamente aos cultos dos mortos e rituais propiciatórios e celebratórios de comunidades agrícolas primitivas que ocorriam durante o tempo das sementeiras e das colheitas, a figuras há muito estudadas pelos antropólogos, como o bode expiatório e o rei sacrificial, e em particular às festas em honra do deus Saturno, que na Roma antiga tinham lugar em Dezembro e eram conhecidas como as Saturnalia. À semelhança do "mundo às avessas" do Carnaval, no tempo em que duravam as Saturnalia vivia-se quotidianamente a inversão da ordem social normal: os escravos tomavam o lugar dos senhores e entregavam-se a toda a espécie de prazeres habitualmente proibidos, numa imitação simbólica do reinado de Saturno, a Idade de Ouro da felicidade e abundância reproduzida na utopia medieval e renascentista do País de Cocanha ou Schlaraffenland."
O autor refere três aspectos do universo do Carnaval dignos de nota:

1) A representação carnavalesca do corpo, a que Bakhtine chama realismo grotesco, é centrada nas imagens deformadas e exageradas do "baixo corporal": a boca, a barriga, os órgãos genitais. (...) 2) O uso da máscara simboliza uma das características mais marcantes do Carnaval: a confusão e dissolução das identidades pessoais e sociais, o triunfo da alteridade durante aquele tempo convencionalmente reservado à transgressão. 3) A relativização da verdade e do poder dominantes constitui um dos sentidos profundos do riso carnavalesco nas suas multímodas manifestações; ao ridicularizar tudo o que se arroga de uma condição imutável, transcendente, definitiva, o Carnaval celebra a mudança e a renovação do mundo."
Qualquer destes aspectos se apresenta como especialmente pertinente em Sobrado.

sábado, dezembro 09, 2006

Ramificações e rastos da nossa tradição


No seu artigo "Moros y cristianos y Los comanches.Dos muestras del teatro hispano en el sudoeste de los Estados Unidos", afirma a autora, Marisa García-Verdugo (Purdue University, Calumet, EUA):
" (...) Las fiestas de Moros y Cristianos en la Península Ibérica, se dividen en tres grupos según las características de las representaciones. Las fiestas del Levante por ejemplo, son fastuosas y multitudinarias. Hay un gran despliegue de color y movimiento. Los bandos hacen embajadas y presentaciones de colectivos específicos, las llamadas filas. El objetivo es reconquistar el castillo. En Andalucía son más modestas, menos ruidosas. Los moros roban la imagen del patrón del pueblo y los cristianos deben rescatarla. Los dos bandos se provocan mutuamente y arengan a sus seguidores. Finalmente los moros se rinden y se convierten. En Aragón los parlamentos entre moros y cristianos son parte de una fiesta que incluye otros elementos folclóricos. La imagen del moro es diferente y presenta matices históricos que incluyen al morisco como parte de la sociedad del Alto Aragón. Según M. Soledad Carrasco Urgoiti, "en Levante y en
Andalucía el moro es ante todo el invasor. En cambio, en el Alto Aragón aunque el motivo histórico sea secundario, parece sobrevivir el recuerdo del morisco subyugado, cuya presencia se sentía como posible causa de perturbación y motivo de constante recelo.(...)"


Por sua vez, em "Algunas observaciones sobre los textos de «Moros y Cristianos» en México y Centroamérica", escreve-se o seguinte:

Las actuales danzas de «Moros y Cristianos» son bailes dramatizados que se representan por los campesinos mestizos en los días del Santo Patrón, u otras fiestas sagradas o profanas. Dos grupos de danzantes (de seis a veinticuatro), jerárquicamente ordenados, realizan una acción dramática, cuya característica es el esquema fijo de tres partes: desafíos (o embajadas) —gran batalla (en que la parte pagana es vencida)— desenlace, el cual comprende el bautismo o la muerte de los vencidos, y a veces, el destino de su «leader», el rey moro4. Variantes del esquema pueden ser: una emboscada (trazada por los moros) o el cautiverio de algunos cristianos que más tarde serán liberados. También pueden ocurrir el combate por un castillo y el robo de una santa imagen. Las alusiones históricas en las danzas están diluidas y pueden referirse sólo a los nombres de los protagonistas. Los paganos son «moros» «turcos» o «africanos»; los cristianos: «castellanos» o «romanos».(..."


Na recensão do livro "Moros y Cristianos : representaciones del otro en las fiestas del Mediterráneo occidental", org. Marlène Albert-Llorca e José Antonio González Alcantud,)Granada, 2003), escreve Bernard Juillerat, na revista l'Homme (nº 170, 2004):

"(...)Les combats entre maures et chrétiens apparaissent au XVe siècle dans les fêtes de cour pour se populariser dès le XVIIIe siècle, alors que le XXe voit de nombreuses fêtes renaître de l’oubli. Simultanément, sous le double effet de l’héritage d’une tradition lettrée et, surtout, du travail des érudits locaux, les textes furent remaniés et fixés par écrit ; aujourd’hui la plupart sont disponibles, voire publiés. La dualité est évidemment centrale dans ce thème scénique où les batailles sont précédées d’embajadas, c’est-à-dire d’échanges diplomatiques, bien que les pièces ne réactualisent pas, à quelques exceptions près, un événement historique particulier. Les maures sont plutôt l’incarnation d’une altérité assimilée aussi bien aux Indiens dans les versions d’Amérique latine qu’aux Français de la conquête napoléonienne en Espagne, ou même aux républicains de la guerre civile. L’opposition sous-jacente est celle du Bien et du Mal, et la référence absolue reste le catholicisme auquel les moros de la scène populaire, d’abord triomphants puis vaincus, finissent par se convertir sous les auspices du saint patron ou de la Vierge locale. Quoique l’ambivalence de la figure du maure trouve son origine dans le second romancero, les représentations de Moros y Cristianos relèvent davantage du «bricolage culturel» que d’une tradition ancienne fidèlement transmise.(...)"

(neste ponto, foi corrigida a autoria da recensão que se encontrava erradamente atribuída)

Finalmente, no artigo "Charlemagne Roi du Congo - Notes sur la Présence Caroligienne dans la Culture Populaire Brésilienne", anota a autora, Marlyse Meyer:


"(...) Le jeu "Chrétiens-Maures" dont j'ai esquissé un modèle brésilien s’étend à toute l'Amérique ibérique : "Il n'y a pas de divertissement populaire qui témoigne le mieux de l'unité fondamentale de la culture hispanique que les fêtes de Moros y Cristianos, car on les retrouve, avec beaucoup d'éléments communs, autant au Portugal qu'au Mexique, qu’en Andalousie, qu'en Galice, qu'au Brésil, ou au Pérou" (Ricard 1958 : 875). R. Ricard (ibid.) distingue deux types de jeux : "le type 'croisade' ou 'reconquête', qui est la lutte autour d'un château-fort dressé au milieu d'une place et finira par être pris d'assaut. Et le type 'Maures sur le rivage', où le château ne figure pas : les Chrétiens s'unissent pour repousser un débarquement, évocation des attaques barbaresques sur les côtes espagnoles". Les antécédents historiques du jeu sont nombreux. R. Ricard rappelle les croisades, la conquête et l'occupation de la péninsule Ibérique par les Maures, les razzia barbaresques. Ajoutons la bataille de Lépante, évoquée par Teofilo Braga (1886) et Mario de Andrade (1959) (...)".

[Crédito da gravura: um dos "Die Moriskentänzer", de Erasmus Grasser)

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Danças mouriscas

As danças mouriscas e de espadas existem em várias partes do mundo, desde a Europa à Nova Zelândia, passando pelos Estados Unidos.
Eis algumas dessas manifestações, através de vídeos disponibilizados pelo YouTube [clicar no centro de cada imagem para ver o vídeo da dança]:





Sarrabulhada

A Comissão da Festa de S. João de Sobrado de 2007 organiza amanhã, sábado, ao fim do dia, uma sarrabulhada. A iniciativa tem lugar na Casa do Bugio e destina-se ao convívio entre sobradenses e a angariar fundos para a festa.