quinta-feira, julho 26, 2007
Será correcto o que se passou este ano na Prisão do Velho?
Será correcto interromper um ponto alto da festa, por razões que, ainda que a ela ligadas, são estranhas à 'solenidade' do momento?
O assunto deste apontamento prende-se com o que se passou na Prisão do Velho deste ano e que deveria fazer pensar todos os sobradenses que apreciam a festa de S. João. Não há memória de algo semelhante ter ocorrido no passado. Recordemos:
Como é hábito, quando Mourisqueiros e Bugios subiram aos respectivos castelos, um locutor pegou no microfone e começou a relatar a lenda que está por detrás da festa, através da instalação sonora instalada no Passal.
Até aqui, nada de especial. A dada altura, os 'canhões' começaram a troar de um lado e do outro, enquanto o cavaleiro 'corria as embaixadas'. Quando se acabou a pólvora no palanque dos Bugios, os Mouros atacaram e, à terceira tentativa, o Reimoeiro penetrou no reduto cristão, de ar duro e espada em riste. Como é de praxe, arrancou as bandeiras adversárias e passou-as aos seus guias.
E foi quando, pela instalação sonora, o locutor anunciou que se ia fazer uma pausa e começou a apelar ao Velho e ao Rei que suspendessem as movimentações, para todos ouvirem o que ele próprio, locutor, tinha para dizer. Disse e repetiu várias vezes o apelo, mas não foi ouvido; e a representação prosseguiu normalmente.
Para quem sabia que, na manhã do próprio dia de S. João, tinha ido a enterrar um prestigiado bugio sobradense - o Lindoro da Ribeira - não era difícil imaginar que a pretendida interrupção se destinava a homenageá-lo (isto apesar de já lhe ter sido prestada homenagem por Bugios e Mourisqueiros, no começo do 'jantar', a meio da manhã).
Ouviram-se pessoas a protestar por considerarem que aquele apelo era ali deslocado e até 'obsceno'. Alguém que me comentou esse caso comparou a situação com um desafio de futebol, em que, no momento em que um avançado corresse isolado para a baliza adversária, o árbitro tentasse parar o jogo para homenagear um jogador que tivesse falecido. É uma comparação discutível, mas que levanta um problema importante: num momento que poderíamos considerar sagrado, será legítimo alguém de 'fora da representação' ousar impor a suspensão do acto, mesmo em nome de um motivo nobre?
Deixo o assunto à consideração dos leitores.
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5 comentários:
Claramente despropositado. Valeram o bom senso do Velho e do Reimoeiro - teria sido um momento negro para a História e até susceptível de alimentar algumas anedotas...
Tudo tem hora e local apropriados, a homenagem ao Lindoro da Ribeira foi feita ( com toda a lógica) à hora do almoço, quando ambas as tropas lhe dedicaram um minuto de silêncio, foi sentido e emotivo. O resto foi o que chamo " tiro no pé", que só não foi no pé mesmo porque houve quem tivesse bom senso. No entanto, esta situação levanta outra questão, o orador, no caso a escolha adequada do orador. De referir que este ano ficou muito aquém, não se coibindo de " mandar calinadas" a torto e a direito, mostrando não só um profundo desconhecimento da festa, como também uma falta de respeito com os participantes, a situação do " façam uma pausa" foi só apogeu das baboseiras ditas. Fica uma questão, porquê que não se aposta numa pessoa que saiba o que está a fazer, fazendo-o com cabeça tronco e membros, para mim, sobradense, o ano passado foi um exemplo. A pessoa que lia, fazia pausas, entoações, emoção e acima de tudo tinha um texto bem construído, e o mais importante, quando a música da " paixão" tocava não se ouvia a voz por cima. Este ano, perdoem-me mas deixou muito a desejar.
Embora fosse da maior justiça ser-lhe feita tal homenagem, o timing não foi de todo o mais adequado.
Não concordo quando diz: "(isto apesar de já lhe ter sido prestada homenagem por Bugios e Mourisqueiros, no começo do 'jantar', a meio da manhã)". Apesar de já, não! Que só isso é muito pouco comparado com aquilo que ele de facto merece.
Este ano por motivos pessoais não pude assistir à tão emocionante prisão do Velho, mas concordo que o momento escolhido pelo orador para homenagear o senhor Lindoro não foi o melhor!
Quanto ao facto de se apostar numa pessoa que saiba e conheça a tradição da festa, deixo a sugestão de, em anos vindouros quem sabe o orador da festa possa ser o senhor Manuel Pinto.
Sílvia
Foi dorido ouvir aquele repetido "Façam uma pausa".
Claro que a pesoa em causa era bem merecedora de tal homenagem. A que lhe fizeram foi parca.
Essa era, na minha opinião, uma boa altura para lhe prestar um reconhecimento público mais abrangente. Não a meio da prisão...no início, talvez...para não quebrar o ritmo da estória.
Abraço.
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