Jantar - Parece um contra-senso, mas no S. João Sobrado, janta-se de manhã. O 'banquete', que remete para o banquete da lenda da Festa, acontece por volta das 9h30 e é bem necessário para quem vai fazer um esforço hercúleo de dançar um dia inteiro, sob um sol por vezes escaldante, com máscara e sob roupas pesadas e quentes. Menu: canja, cozido à portuguesa e, antes de tudo, muito refresco. Mourisqueiros e Bugios comem em lugares separados e pouco tempo coincidem no mesmo local: quase só o tempo suficiente para um primeiro gesto de animosidade: de cada lado, o rei envia uma delegação ao outro lado, com uma giga de ofertas onde constam ossos, cornos, toros de hortaliça crua, cascas de batata, entre outros mimos. Desde a construção da Casa do Bugio, é aí que decorre este repasto, antecedido e seguido por danças. Outrora esta refeição tinha lugar na casa do juíz da festa ou em algum espaço por ele arranjado.
Juiz - É alguém que se dispõe a organizar a Festa no ano seguinte, constituindo uma comissão de colaboradores e presidindo aos respetivos trabalhos.A lista dessas pessoas é, por norma, anunciada no final da missa de festa do ano anterior e as funções de juíz cessam formalmente ao transmitir o cargo à Comissão seguinte, sinbolizada na entrega de um ramo, acompanhado pela banda de música, no adro da igreja paroquial. Nos últimos tempos, tem havido um sobradense há décadas radicado no Brasil - Generoso Ferreira das Neves - que, por promessa, tem sido o Juíz de cinco em cinco anos, nos anos termimados em zero ou em cinco.
Lavra da Praça - É uma das partes em que se estrutura a Festa de S. João de Sobrado. É constituída por quatro manifestações, todas elas ritualizando - em ordem inversa à natural - fases dos trabalhos agrícolas: colher os 'dreitos', semear, gradar e lavrar. Decorrem a partir das 15h00, partindo e regressando de uma casa particular, em Campelo, com percurso pelo Passal. Os papeis são executados por lavradores mascarados, apoiados por uma junta de jumentos. Em rigor, não tem muito que ver com a Bugiada e Mouriscada e as suas características levaram alguns antropólogos a formular a hipótese de que as partes da Festa sobradense não estiveram sempre associadas no mesmo dia.
Máscara - O mesmo que careta. Este disfarce e instrumento de transfiguração tem um lugar central na festa e é utilizado em todas as manifestações e por todos os intervenientes, com exceção dos Mourisqueiros. Acreditava-se que a máscara confere capacidades e poderes especiais a quem a usa e há histórias locais que o documentam. Merece aqui destaque um pormenor que passa despercebido a muita gente: todos usam a mesma máscara no dia da festa, com uma exceção: o Velho da Bugiada. Este usa uma máscara alegre da parte da manhã, e uma máscara de cunho trágico da parte de tarde, associada à perseguição e captura de que será objeto.
Mata-bicho - Era o copo de agua-ardente, mais umas bolachas, que em tempos passados, cada rei dava aos seus 'homens', quando estes se dirigiam, ao romper do dia, às respetivas residências, para uma saudação e uma dança. Hoje o mata-bicho é um pouco mais abundante, com doces e salgados, e bebidas de vários tipos.
Meios - É o par de Mourisqueiros que dançam a meio das filas da Mouriscada. Os dois dançam com os que lhes estão à ilharga, dançam entre si e dançam com o Reimoeiro quando, a certa altura da dança, são 'batidos' por ele. Por norma, entrar como Meio significa iniciar um percurso ascendente que leva, sete anos depois, a chegar a Reimoeiro. Dada a dimensão da Bugiada - largas centenas de participantes - não existe o lugar de Meio.
Mouriscada - É o conjunto dos Mourisqueiros, sob o comando do Reimoeiro. Está estruturada em duas filas, com dois Guias à cabeça, dois Rabos na extremidade e dois Meios, como o nome indica, a meio. O facto de serem apenas jovens solteiros, de usarem espada, polainas e uma barretina semelhante à que usavam as tropas napoleónicas confere aos Mouriscos um ar militar e de tropa bem organizada.
Mourisqueiro - É o membro da Mouriscada. Só podem ir de Mourisqueiros jovens solteiros. Nos tempos em que a estrutura da comunidade local assentava na economia agrícola e em que havia casas de lavradores, mais ou menos abastadas, caba a cada casa destas 'apresentar' um Mourisqueiro.
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