domingo, março 12, 2006

São João e Salomé

A Festa de S. João de Sobrado celebra e invoca S. João Batista. Nâo é seguro que as danças da Bugiada e da Mouriscada sempre tenham sido feitas a 24 de Junho. Há autores que levantam a possibilidade de haver uma festa anterior de S. João, que terá acolhido Bugios e Mourisqueiros, quando a Igreja se ocupou, a partir do século XVIII, a depurar as procissões de Corpus Christi. Se assim foi não o sabemos.
Em todo o caso, o S. João de Sobrado está intimamente ligado a S. João e a devoção é forte: em anos recentes, o "pagamento" de promessas à imagem do Santo terá ultrapassado os 5.000 euros num só dia. Curiosamente, são os Mourisqueiros quem leva o andor do Santo, na procissão ao fim da manhã, e não, como seria de esperar, os Bugios, que representam os cristãos.
E quem foi este S. João Batista?
Os elementos de que dispomos ligam-no intimamente a Jesus. A revista Pública, pela pena de Maria Luísa Paiva Boléo, trouxe, em 23 de Junho de há dez anos, uma biografia que se encontra disponível na web. Daí respigamos alguns elementos:

"João era conhecido por João Baptista, porque baptizava nas águas do Jordão todos aqueles que acreditavam que um dia a lei dos homens seria alterada com a chegada de um "messias". Como sabemos, foi S. João quem baptizou Cristo, quando este iniciou a sua vida de pregador. João Baptista é uma das figuras mais respeitadas da história judaico-cristã e a sua vida é também admirada pelos muçulmanos. Tem um culto assinalável na Turquia, bem como em várias zonas do Oriente. Envolve-o uma aura de homem bom, num sentido universal e muito mais vasto que o da santidade da Igreja Católica.João era filho de Zacarias e Isabel, primo de Jesus de Nazaré, que ainda não iniciara a sua vida pública. Isabel concebera-o em idade avançada e João, desde o seu nascimento, tinha a missão de anunciar a chegada do Salvador - de Jesus Cristo. Mas as profecias, mesmo para Herodes Antipas, eram para respeitar e João Baptista tinha o condão de o perturbar. Herodes era um homem pouco culto, medroso, ignorante, pouco mais do que um nómada, e tinha medo do profeta. O tetrarca mandou que o trouxessem à sua presença, pois queria ouvi-lo. João repetiu-lhe o que já dissera antes, que o casamento dele com a cunhada era "sacrilégio" segundo as leis. E mais, disse-lhe que a repudiasse e que voltasse para a mulher legítima, que expulsara injustamente, e que, se não o fizesse, cairia a maldição sobre Israel. Herodes, sob pressão de Herodias, mandou-o encarcerar numa prisão-cisterna". (...)
"Herodes Antipas quis esquecer que as palavras de João o torturavam e não o deixavam dormir. Era o seu aniversário e quis festejá-Io com toda a pompa. Os seus territórios eram vastos, chegavam bem para lá do rio Jordão e a festa deveria ser falada por toda a parte. Foram convidados todos os príncipes, que acorreram da Judeia e da Galileia e trouxeram os seus séquitos. Bailarinas de longes paragens vieram com a sua graça animar o banquete. Foram preparadas as melhores iguarias.Entre cada prato servido, tocava-se música e as bailarinas núbias e egípcias, ao som de alaúdes e flautas esvoaçavam entre os convivas. Os vinhos de Chipre e da Grécia enchiam taças de metais preciosos e reinava a alegria. Na sala do banquete só era permitida a entrada a elementos do sexo masculino. Bailarinas e escravas, não eram consideradas pessoas. Estavam ali para o prazer dos convidados. Era o costume do tempo.De repente, reza a lenda, a orquestra faz silêncio e, para surpresa de todos, aparece uma bailarina desconhecida acompanhada de escravas. Todos esquecem a refeição e não tiram os olhos daquela beleza sem rival - era Salomé. Ela vai dançar. As escravas passam-lhe pelo corpo perfumes, sândalo e outras essências. Colocam-Ihe nos braços e tornozelos pulseiras. Salomé está descalça e as suas vestes são tules e finas musselines transparentes, a fazerem adivinhar um corpo perfeito... e então Salomé começa a dançar. Eugénio de Castro, no seu poema lírico, descreve-a assim:"Radioso véu, mais leve que um perfume,Cinge-a, deixando ver sua nudez morena,Dos seus dedos flameja o precioso lumeE em cada mão traz uma pálida açucena.E a infanta avança. ao som dos burcelins...Como sonâmbula perdidaEm encantos, místicos jardins,Dir-se-ia que dança desmaiandoAo perfume das flores que estão em roda...Dir-se-ia que dança e está sonhando...Dir-se-ia que a estão beijando toda..." Salomé termina a dança. Os aplausos são entusiastas. Os convidados de Herodes querem mais. E Herodes, louco de desejo, pede: "Salomé, dança mais uma vez!" Ela recusa, esquiva, mas de novo o tetrarca seu tio insiste: "Dança para mim outra vez! Se o fizeres, pede-me o que quiseres que te darei, nem que seja metade dos meus reinos. Tudo será teu!" Salomé hesita, mas depois, num relance, percebe que tem, naquele momento um poder imenso e vai usá-lo. Como? Caprichosa, e sem pestanejar, como quem tira um fruto maduro de uma taça, diz: "Quero a cabeça de João Baptista numa bandeja de prata." Herodes Antlpas fica branco, quase petrificado, não acredita no que ouve e diz-lhe para escolher algo diferente. Que peça jóias, tecidos caros mandados vir de longínquas paragens, os luxos mais inatingíveis, mas a cabeça do profeta não. Herodes tem medo, não é a bondade que o faz agir assim, ou talvez, lá no fundo, pense que aquele homem não merece a morte, porque não é um criminoso, não atentou contra a vida de ninguém, embora nesse tempo mandar matar fosse quase uma banalidade.Imperturbável, Salomé repete, sem hesitar: "Danço outra vez para ti, se me trouxerem a cabeça de João Baptista." E Herodes cede. Tem de cumprir a palavra dada perante tantas testemunhas e manda que as suas ordens se cumpram. Entrega ao chefe da guarda pessoal o seu anel, para que este o mostre ao carrasco e para que este execute, sem demora, a sentença. A prisão onde estava João Baptista distava ainda alguns quilómetros do palácio. Terá havido um silêncio arrepiante? Ou a música e o festim prosseguiram?Um pouco mais tarde, a cabeça de João Baptlsta é trazida à presença de Salomé. Esta olha-a, ainda ensanguentada. A partir daquele momento, João Baptista é um mártir, é o santo que tantos séculos depois a humanidade não esqueceu. É evocado no dia do seu nascimento - 24 de Junho" (...).

domingo, março 05, 2006

Alguém ouviu falar
na "Dança da Jaquina"?

Esta nota é apenas para os sobradenses ou a eles ligados. Desculpem, pois, os leitores que se sintam fora do alcance da pergunta. Mas ela é muito importante para a memória da Festa de S. João de Sobrado.
Há pessoas já de alguma idade que referem que, quando eram crianças, se fazia a "Dança da Jaquina". Teria lugar ao princípio da tarde, do dia de S. João, antes da "Cobrança dos d'reitos".
Aqui fica o desafio aos sobradenses que porventura lerem este post: procurem interrogar familiares e conhecidos; perguntem-lhes se ouviram falar na Dança da Jaquina; tentem saber se alguém a presenciou; ou mesmo se alguém nela participou e em que consistia. Todas as informações sobre o assunto interessam. Porque nos podem dar a conhecer algo que há muito desapareceu.
Todas as informações podem ser enviadas por mail ou podem ser colocadas clicando nos comentários.