domingo, dezembro 02, 2012

"Sobrado é a sua Festa e a Festa precisa da Freguesia"


Eis uma parte do texto lido pelo Presidente da Associação da Casa do Bugio, na Assembleia Extraordinária da Freguesia de Sobrado, há dias realizada, e que teve como assunto a proposta decisão governamental de unir as autarquias locais de S. Martinho de Campo e de Sobrado:

Sobrado é a sua Festa e a Festa precisa da Freguesia
Sobrado é uma freguesia – ou, para sermos mais rigorosos – uma Paróquia que existe há muitos séculos. Aparece documentada nas Inquirições do séc. XIII, pelo que se pode dizer que tem mais de setecentos anos.
Por alguma razão existiu e perdurou este tempo como unidade autónoma , com os seus serviços próprios, que se foram desenvolvendo até ser elevada a Vila, há pouco mais de dez anos.
Sobrado é, no essencial, uma grande planície com mais de meia dúzia de quilómetros de comprimento, rodeada por montes e banhada pelo rio Ferreira. Criou, ao logo da sua história, uma personalidade muito própria, talvez devido ao facto de as grandes rotas de acesso ao Porto não se fazerem através da freguesia. Na verdade, como chamou a atenção o médico Costa Rangel, natural de Rebordosa e que foi presidente da Câmara de Paredes, num artigo que escreveu no jornal portuense Praça Nova, em 1963, Quem se dirigia ao Porto vindo dos lados de Santo Tirso ou de paços de Ferreira, seguia por S. Julião e por Alfena. E quem demandava a Cidade Invicta vindo dos lados de Penafiel ou Vila Real, atravessava em Ponte Ferreira. Sobrado ficava no meio destes trajectos, relativamente isolado.
Quando os habitantes de Sobrado se tinha de dirigir a Valongo e ao Porto muitos atravessavam o monte pelo Alto de Sobrido, a Sul, e era também esse o caminho quando tinham de ir apanhar o comboio.
Ainda hoje – e este é um argumento que importa ter em conta – a freguesia de São Martinho de Campo é apenas um lugar de passagem para os Sobradenses. Não há nada de essencial, em termos de serviços, por exemplo, que leve o habitante de Sobrado a ir a Campo. E vice-versa. São duas comunidades que coexistem, mas cada uma de forma autonoma.

Mas é também preciso dizer com toda a clareza que Sobrado é muito mais do que uma unidade administrativa. É uma freguesia com uma identidade cultural marcada e única. E essa identidade – que a singulariza entre todas as outras que existem ao seu redor – é a Festa da Bugiada e da Mouriscada.
Esta festa identifica Sobrado e os Sobradenses identificam-se com ela. Esta Festa é, no dizer, de muitos especialistas da cultura popular tradicional, uma das mais curiosas e espectaculares que existem em Portugal. Ela mobiliza praticamente, de forma directa ou indirecta, toda a gente. E está presente em todo o lado, incluindo nas comunidades de Sobradenses espalhados pelo Mundo.
Para que a Festa seja cada vez mais promovida e conhecida – se possível através do reconhecimento como património imaterial português e da Humanidade – é fundamental que tenha por detrás uma autarquia local que a sinta como sua, que esteja disposta a apoiá-la e projectá-la, que a torna a bandeira não apenas da cultura e do turismo, mas também alavanca do desenvolvimento económico e social. A Festa da Bugiada e da Mouriscada é Sobrado e Sobrado é esta Festa. Acabar com a Freguesia não vai acabar com a Festa – porque os verdadeiros sobradenses não o vão permitir – mas vai dar-lhe uma machadada muito forte e isso não podemos aceitar.
Isto não quer dizer que os Sobradenses queiram viver fechados sobre si próprios. Nada os move contra ninguém nem contra nenhuma freguesia. O que eles querem é continuar a ser fregueses da sua Freguesia. O que eles não querem é permitir que, acabando com a freguesia, se ataque a sua identidade cultural, que é parte integrante da identidade individual de cada um dos seus habitantes e que foi forjada ao longo de muitos séculos. E isto não pode deixar de ser tido em consideração, quando se quer, nas costas do povo, violentar uma organização administrativa e um modo de vida que tem funcionado bem. Mudar é o que está mal, não o que está bem. Como diz a canção, “pra melhor está bem, está bem, pra pior já basta assim”.
Sobrado é a sua Festa e a Festa precisa da Freguesia.

quarta-feira, julho 04, 2012

Assembleia Municipal unânime no reconhecimento da Bugiada e Mouriscada

A reunião da Assembleia Municipal de Valongo da passada semana, dia 27, aprovou por unanimidade a proposta de reconhecimento da Festa da Bugiada e Mouriscada de Sobrado como património imaterial de interesse municipal, assim reforçando idêntica deliberação recentemente assumida, também por unanimidade,pelo Executivo da Câmara.
Segundo relata A Voz de Ermesinde, a proposta, além de unanimemente aprovada,
mereceu os parabéns à Câmara por parte de José Manuel Pereira (Coragem de Mudar) e uma declaração de Carlos Mota, presidente da Junta de Freguesia de Sobrado, que agradeceu a mesma aprovação. Um e outro apontaram a necessidade de estudar esta manifestação cultural, dotando-a de um corpus documental que ainda lhe falta, para que o seu reconhecimento possa atingir o grau mais elevado

terça-feira, julho 03, 2012

Sete notas sobre a festa de 2012


É sempre muito o que observo e aprendo com cada edição da festa. Este ano não foi exceção, ainda que tivesse tido de prestar mais atenção ao acompanhamento de alguns visitantes do que ao modo como decorreram algumas partes e às vivências em torno da festa.  Aqui vão algumas notas:

1.
- Bugios: São sempre impressionantes pelo número, pela cor, pela algazarra. Os 'sardões' estão a desaparecer, não estão? Alguém me dizia que os Bugios agora já não saltam com antigamente. Será? Será do calor? Costumamos dizer que são sempre para cima de 600. As aparências enganam. Pus-me a contá-los à entrada do 'jantar' e não chegavam a 400. Supondo que não falhei por muitos, mesmo assim é muita pessoa. Já agora: porque é que não pôde ir uma menina Bugia limpar as lágrimas ao Velho, como era desejo deste? Se elas vão de Bugio (que não é tradição antiga), porque não podem subir ao castelo?

2.
- Mourisqueiros: uma grande Mouriscada quanto ao número, não haja dúvida. Contei 44 mais o Rei. Alguns com ar de muito novos o que abre perspetivas para o futuro. Em algumas partes do dia, o cansaço era bem visível até nos postos cimeiros do 'exército'. Na Prisão do Velho houve algumas falhas, mas ninguém é perfeito. Não sou daqueles que exigem atuações sem falhas, embora estas possam servir de lição e estímulo para os que vierem a seguir.

3.
- Nas Entrajadas, para mim (e julgo que não só), se houvesse um prémio coletivo, ia diretinho para os Supermercados Pito Doce. Notável pelo trabalho, pela apresentação e pela criatividade. Em termos individuais, o observador da UNESCO, devidamente 'credenciado', foi também uma figura que se destacou.  Esta parte é sempre interessante. É uma parte constituinte da Festa, que importa não perder nem abandalhar. Mas faz parte ser crítico, ser criativo e ser polémico. Quanto à água, este ano 'provei' a valer, mas como estava calor soube bem. Não sou radicalmente contra, mas acho que se isto começar a descambar, grande parte das pessoas ir-se-á embora mal acabem as danças de entrada, o que jogaria contra os próprios grupos que investem nas Entrajadas. Fica aqui o apelo.

4.
- O arranque da festa na casa do Reimoeiro e do Velho é sempre um indicador precioso do carinho com que familiares e vizinhos recebem a honra de ter, por um dia, um tão saliente destaque na Festa de S. João. O arruamento do Caminho Novo tinha a abrir, a foto engalanada do Reimoeiro, como que a dizer que estávamos a entrar no seu território. O Velho tinha igualmente a casa engalanada, mas preferiram aproveitar para homenagear o S. João. E está bem. Foi aqui - ou seja, na Balsa - que ouvi um sobradense já com mais de 60 anos comentar, ao ver a Dança dos Bugios: "Sabes, fico doente a ver isto. Foram muitos anos a dançar. Mal cheguei aqui, comecei a vê-los, fiquei logo mal". Estranha doença esta que tem quem venha ao seu encontro, não é? (digo eu).

5.
- Fotografias e vídeos: este ano foram aprovadas algumas normas para que os fotógrafos não atropelem nem estraguem as danças. Já correu melhor do que em anos passados. Mas há ainda um longo caminho a percorrer. Alguns, às tantas, não sabiam do regulamento. Mas outros fizeram-se de 'alonso' e lá andavam feitos Bugios e Mourisqueiros sem farda. Os próprios Bugios e Mourisqueiros e, desde logo, o Velho e o Reimoeiro, devem ser os primeiros a impor ordem nesse aspeto. Quem quiser fotografar faz isso de fora do espaço da dança, sobretudo nos momentos mais importantes.

6.
- Comissão de Festas: em Sobrado não era novidade haver comissões constituídas só por mulheres. Creio que pelo menos já houve na Festa da Sª das Necessidades. Mas na Festa de S. João, que é território ainda muito masculino, foi a primeira vez, o que merece registo. A imagem que passou para o exterior foi de que formaram equipa e trabalharam equipa. E, como era de esperar, deram conta do recado. Entre outras iniciativas, a Comissão apoiou a edição de um livro ilustrado, da autoria de Francisco Costa, que só tive ocasião de encontrar alguns dias depois da Festa.

7.
- Câmara de Valongo: este ano investiu na Festa como creio nunca ter acontecido no passado. Algumas das iniciativas já foram aqui noticiadas. O (novo) Presidente da Câmara convidou homólogos seus (vi o Presidente da Câmara de Paredes, de Felgueiras, de S. João da Madeira, pelo menos). Estiveram também na Festa Presidentes da Junta do Município. Houve quadros superiores da Câmara que estiveram nos ensaios e durante todo o dia da Festa. Para os sobradenses e os munícipes em geral, é bom e salutar sentir esse interesse e esse investimento.Até porque no dia 24 à noite, começou a contagem decrescente para a Festa de 2013. E o ano que vem aí promete trazer novidades.

segunda-feira, julho 02, 2012

Não permitir a 'domesticação' da Festa



Foi um serão agradável aquele que reuniu há dias em Braga algumas pessoas ligadas à Universidade do Minho (mas não só) e alguns sobradenses, dois dos quais residindo há largos anos na cidade dos Arcebispos, e tendo como motivo o filme "Bugiadas", realizado por Ângelo Peres, em 1977.
A sessão teve início com o visionamento do vídeo promocional da Festa de S. João de Sobrado que esteve até este fim de semana no espaço do Turismo Porto-Norte, no aeroporto Sá Carneiro, em Pedras Rubras. Foi a forma de "abrir o apetite", por assim dizer. Seguiu-se uma sumária apresentação da festa e uma igualmente sumária apresentação do filme, feita pelo realizador, presente na sessão.
Após a projeção do filme, seguiu-se um período de comentários e debate. Deste é de realçar uma pergunta sobre se os reconhecimentos e registos a que a festa está a ser submetida e que poderão culminar com a candidatura a património imaterial da UNESCO não correrão o risco de rigidificar, domesticar e "turistizar" uma tradição com o seu lado irreverente, subversivo e crítico. A conversa foi no sentido de reconhecer que esse risco existe e existirá, mas que há também, em Sobrado, a consciência dele e a vontade de não se deixar domesticar ou tornar num produto para turista ver. Para tal, é importante continuar a apostar numa festa que é, antes de mais dos e para os sobradenses, o que não significa que não se cuide de acolher e tratar bem quem se interessa pela tradição e visita a vila de Sobrado.
É esse o desafio que fica desta sessão bracarense.
(Crédito das fotos: Ângelo Peres)

quarta-feira, junho 27, 2012

Filme "Bugiadas", de Ângelo Peres, apresentado e debatido amanhã em Braga

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Realiza-se nesta sexta e sábado (29 e 30 de junho), na Universidade do Minho, o Seminário Internacional “Narrativas e memória social – Abordagens teóricas e metodológicas”. Um programa de apresentação de documentários comentados, complementar ao seminário, decorre de hoje até sexta à noite na Casa do Professor, na Avenida Central, nº 106, em pleno coração da cidade de Braga, com entrada livre, organizado pelo Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (ver o programa completo AQUI.)
O visionamento do filme do realizador Ângelo Peres (Moviola, Porto, 1977) ocupa o serão de quinta-feira, 28, a partir das 21.30, o qual será acompanhado de um comentário e debate com os presentes. A sinopse publicada é esta:
QUI 28 JUN | 21:30 BUGIADAS de Ângelo Peres [Portugal 1977 37´], comentado por Manuel Pinto, investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho [entrada livre].

[Sinopse |
“Bugiadas” documenta a Festa da Bugiada e Mouriscada que se realiza anualmente na vila de Sobrado, no Município de Valongo, no dia 24 de Junho. Baseia-se numa lenda localizada no tempo em que os mouros invadiram a Península, e refere-se a uma imagem de S. João cujos poderes curativos eram disputados por um e outro campo. Os mouros são poucos e organizados, de cara descoberta e aspeto militar. Os bugios representam o lado subversivo e dionisíaco da vida, vão mascarados e empenachados e são às centenas. No intervalo das danças, que vão de manhã até à noite, decorrem várias outras manifestações de mascarados, a saber: cenas de crítica aos acontecimentos do ano, na terra, no país ou no mundo; o ritual da lavra da praça; e a dança do cego. A festa culmina, ao fim do dia, num combate entre as duas partes. O chefe cristão é derrotado pela força; mas, quando tudo parecia perdido, eis que os seus seguidores surgem de rompante com uma enorme serpe e o libertam das mãos dos mouriscos. Tanto bugios e como mourisqueiros terminam com a dança do santo, sem vencedores nem vencidos. Esta festa subverte e investe muitas categorias da vida corrente sobre o bem e o mal; coloca em cena a relação com o diferente e prescinde da palavra, comunicando através da dança e da música.]

terça-feira, junho 26, 2012

Já rola a preparação da festa de 2013

Com a entrega do ramo pela Comissão de 2012, ao cair do dia de S. João, estava passado o testemunho e iniciava-se a contagem decrescente para a Festa de 2013.
A Casa do Bugio assumiu a responsabilidade de organizar a próxima edição da festa no quadro dos contactos que têm decorrido com a Câmara Municipal e com a Junta de Freguesia, com vista ao registo nacional da Festa de S. João de Sobrado como património imaterial, bem como à instrução e preparação da candidatura a património da UNESCO. A colaboração entre as três entidades vai ter de ser intensificada e foi entendido que aquela seria a melhor solução para que todos os passos a dar decorram da melhor forma possível.
O mais importante é que já há Velho da Bugiada e Reimoeiro designados e isso significa que a tradição vai continuar, cada vez mais viva e com crescente qualidade.
Uma palavra de reconhecimento é devida à equipa de mais de 40 mulheres que integraram a Comissão de Festas de 2012 pelo trabalho realizado.

sexta-feira, junho 22, 2012

"Talvez a mais extraordinária Festa de São João e uma das mais expressivas manifestações da cultura popular portuguesa", afirma especialista brasileiro



"Talvez a mais extraordinária Festa de São João e uma das mais expressivas manifestações da cultura popular portuguesa" - é assim que classifica a Festa de Bugios e Mourisqueiros um dos maiores actuais especialistas de culturas populares do Brasil, que esteve em Sobrado na festa de 2011.
Trata-se de Osvaldo Meira Trigueiro, professor e pesquisador do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB, pesquisador da Rede Folkcom e membro da Comissão Paraibana de Folclore. Ele é doutorado em Comunicação pela UNISINOS/RS, jornalista profissional e "Folclorista Emérito do Brasil". Veio a Portugal para estudar as assim chamadas no pais irmão as "festas juninas", que nós aqui designamos por "festas dos santos populares". E desde logo comenta o que viu deste modo: "fiquei impressionado com a participação popular nas celebrações dos três santos do mês de junho em todo o país. É realmente uma das maiores festas populares dos portugueses, tão grande ou maior que o carnaval".
Este especialista brasileiro esteve presente nas festas de Santo António nos bairros lisboetas e veio, depois, a Sobrado. "Na Festa dos Bugios do Sobrado em Portugal, que fica a 15 quilômetros da cidade do Porto, o que assistimos foi uma festa rural de celebração do dia de São João com fortes características dos festejos carnavalescos da Idade Média", escreveu ele no seu blog FolkMídia.
E vê na festa sobradense pontos comuns com a festa do Divino Espírito Santo em Pirenópolis, no Estado do Goiás/Brasil, como sejam a luta imaginária de mouros e cristãos (a cavalo, no caso de Pirenópolis, como se pode ver na foto, abaixo); o uso de máscaras; e "a saída de blocos e troças que desfilavam pelas ruas da cidade com muita algazarra e críticas às autoridades civis e religiosas".
Para Osvaldo Trigueiro,"tanto as festas juninas como as festas de Corpus Christi teem as suas origens nas festas carnavalescas da Idade Média de celebração da chegada do verão no Hemisfério Norte e que chegaram com os colonizadores já adaptadas conforme determinava a religião cristã".
Noutra oportunidade farei alguns comentários a esta perspetiva, que, além de ser o olhar de um especialista, é uma visão exterior e, a um tempo distante e próxima o que lhe confere valor particular. Acrescentaria apenas que uma investigadora - Maria Joana Krom - está precisamente desenvolvendo um estudo de doutoramento na Universidade Nova de Lisboa, no qual analisa comparativamente três festas de lutas entre mouros e cristãos, uma festa espanhola, a festa de Pirenópolis e a Festa dos Bugios e Mourisqueiros, de Sobrado.

Para ler a peça completa do Prof. Osvaldo Trigueiro, clicar AQUI.


(Crédito das fotos: Osvaldo Meira Trigueiro)

quarta-feira, junho 20, 2012

Oportunidade: Ministério da Educação apoia projetos educativos

Há dias, escrevi aqui sobre a importância de o agrupamento de escolas pensar num projeto educativo que tenha por motivo a Festa de S. João de Sobrado.
O Ministério da Educação acaba de anunciar para o próximo ano letivo a instituição de prémios educativos de escola que, à partida, parecem articular-se bem com uma possível iniciativa em Valongo. Cito a notícia do site Educare:
"Trata-se de um prémio que pretende reconhecer quem contribui para aumentar a qualidade da educação. Vamos premiar boas práticas e o trabalho da comunidade escolar". Foi assim que o ministro da Educação, Nuno Crato, explicou qual a intenção de um novo prémio instituído pela tutela. O Prémio de Escola vai distinguir, todos os anos, os melhores projetos educativos e as melhores escolas do país do pré-escolar ao Ensino Secundário nas cinco áreas geográficas desenhadas no mapa educativo - Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve.(...)
Nuno Crato explica. "Iremos apoiar projetos científicos e culturais que consideremos relevantes. Esse apoio poderá ser feito ao nível da mobilização de professores, de material escolar ou, eventualmente, da realização de viagens". Não haverá dinheiro a circular.
(...)
O Prémio de Escola será anual e as candidaturas têm de ser apresentadas entre 1 de outubro e o último dia do primeiro período letivo de cada ano, numa página do site da Secretaria-Geral do MEC criada para o efeito. Os prémios da primeira edição serão entregues em maio do próximo ano. Guilherme de Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas e ex-ministro da Educação, preside ao júri do prémio".

terça-feira, junho 19, 2012

Video sobre a Bugiada na Loja de Turismo do aeroporto do Porto


Um video sobre a Festa de S. João de Sobrado integra a animação visual do recém-criada Loja do Turismo do Porto e Norte, a funcionar no aeroporto Francisco Sá Carneiro, em Pedras Rubras. A animação em que o vídeo se inscreve abre amanhã, quarta-feira e prolonga-se até ao fim do mês.
A iniciativa de divulgação através deste vídeo amador contou com o envolvimento ativo da Câmara Municipal de Valongo e inscreve-se, segundo se pode ler no site da Edilidade, "no âmbito do processo de candidatura da Bugiada e Mouriscada a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO".

Um número extra no programa deste ano



A tarde da véspera de S.João vai ser animada com um encontro-mostra de carros e motos antigos, o qual decorrerá no espaço nobre da vila (e da festa): o Passal. A iniciativa é da Comissão de Festas.
O programa, entretanto, arranca hoje à noite com o agrupamento musical Instintos Radicais.

segunda-feira, junho 18, 2012

Chuva: pode ser que não

Um fim de primavera meteorologicamente imprevisível e temperaturas baixas, para a época - assim tem sido o tempo nas últimas semanas. O ensaio final, de ontem, teve de ser feito no salão da Casa do Bugio e a carga de água que caiu foi forte. Mas é provável que não chova no S. João, se se confirmarem as previsões e se as do Porto (ver imagem) forem extensíveis a Sobrado. Pode ser que o S. Pedro dê uma ajuda.

domingo, junho 17, 2012

As escolas concelhias e o património imaterial da Festa

Esta é uma mensagem que dirijo em particular aos professores, dirigentes de agrupamentos, associações de pais das escolas do concelho de Valongo em geral e da vila de Sobrado, em particular:
As escolas estão a terminar um ano letivo e já a pensar naquele que aí vem. Como pode a tradição-mor de Sobrado fazer parte dos planos de atividades e da própria lecionação das matérias, nos vários ciclos de estudo, no âmbito do Concelho, mas particularmente no agrupamento da Vila de Sobrado?
Eu sei que alguma coisa já se vai fazendo. Ainda há dias ouvia a mãe de um aluno a falar de uma manifestação de fim de ano escolar relacionada com a Bugiada, e que exigia o uso de trajes.
Mas, tanto quanto julgo saber, nunca, até hoje, as escolas fizeram um trabalho em profundidade, pluridimensional, sistemático e envolvente de todos os parceiros educativos, tendo a Festa de S. João como motivo e como foco.
É verdade que ainda há pais (e provavelmente também professores e pais que são professores) que entenderão que a escola é para assuntos sérios, para estudar, para ensinar e para aprender e que era o que faltava gastar o pouco tempo que há com festas e folganças.


Nada mais errado, em minha opinião.  Esta Festa é um assunto sério.
Acham que é possível e correto, em Valongo e em Sobrado, falar em História das invasões árabes sem trazer para cima da mesa a festa da Mouriscada? Tratar a história e a geografia, sem aludir à Serra de Cucamacuca, à exploração do ouro, aos fojos, à lenda que está na base da festa?, ou, ainda, às indumentárias e vestígios históricos a elas associados?
É possível tratar trabalhar assuntos ligados às artes sem trabalhar as cores dos trajes, a natureza das músicas e dos ritmos da festa?
É possível abordar a educação física, o movimento e o corpo à revelia das danças, das coreografias, da resistência física?
Seria compreensível Sobrado sem a Festa da Bugiada e Mouriscada? Que importância tem a festa na vila, do ponto de vista da memória, da identidade, mas também do turismo, da economia, das relações sociais?
A resposta a todas estas perguntas- e muitas mais se poderiam fazer - é simples: possível é. Mas é desejável? É vantajoso?
Colocando a questão de outra maneira: será que, partindo, sempre que possível e adequado, da cultura local, dos conhecimentos dos alunos, dos contributos dos pais e avós, sob o comando dos docentes (claro está!) seria possível um ensino e uma aprendizagem mais motivadores e com mais sucesso, mais gratificante para os alunos e para os próprios docentes?
No momento em que, no plano concelhio, se está a preparar o registo nacional da Festa como património imaterial, condição para a eventual submissão ao reconhecimento como património imaterial da UNESCO, não seria compreensível que o Agrupamento de Escolas de S João não estivesse no coração deste processo, não apenas a apoiar, mas a participar ativamente, aquilo que lhe cabe e sabe fazer: ensinar, aprender, animar. Pelos sinais que já tenho visto, estou convencido de que vai estar e que vai ser um parceiro fundamental.
No momento em que se começa a programar o próximo ano letivo, é boa altura para pensar o que seria possível fazer, não apenas no âmbito extra-letivo, mas nas próprias aulas. Um bom projeto neste setor, além das vantagens que pode ter na escola e na comunidade, será um sinal de enorme importância na projeção externa da Festa. O modo como a festa se entrosa com a comunidade é um critério que é valorizado.
Seria necessário começar, desde já, a inventariar os recursos, iniciativas e apoios necessários, para viabilizar um tal desiderato.
(Foto: R. Roque)

sexta-feira, junho 15, 2012

Regulamento relativo à captação de fotos e vídeos no dia da Festa

Acabam de ser aprovadas normas para a colheita de imagens na Festa de S. João de Sobrado, as quais têm por objetivo principal permitir que as danças e outras manifestações decorram em de forma digna, sem atropelar os principais protagonistas da Festa.
Salvaguarda-se uma exceção para os jornalistas profissionais em serviço, os quais poderão circular livremente, desde que tenham obtido prévia acreditação e não perturbem as performances. Nas Danças de Entrada esta exceção não se aplica.
Têm poder para fazer cumprir estas normas os elementos da Direção da Casa do Bugio e da Comissão de Festas devidamente identificados, bem como o Reimoeiro, o Velho da Bugiada, os Guias, Meios e Rabos, além de, em geral, Bugios e Mourisqueiros.
Neste ano experimental, pede-se a compreensão e bom senso a todos, de modo a dar à Festa uma qualidade ainda maior.

Eis, então, o teor do Regulamento:


Regulamento relativo à captação de imagens
na Festa da Bugiada e Mouriscada


Com vista a contribuir para a qualidade e a salvaguarda das danças e outras manifestações que integram a Festa de S. João de Sobrado, são estabelecidas as seguintes normas:
1.     Todos poderão colher imagens no dia 24 de Junho, desde que não circulem pelo espaço ocupado pelos Bugios e Mourisqueiros aquando das respetivas danças nem perturbem os movimentos  de qualquer destes grupos. 
2.     Os jornalistas e operadores de câmara devidamente credenciados e em serviço para os respetivos meios de informação poderão circular no espaço das danças apenas o tempo necessário à captação de imagens, com excepção das Danças de Entrada e da Prisão do Velho.
3.     Poderá haver a facilitação de circulação de participantes em iniciativas organizadas em articulação com a Casa do Bugio, desde que sejam respeitados os princípios dos pontos anteriores.
4.     Para além da Direção da Casa do Bugio e de elementos da Comissão de Festas, devidamente identificados, têm poder para assegurar o cumprimento das normas constantes deste Regulamento o Reimoeiro, o Velho da Bugiada, os Guias, Meios e Rabos, além de, em geral, Bugios e Mourisqueiros.
5.     A Casa do Bugio e a Comissão de Festas não se responsabilizam pela deterioração de material ocorrida em consequência da realização das danças e outras tradições da Festa de S. João de Sobrado.
6.     Estas normas passam a vigorar a partir da edição da Festa de 2012, podendo ser revistas com base na experiência entretanto adquirida.


quarta-feira, junho 13, 2012

Um bolo de penacho !!!

Bolos da Né, de Valongo, colocou uma foto de perfil na página do Facebook "S. João com Tradição", que é exemplo de mais um  campo por onde se pode expandir a criatividade relacionada com a festa.
Já tinha visto pintura, postais, fotografias, filmes, lousas e outros objetos, mas não ainda a adoção das temáticas e do colorido da festa na arte culinária. É caso para registar: um bolo de penacho. Falta fazer, agora, o de barretina.

terça-feira, junho 12, 2012

Riqueza humana da Festa da Bugiada e Mouriscada



Já aqui fiz referência ao facto de a Festa de S. João de Sobrado não ser uma mera reconstituição histórica ou representação teatral, mas continuando a ser uma comunidade que se faz e refaz através dos rituais festivos. E, nesse processo, são também as pessoas que mergulham nesse "tempo fora do tempo", no qual se condensam o tempo histórico (dos mouros), o tempo cíclico (do solstício, da sementeira) e o tempo actual da comunidade e de cada participante (as vivências e sonhos de cada um, a dinâmica das relações sociais, as peripécias da terra e do mundo, visíveis, por exemplo, nas "entrajadas" de crítica social).
Uma vivência desta natureza decorre também, necessariamente, do facto de a Festa de Sobrado ser pautada por valores profundos e antropologicamente ricos. Permito-me sublinhar os seguintes:
  • a capacidade de rir de si próprio e de inverter ou subverter a ordem do quotidiano;
  • valorizar a memória e actualização de um tempo que não volta, mas que nos trouxe aqui;
  • dar a manifestações antigas um novo sentido atualizado nas condições da vida de hoje;
  • pôr em sã (ainda que tensa) convivência os mouros e os cristãos ("nós" e os "outros");
  • dizer a vida e os seus sonhos recorrendo mais à dança, ao gesto, à música do que à palavra;
  • superar a lógica primária dos bons e dos maus (afinal, aqui, quem são os bons e quem são os maus?).
Muitos mais aspetos haveria que referir, mas só estes dariam para um tratado, não abstrato, mas ilustrado por vivências, por histórias, por imagens e recordações, antigas e atuais.
Cada vez mais temos relatos de como decorre esta festa, o que se faz e como se faz. Mas faltam-nos os "porquês" e os "para quês". O estudo e a investigação podem dar um contributo importante. Mas esse contributo não pode prescindir ou menosprezar o que cada um vive, as motivações que tem para participar, o sentido que dá ou descobre na festa, o que aprende e testemunha.  Cada bugio, cada mourisqueiro, cada intérprete das restantes manifestações desta festa é que pode responder a esse desafio. Nâo basta responder que "é a paixão" ou "sempre foi assim" ou, ainda" que é para "cumprir a tradição". É mais do que isso. Cada um é que,pensando a sério na vivência que faz, pode ajudar a dar respostas a esses "porquês" e "para quês".
Uma sugestão a cada um ou a cada uma: porque não escrever uma carta ou um e-mail a um amigo que vive longe (ou mesmo a um amigo imaginário) e procurar responder, muito a sério, a estas perguntas: porque é que vou de bugio, de mourisqueiro, de cego, de lavrador, etc? Porque quero ser rei ou velho? Que aspetos importantes é que tenho descoberto e pensado, participando na festa?

quarta-feira, junho 06, 2012

O cartaz da festa de 2012


Aí está o cartaz da festa deste ano. Quem compare este e os cartazes dos útimos anos com os que se faziam há uma década para trás notará ceramente diferenças importantes. Não é fácil combinar a parte da animação e arraial com as tradições próprias do S. João de Sobrado que fazem esta festa diferente e única. Houve tempos em que esta especificidade mal se conseguia ver nos cartazes da festa, o que não tem acontecido em anos recentes e também não acontece este ano.

Duas notas à margem:
- Não valia a pena inserir os ensaios em futuros programas ? Afinal o seu carácter público dá-lhes uma visibilidade que talvez merecesse referência no cartaz. O cartaz deste ano dá o primeiro passo nesse sentido, incluindo o último ensaio que é também o Dia dos Tremoços .
- Alguém estará a guardar os cartazes dos diferentes anos? Eles são também, no seu papel, uma parte da memória da festa e da sua publicitação.

Actualização:
No programa da tarde da véspera de S. João, pelas 15 horas, inclui-se também uma concentração de carros e motos antigos.

terça-feira, junho 05, 2012

A Serpe também ali ao lado, em Penafiel




A bicha Serpe não existe nem aparece só em Sobrado. Quem quiser vê-la, pode ir amanhã à noite, dia 6 ou depois de amanhã à tarde, dia 7, à cidade de Penafiel. Com uma configuração diferente da que apresenta na Festa da Bugiada, a Serpe penafidelense surge no âmbito da Festa do Corpo de Deus (Corpus Christi), de grandes tradições em muitas localidades do país. De resto, ontem mesmo o bispo do Porto D, Manuel Clemente, que é também historiador, proferiu naquela cidade uma conferência sobre essas tradições e seu significado.
Vale a pena dar um salto a Penafiel para ver a Cavalhada, amanhã a partir das 20.30, na qual se integram os bailes tradicionais, que retratam profissões, cantares e danças de antigamente: os Bailes dos Ferreiros, Pedreiros, Floreiras, Turcos, Pauzinhos e Pretos. Estes mesmos bailes incorporam também, no dia de Corpo de Deus, a parte profana da procissão que percorre várias ruas da cidade, a partir das 17h30. O programa pode ser encontrado clicando aqui. Alguns destes "bailes" ou danças têm afinidades com as danças dos mourisqueiros de Sobrado, conforme realçou a investigadora austríaca Bárbara Alge, nos seus estudos de doutoramento.

Atualização em 6.6:
Já não tanto aqui ao lado, amanhã, Dia de Corpo de Deus, pode ver-se o espetáculo do combate entre S. Jorge e a Coca em Monção. A tradição não figura na procissão e tem lugar num recinto de terra batida designado Campo do Souto. A Coca é um outro nome para a serpe ou o dragão.
(um video pode ver-se aqui)
Ficheiro:Coca21.jpg

domingo, junho 03, 2012

Bugiada presente num encontro internacional em Braga

A Festa da Bugiada e da Mouriscada vai integrar o programa de um encontro internacional que decorre na Universidade do Minho no final deste mês, sobre o tema "Narrativas e Memória Social - Abordagens Teóricas e Metodológicas".
A sessão constará da apresentação do filme "Bugiadas", realizado por Ângelo Peres para a cooperativa Moviola, em 1977, seguida de um diálogo entre os participantes e o autor deste post, com a presença e participação de elementos da Direção da Casa do Bugio. Na altura serão mostrados igualmente alguns do trajes e adereços da festa de Sobrado. Terá lugar na Casa do Professor, no centro da cidade de Braga, a partir das 21.30h.
O seminário conta com a participação de investigadores de diferentes áreas das ciências sociais e humanas provenientes de diversas partes do mundo, com destaque para a América Latina, Europa e Ásia. O programa detalhado pode ser consultado aqui.

domingo, maio 27, 2012

A festa começa hoje a mostrar-se, nos ensaios públicos

A partir de hoje ao fim da tarde (sensivelmente pelas 18h), Mourisqueiros e Bugios vão para a rua. Mais propriamente para o Passal, que é o sítio e dia da semana em que terão lugar os quatro ensaios públicos que antecedem a Festa.
É a (primeira) prova para o Velho da Bugiada e o Reimoeiro começarem a mostrar o que valem, no seu papel de liderança e, afinal, para todos os outros ensaiarem os movimentos básico das danças.
Todos vão "à civil", mas, como adereços, os Bugios levam castanholas e vão acompanhados da "orquestra", enquanto os Mourisqueiros levam um pau a fazer de espadim e são acompanhados pelo caixa.
Nos bastidores dos ensaios, ocorrem decisões e escolhas importantes para o desenrolar da festa: a inscrição de interessados para certas funções (como colher os direitos, semear, gradar, lavrar, dança do cego, etc.). Há ainda outras tarefas que implicam mobilização de uma e outra formação que decorrem durante este período (reunir os espadins e as polainas, procurar a madeira para os castelos e respetiva construção, etc).
Ou seja: a festa de 2012, verdadeiramente, começou já, no dia em que decorreu a de 2011. Mas hoje é que ela ganha vida, com o surgimento em público dos seus principais protagonistas.

domingo, maio 20, 2012

Reconhecimento municipal é apenas o primeiro passo




O reconhecimento oficial da Festa da Bugiada como património cultural imateral de interesse municipal, que aconteceu na reunião da Câmara Municipal de Valongo na passada quinta-feira constitui um gesto e um momento de evidente interesse histórico local. Mas representa apenas o primeiro passo de um processo marcado por uma ambição bastante mais larga: o reconhecimento nacional e internacional.
Isso mesmo se depreende do texto da deliberação, que este blog conseguiu obter e que aqui partilha com os leitores interessados. Vejamos o que se refere nesse documento:
a) Em primeiro lugar, a Câmara não apenas aprovou aquela deliberação por unanimidade como unanimemente decidiu submeter o assunto a uma próxima reunião da Assembleia Municipal para que, se assim o entender, este órgão se associe também à deliberação já tomada.
Esta decisão encerra um significado especial. De facto, esta possibilidade, prevista na lei, permitirá uma tomada de consciência mais alargada e participada da relevância deste património imaterial e, associando-se o órgão à deliberação, dar-lhe-á uma dimensão e significado ainda maiores;
b) Por outro lado, com base no reconhecimento no plano municipal, poder-se-á passar para o plano nacional, aravés do pedido de inventariação da Bugiada como Património Cultural Imaterial a ser elaborado para apresentação ao Instituto dos Museus e Conservação.
c) Finalmente, como se refere no texto da deliberação, "o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial permite corresponder a um dos requisitos fundamentais impostos pela Convenção da UNESCO, para possível candidatura à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade".
Este último passo assume já uma dimensão política, porquanto supõe que o Governo português dê a sua anuência para que o processo seja apresentado na UNESCO. Mas o essencial é, certamente, o valor que encerra a Festa objecto deste processo e o modo como esse valor é vivido, concretizado e reconhecido pela comunidade local - em Sobrado, antes de mais, mas também no Município.
Procuraremos, em próximos textos, reflectir sobre os valores intrínsecos a esta festa, assim como sobre aqueles aspectos que tornam a Bugiada e Mouriscada muito mais do que uma mera tradição que se repete todos os anos.

quinta-feira, maio 17, 2012

Festa de S. João de Sobrado reconhecida como património imaterial municipal


A notícia é dada pelo site do Jornal Novo de Valongo:

A Câmara Municipal de Valongo, aprovou, por unanimidade, a celebração da Bugiada como Património Imaterial Municipal. Foi na reunião desta quinta feira e na discussão do assunto foram realçados vários aspetos importantes deste festa diferente e realçada a colaboração entre as pessoas da freguesia de Sobrado. A necessidade de criar condições para que as pessoas acompanhem toda a bugiada foi outro tema abordado. 

quarta-feira, maio 16, 2012

Maratona Fotográfica do Município dedicada à Bugiada

A Divisão de Cultura do Município de Valongo acaba de apresentar a iniciativa “Valongo: terra de tradições – 1ª Maratona Fotográfica”, dedicada, nesta edição inaugural, ao tema da Bugiada. O objetivo é, nomeadamente, "sensibilizar os participantes para as tradições do Concelho" e "contribuir para o aumento do espólio documental concelhio no que toca às suas tradições de base".
Podem participar até 20 interessados, desde que sejam maiores de 16 anos e se inscrevam, no site do Município ou presencialmente na Divisão de Cultura da Câmara, até 14 de Junho.
Segundo as Normas de Funcionamento desta Maratona Fotográfica dia 20 de Junho, à tarde, os participantes deverão levantar a respetiva credencial e, no dia da Festa,24 de Junho, devem de apresentar o comprovativo de inscrição, o documento de identificação (cartão de cidadão ou bilhete de identidade) e uma declaração assinada.
Os prémios são constituídos por materiais fotográficos e o júri é composto por "três pessoas de reconhecida idoneidade e competência na área da fotografia, para além de um membro da Comissão de Festas de S. João de Sobrado". A selecção e classificação das fotos terá por base, "designadamente, a qualidade técnica e a criatividade".
Os participantes não deverão vedar zonas ou interditar passagens e devem seguir todas as instruções dadas pelos responsáveis pelas acções da Bugiada assim como pelos organizadores da Maratona.
Ficha de inscrição: AQUI

Comentário:
O comentário que aqui publiquei ontem não podia vir mais a propósito (ver, a propósito, os comentários que estão a ser feitos na página do Facebook sobre a Festa). 
Entendo que esta iniciativa da Divisão de Cultura da Câmara Municipal é positiva. Os prémios não são especialmente convidativos, mas também é verdade que os tempos que correm não permitem grande desafogo económico. Além disso, não será pelo valor dos prémios que os amantes da arte fotográfica irão ou não aderir a esta oportuna iniciativa.
É também de sublinhar algum cuidado, que se observa no Regulamento, quanto às condições em que as fotos vão poder ser feitas. Mas conviria - é uma sugestão - que, a virem a ser definidas regras para a captação de sons, imagens fotográficas e de vídeo, que essas normas sejam distribuídas pelos concorrentes desta Maratona. Isso será facilmente conseguido através da colaboração entre a Casa do Bugio, a Comissão de Festas e os organizadores deste evento. 

terça-feira, maio 15, 2012

Há um assunto sobre o qual temos de conversar e decidir

É verdade: há um assunto relacionado com a Festa sobre o qual temos de conversar e decidir. Diz respeito às condições em que se desenrolam as danças, particularmente aquelas que decorrem na zona do Passal. Refiro-me à presença de câmaras de vídeo e máquinas fotográficas.
Algumas constatações:
  • nos anos mais recentes, com a vulgarização das máquinas de registo de imagens, aumenta o número das pessoas que quer ficar com recordações da festa. Isso, em si mesmo, é positivo. A festa é rica e tem um caráter público, pelo que não se pode nem deve impedir ninguém de fotografar ou filmar.
  • dito isto, também é preciso dizer que não é bom nem para a Festa nem para quem nela participa que haja pessoas 'civis' que se metem no meio das danças, a ponto de quase já não ser hoje possível captar imagens da Festa sem apanhar intrusos que estão onde não deviam estar.
As questões que se colocam são várias:
  1. Devem ou não ser instituídas regras sobre as condições em que se podem colher imagens?
  2. Essas regras devem aplicar-se a toda a gente ou, por exemplo, os jornalistas em serviço de reportagem devem ter um regime de excepção?
  3. Em qualquer dos casos, deverá haver ou não a necessidade de obter uma credenciação prévia, de modo a identificar quem está a trabalhar e o órgão de comunicação para quem trabalha?
  4. Tais regras devem ser gerais, isto é, aplicar-se a todas as danças, desde a manhã até à noite, ou apenas às que decorrem no principal espaço da Festa, ou seja, na zona do Passal?
  5. As regras devem aplicar-se em quaisquer circunstâncias ou apenas quando Bugios e Mourisqueiros estiverem a dançar?
  6. Que poderes devem ser atribuídos aos Bugios e Mourisqueiros na aplicação das regras de captação de imagens? E à Comissão de Festas?
  7. Como fazer para que Velho e Rei, Guias e Rabos e outros participantes, assim como a população em geral, incluindo visitantes, sejam informados dessas normas, caso venham a ser instituídas?
Contra mim falo, uma vez que sou dos que, há muitos anos, recolho imagens e sons da Festa. Mas sou o primeiro a submeter-me às regras que vierem a ser decididas, as quais devem ser razoáveis.
Parece-me que seria necessário que nos pronunciássemos sobre este assunto. Que déssemos respostas sobre se sim ou não devemos impedir que no meio da Bugiada e da Mouriscada andem 'civis' e em que condições. Também a Casa do Bugio, o Conselho de Velhos e os Mourisqueiros deveriam dar o seu ponto de vista nesta matéria. Sempre com o objectivo de termos uma Festa de mais qualidade, que dê ainda mais gosto ver e viver. Quem quer dar a sua opinião?

quarta-feira, maio 09, 2012

Bibliografia e webgrafia sobre a Festa da Bugiada



Algumas notas prévias sobre esta primeira tentativa de reunir informação escrita sobre a Festa de S. João de Sobrado:

- trata-se de um trabalho em curso, aberto e, por conseguinte, não acabado;
- reúne obras especificamente sobre a festa sobradense ou de que ela é parte constituinte, mas também algumas obras em que a mesma festa é objeto de referências mais ou menos detalhadas;
- incluem-se duas teses (uma de doutoramento e outra de mestrado) que não se encontram publicadas;
- há também referências a textos que só se encontram disponíveis na Internet.
- não se incluem aqui notícias de jornal ou de revistas de divulgação.
Todos os contributos para completar esta lista são, naturalmente, muito bem recebidos.
  • Alford, V. (1933) “Midsummer and Morris  in Portugal”, in Folklore, Vol. 44, n. 2. pp. 218-235
  • Alford, V.; Gallop, R. (1935) The Traditional Dance. London: Methuen & Co. Ltd (with illustrations of Bugiada)
  • Alge, B. (2006) Der ‘Mouro’ im Kollektiven Gedächtnis - Eine Studie von Tanzdramen in religiösen Festen Nordportugals. Tese de doutoramento em Etnomusicologia na Universidade de Viena (Áustria) (não publicada).
  • Alge, B. ( 2007)  “O ‘mouro’ como elemento comparativo em duas performances de mourisca em Portugal”, Revista de Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 47/1-4, 71-92
  • Alge, B. (2006) “A memória colectiva religiosa em danças dramáticas de Penafiel, Sobrado e Braga”, Revista da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, nº 18, Lisboa: Edições Colibri, 2006, pp. 403-423
  • Araújo, M.C.C (2004). Bugios e Mourisqueiros: o Outro Lado do Espelho. Dissertação de mestrado. Porto: Faculdade de Letras (não publicada)
  • Gallop, R. (1936) Portugal, a Book of Folk Ways. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 171 a 175
  • Loução, P. A. (2002) A Alma Secreta de Portugal. Lisboa: Ésquilo, 4ª edição, (capítulo  sobre a festa: pp. 391-404)
  • Machado, P. C.; Ferreira, H. (2002). Bugiada – Valongo. Mafra: Elo, Publicidade e Artes Gráficas.
  • Pereira, B. E. (1982) “Les Maures e les Bugios de Sobrado (Valongo)”, Revue de la société d’archeologie et des amis du musée de Binche, nº 5, pp. 34-44.
  • Pereira, B. E (1973) Máscaras Portuguesas. Lisboa: Museu de Etnologia de Portugal
  • Pinto, M. (2009) S. João de Sobrado - Valongo” - capítulo do livro Máscara Ibérica II. Lisboa: Progestur (edição bilingue português-espanhol), pp. 204-225.
  • “Festa da Bugiada”. Wikipedia, edição portuguesa (URL: http://pt.wikipedia.org/wiki/Festa_da_Bugiada).
  • Pinto, M. (2000) “A Bugiada: Festa, Luta e Comunicação”. Comunicação apresentada ao IV LUSOCOM – Encontro Lusófono de Ciências da Comunicação, realizado em São Vicente, SP/ Brasil, de 19 a 22 de Abril de 2000, subordinado ao tema Comunicação Intercultural - 500 anos de mestiçagem luso-afro-ásio-brasileira (URL: http://bocc.ubi.pt/pag/pinto-manuel-bugiada.html).
  • Pinto, M. (1985). “As Tradições mais Relevantes no Concelho de Valongo”, Vallis Longus, Revista Científica Anual da Secção de História e Arqueologia dos Serviços Municipais de Cultura e da Câmara Municipal de Valongo , Vol. 1, Agosto 1985, pp. 31-35.
  • Pinto, M. (1982) Bugios e Mourisqueiros – Subsídios para o Estudo da Festa de S. João de Sobrado. Valongo: Edição da Associação para a Defesa do Património Cultural do Concelho de Valongo (imagens do repórter fotográfico Armando Moreira).
  • Pinto, M. (2004 …) Bugios e Mourisqueiros, blog com mais de 300 posts, muitos dos quais de natureza reflexiva ou incorporando levantamento de matéria original sobre a festa e contando com mais de 35 mil visitas, esmagadoramente de Portugal e dos países de emigração (http://bugiosemourisqueiros.blogspot.com).
(Crédito da foto: Marjoke Krom)

sexta-feira, abril 27, 2012

"Vamos bugiar" - mais uma iniciativa da Comissão de Festas 2012

A Comissão de Festas de S. João de Sobrado promove no próximo dia 13 de Maio o 2º Rally Paper TT, designado "Trilhos de S. João" e no qual se podem inscrever, até 11 de Maio, jipes e motos. O rally será seguido de comezaina com porco no espeto, aberto a todos os que se inscreverem.
(clicar na imagem para ampliar).



sexta-feira, abril 20, 2012

Assalto à Casa do Bugio - prejuízos de muitos milhares de euros


Na noite de ontem para hoje, desconhecidos rebentaram uma porta do edifício-sede da Casa do Bugio, levando objetos cujo valor não está ainda calculado em pormenor, mas que se eleva seguramente acima dos 10 mil euros.
Logo pela manhã, um telefonema da escola de formação profissional que se encontra situada a escassos metros alertava responsáveis da casa do Bugio para o facto de haver uma porta com sinais de ter sido forçada. Uma vez no local, constatou-se que os assaltantes visaram apenas objetos metálicos em inox, nomeadamente talheres (mais de setecentos), travessas (mais de duzentas), terrinas e conchas da sopa (largas dezenas) e o cobre de um cilindro eléctrico de água quente.
A GNR foi chamada ao local, tendo posteriormente passado pelo edifício uma brigada especializada na recolha de outros elementos de investigação.
Escusado será dizer que a Direção da Casa do Bugio ficou consternada com a situação que ali foi encontrar.
A cerca de dois meses da Festa da Bugiada e Mouriscada, vai ser necessária uma solução de emergência que permita fazer face aos encargos da aquisição de equipamento que substitua o que foi roubado e permita consertar tudo aquilo que foi destruído. No entanto, segundo nos disse o presidente da Associação, "não existe disponível a verba necessária, do que foram despendidos, nos últimos anos, muitos milhares de euros na consolidação da estrutura do edifício e em outros melhoramentos".
Com o S. João à porta, se uma solução não fosse encontrada ficaria comprometido o jantar que é tradicionalmente servido pela Comissão da festa aos Bugios e aos Mourisqueiros, para não falar do lanche dos tremoços, no dia do último ensaio.

segunda-feira, abril 09, 2012

Luís Loira é o Velho deste ano; já foi eleito o de 2015

Em reunião havida há dias para eleger o Velho da Bugiada da Festa de 2015, os antigos Velhos da Bugiada escolheram Carlos Vicente, da Rua da Costa.
Como já informamos, em reunião anterior desta estrutura, foi decidido antecipar em três anos o conhecimento daquele a quem cabe exercer a função mais destaca na Bugiada. Assim, o  Velho deste ano será Luís Loira, a quem se seguirá, em 2013, Moisés Gândara e, em 2014 Fernando Dias.
Ficou, entretanto, prevista uma reunião para o fim do corrente mês, na qual os ex-Velhos vão reflectir e pronunciar-se sobre o modo como têm decorrido as danças, de modo a conferir-lhes uma dignidade e qualidade estética cada vez maior.

domingo, abril 08, 2012

Sobradenses voltam a juntar-se pela sua festa


A Comissão de Festas de 2012 volta a desafiar os sobradenses (e não só) para uma feijoada à transmontana, que terá lugar no dia 15, às 13 horas, na Casa do Bugio. Tempo para conviver (até porque se promete animação) e, por essa via, contribuir para a organização da festa deste ano.

Feijoada.JPG

sábado, fevereiro 25, 2012

Sinais locais da projeção da Festa

Sinais da repercussão da Festa de S. João de Sobrado no plano local/municipal:

  • Feriado Municipal: S. João
  • Unidade de Saúde Familiar de Sobrado: São João
  • Rua principal (e mais extensa) de Sobrado: S. João
  • Agrupamento Vertical de Escolas de Sobrado: S. João
  • Jornal do Agrupamento de Escolas: O Bugio
  • Principal festa de Sobrado: S.João [Padroeiro: Santo André]
(Se souber de outras referências, comunique-as por e-mail, pf)

domingo, fevereiro 19, 2012

Uma demissão "inabalável" da Comissão Administrativa da Junta, em 1937
Um caso que pode ter a ver com a festa de S. João

A história da Festa de S. João de Sobrado está, em grande medida, por fazer. E, deve dizer-se, não é tarefa fácil, já que não é uma tradição que se apoie, ao que se sabe, em grandes elementos escritos, a começar pela lenda, que é transmitida, em versões diferentes, de geração em geração. Mas difícil não quer dizer impossível e a verdade é que os arquivos onde se encontra a documentação sobre Sobrado ainda não foram passados a pente fino de forma sistemática.
Um desses sítios é o Arquivo Histórico Municipal de Valongo, que procedeu ao Inventário de grande parte do fundo documental  da Junta de Freguesia de Sobrado. E foi lá, precisamente que os técnicos daquele serviço encontraram um documento que pode ter interesse para a História da Festa de S. João de Sobrado. Trata-se de um ofício da Comissão Administrativa da Junta, datado de 27 de Junho de 1937 e relativo a uma reunião daquele órgão realizada no mesmo dia. É dirigido ao Administrador do Concelho e tem por objetivo nada mais nada menos do que pedir a demissão coletiva do órgão.
Essa medida drástica é tomada, salienta o ofício, "como protesto contra a atitude de um empregado dessa Câmara Municipal que teve a ousadia inqualificável de dar voz de prisão ao seu presidente".
A continuação do texto da missiva explica as circunstãncias e justifica a demissão:
"Porque há longos anos não cobrava esse Câmara direitos sobre os taberneiros, padeiros, doceiros, etc que ocorriam [sic] [a]os arraiais das romarias que no Largo do Passal, desta freguesia se realizam, entendeu o Snr Presidente desta Junta perguntar ao aludido funcionário quem o havia mandatado [para] proceder a tal cobrança, tendo sido nessa altura como dissemos insultado e ameaçado.Não obstantea muita consideração pela pessoa de V. Ex, é esta a resolução inabalável desta Comissão, tanto mais que sendo este Largo pertença exclusiva desta Junta, não compreendemos ou compreendemos mal que essa Câmara cobre direitos, nos arraiais que aí se realizam sem prévio conhecimento da mesma Junta.A Bem da Nação...".
Não sabemos se o pedido de demissão foi aceite ou se houve explicações e cedências e, consequentemente, recuo sobre a posição assumida. Deste documento, duas conclusões se podem, entretanto, extrair:
  • Apesar de o motivo imediato ter sido a arrogância e (aparentemente) má-educação do funcionário municipal, no modo como executou a ordem recebida, o fundo do problema parece ser uma imposição do Administrador do Concelho numa matéria em que a Junta entendia dever, pelo menos, ter sido ouvida;
  • O facto de o pedido de demissão ter sido tomado apenas três dias depois do dia de S. João aponta fortemente no sentido de que o facto que o motivou ocorreu no dia da Festa da Bugiada e Mouriscada e poderá (ou não) sugerir que a festa adquirira alguma projeção, do ponto de vista do número dos tendeiros e tasqueiros que se instalavam no Largo do Passal. 
(Poder-se-á perguntar por que razão uma posição deste tipo não ocorreu no dia imediato. Uma possível explicação é esta: no ano de 1937, o S. João caiu a uma quinta-feira. A sexta e o sábado eram dias normais de trabalho que, numa economia quase exclusivamente agrícola, é, nesta altura do ano, intenso. A reunião deste tipo de órgãos era então frequentemente feita ao domingo, como forma de não perturbar os trabalhos do campo).

NB - A grafia de algumas palavras do documento foi aqui atualizada.

quarta-feira, fevereiro 15, 2012

"Rituais de Inverno com Máscaras"


Para quem, nos próximos dias, andar pelos lados de Trás-os-Montes, fique sabendo que poderá visitar em Bragança a exposição "Rituais de Inverno com Máscaras". Está patente até dia 21 no Museu Abade de Baçal.

segunda-feira, fevereiro 13, 2012

As "Entrajadas" e as máscaras

A Comissão de Festas de S. João de Sobrado, com o apoio da Junta de Freguesia, promove no dia de Carnaval, à noite, um "Concurso de Entrajadas", que se junta, assim, ao ritual da Queima do Velho.
É de enaltecer a recuperação de uma palavra antiga que outrora se usava em Sobrado em duas circunstâncias. A primeira era precisamente no dia de Carnaval (e, não raro, também no Domingo Gordo), em que mascarados percorriam os caminhos e estradas da freguesia, vestidos de forma, digamos, anormal: homens vestidos de mulheres e vice-versa, pessoas com roupas do avesso, outras a imitar gente fina ou, ao contrário, maltrapilhos, etc.
A segunda situação em que se recorria - e continua a recorrer ao termo "entrajadas" é precisamente na Festa de S. João de Sobrado. É também protagonizada por mascarados e refere-se às cenas e representações de crítica social de situações escondidas, de acontecimentos anormais ou de problemas sentidos pela comunidade local.
Poucos dicionários trazem este termo e quando a trazem não é como substantivo mas como verbo. Dar realce à palavra é, assim, uma forma de preservar o património (neste caso linguístico) de Sobrado.
E vem a talho de foice: seria ótimo que se aproveitasse estas ocasiões para ensaiar a construção de máscaras mais originais. Se quisermos que a Bugiada venha a ser classificada como património imaterial vai ser necessário cuidar desse aspeto. A entrajada carateriza-se não apenas pelo vestuário, mas também pela qualidade e originalidade da máscara.

sábado, janeiro 28, 2012

"Queima do Velho" - iniciativa da Comissão de Festas2012


Vai ser no dia 21 de Fevereiro, dia de Carnaval, às 21 horas, no Passal. A Queima do Velho, uma tradição que vem ganhando maior dimensão nos últimos anos, volta a realizar-se como forma de festejar o Carnaval, de conviver e de angariar fundos para a organização da festa de S. João deste ano. A iniciativa é da Comissão de 2012 e é o seu primeiro evento deste ano.


quinta-feira, janeiro 26, 2012

Mouriscada: “Um dos mais notáveis rituais que sobrevivem na Europa moderna"

Neste post, gostaria de sublinhar alguns aspectos interessantes e curiosos que ressaltam do relato e análise da Festa de S. João de Sobrado feita por Rodney Gallup, no livro "Portugal, a Book of Folk Ways".
Importa observar, antes de mais, que o autor só viu uma parte da festa. Chegando a Sobrado, naquele S. João de 1932 (vai fazer agora 80 anos), pelas 18 horas, decorria aquela que hoje é conhecida como a Dança do Doce. A festa, tendo um certo aparato, era uma tradição pacata, não mobilizando, longe disso, as dezenas de milhares de pessoas que hoje movimenta. Era uma festa simples de aldeia, com meia dúzia de tendas alinhadas a um canto do Passal. Tudo o que o autor descreve relativamente ao que já se tinha passado até àquela hora deve-lhe ter sido contado por habitantes locais ou por quem conhecia a tradição de Sobrado.
É, além disso, interessante observar que, nesta festa, Gallop se sente sobretudo atraído pelos Mourisqueiros. De resto, seguindo uma tradição que também se encontrou em Sobrado, sempre designa esta festa por Mouriscada. Os Bugios são descritos como primitivos e rudes, menos marciais, aprumados e organizados do que o adversário.
Nas danças não se nota nada de especialmente relevante comparativamente com o que hoje ocorre. Apenas chama a atenção a “figura cómica vestida de fato-macaco azul e com uma máscara feita de cortiça”, que seguia o Reimoeiro pelo lado de fora das filas “imitando todos e cada um dos seus movimentos”. Esta figura cómica há muito desapareceu, se é que não se tratou de um caso isolado daquele ano.
Quanto aos trajes, é de referir os fatos de cor clara e os cintos vermelhos dos Mourisqueiros, bem como os trajes dos Bugios, muitos deles alugados em figurinistas de teatro do Porto. De destacar o caso do Velho da Bugiada que levava “um manto eclesiástico de rico damasco encarnado debruado a ouro, com uma dobra sobre os ombros”, escolhido “de entre as vestes ou adereços da igreja”.
As máscaras são um terreno importante em que se registam diferenças relativamente à atualidade. Não é que Galllop faça uma grande descrição sobre como elas eram. Apenas ficamos a saber que algumas representavam caras de animais. Nesta matéria, o que é de facto uma novidade é que o líder da Bugiada só colocava a máscara aquando da Prisão do Velho. Vale a pena chamar aqui a atenção para o facto de que o colocar a máscara significava que um outro momento/tempo iria ter lugar. Isso ainda hoje acontece, através da mudança de máscara, na parte da tarde.
Outra diferenças pode ser encontrada no texto aqui citado: o facto de haver dois embaixadores a correr as embaixadas (e não um, como vem acontecendo nas últimas décadas).
Rodney Gallop aventura-se nos difíceis caminhos da interpretação dos significados desta tradição popular. A sua visão tem a vantagem de provir de um profundo conhecedor das tradições musicais e de dança de diferentes partes do mundo. Destaca-se aqui a sua ideia de que as tradições do dia de S. João de Sobrado não nasceram todas ao mesmo tempo, antes são “um aglomerado de diferentes aspectos, os quais nem todos estiveram sempre ligados”. A outra ideia é que, para além daquilo que se vê – das danças e das lutas – o que se pretende tematizar e representar são os mistérios da sementeira e da fertilidade da terra, a luta pela subsistência, a morte e a ressurreição.
O autor sugere também que aquilo que se vê nesta freguesia pode ter tido inspiração em tradições como o S. João (ou o Corpus) de Braga, nas danças de espadas que surgem em várias outras tradições portuguesas e estrangeiras (recentemente estudadas por Barbara Alge) ou em tradições anteriores, que tenham dado origem a todas estas .
Nos adereços dos Bugios vê Gallop vestígios de “agrupamentos medievais de dançarinos” (assim como poderíamos dizer que os adereços dos Mouriscos se ligam a algumas fardas das tropas napoleónicas dos inícios do século XIX).
Seja como for, é tudo isto que, para este autor inglês, faz do S. João de Sobrado “um dos mais notáveis rituais que sobrevivem na Europa moderna".

(Crédito da foto:  Marjoke Krom , 2007)

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Origens e filiações da festa de Sobrado

Prosseguimos e terminamos a parte dedicada por Rodney Gallop à Festa de S. João de Sobrado, no seu livro, editado em 1936, "Portugal, a Book of Folk Ways":
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Uma tão complexa representação/performance como é a Mouriscada apresenta um certo número de dificuldades para o estudioso do folclore. Na sua forma actual,  ela é claramente um aglomerado de diferentes aspectos,  os quais nem todos estiveram sempre ligados. Trata-se, em primeiro lugar - e isso parece seguro -  de um ritual de fertilidade agrícola. A altura do ano desta performance fornece ampla prova disso mesmo e a confirmação advém de uma manifestação paralela bem curiosa, que tem lugar ao princípio da tarde. Depois de os Mouriscos e Bugios terem feito a sua entrada solene na aldeia (1), mas antes de começarem as suas danças, um dos Bugios anda pela aldeia montado num pequeno cavalo, sentado ao contrário, e lançando sementes de linho (2). O mesmo terreno por ele percorrido é, de seguida, gradado e, depois, lavrado, com dois burros cuja canga é colocada por baixo, de modo que fica dependurada por baixo do pescoço. Antes de chegarem à zona verde do largo, o arado tem de estar feito em pedaços. Tudo isto é feito em ordem inversa e parece ser um processo de 'magia imitativa' que actua por inversão. Os Mouriscos e a Serpe devem ter sido herdados da procissão de Braga ou de algum cerimonial anterior que tenha dado origem a ambos. Os primeiros são seguramente  um grupo de dança de espadas cuja representação ainda é associada à teatralização da morte e ressurreição, que bem pode ter sido a razão original da respectiva existência. Os adereços que os Bugios trazem parecem relacioná-los com agrupamentos medievais de dançarinos; contudo os seus trajes e movimentos grosseiros ligam-nos a outros dançarinos rituais (3), como os Noirs das Mascaradas bascas, enquanto que as suas máscaras de animais e o rei não mascarado se assemelham à festa dos rapazes de Bragança. O nome que lhes dão não ajuda a esclarecer a questão: o seu significado primeiro  é macaco, enquanto que o significado secundário é pantomineiro ou bufão (4).
Falta explicar a batalha entre os dois exércitos. Foi dito atrás que entre as danças que cairam em desuso em Arcozelo da Serra havia uma que simulava um combate entre portugueses e espanhois. Um britânico há muito residente no Porto disse-me que na sua juventude não era de todo invulgar nas zonas rurais à volta da cidade encontrar grupos de mascarados a representar uma batalha entre Mouros e Cristãos. Tais simulacros de combate são também conhecidos noutros países. A Moreska da Damácia é um desses casos e tais batalhas são frequentemente o número principal das representações de danças mouriscas. A opinião local explica invariavelmente que tais danças surgiram para celebrar a vitória em guerras contra os Mouros. Mas é muito mais provável que elas se relacionem com batalhas rituais entre o Verão e o Inverno, de que um exemplo sobreviveu até um pouco mais de um século atrás tão perto de nós como a Ilha de Man, o que só pode ser explicado como um ritual agrícola de magia por simpatia, em ordem a assegurar o triunfo da vegatção sobre o definhamento.
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Notas do texto:
(1) São recebidos à porta do adro pelo sacristão, com uma caldeirinha de água benta que entrega a cada um dos reis juntamente com um ramo de oliveira com o qual estes últimos aspergem os seus homens ajoelhados.
(2) Apesar de ser linho, ele chama-lhe milho, sendo difícil de dizer se há algum significado especial por detrás desta troca.
(3) Na procissão do Corpus Christi de 1621, no Porto, "os pedreiros, canteiros e obreiros com o seu Rei e Estandarte davam uma dança, bem trajados, na forma de bugios, com instrumentos musicais que era costuma usar nessa dança" (Sousa Viterbo, Artes e Artistas em Portugal, p. 245). Vale a pena referir que  Sobrado fica perto das minas/pedreiras de Valongo.
A procissão que se fez em Lisboa, em 1619, em honra de Filipe II de Portugal e III de Espanha incluiu danças em que actuaram bugios (macacos) e papagaios. O uso da palavra espanhola monos (macacos) no poema escrito por Francisco de Arce nessa ocasião confirma a tradução acima de bugios (cf op. cit. pp. 250-5)
(4) Vale a pena referir que nesta representação  parece haver as duas danças cerimoniais distinguidas em  Orchésographie the Morisque and the Bouffons ou Dança dos Loucos, de Arbeau (séc. XVIII).